MBS tenta mostrar que na Arábia Saudita é "business as usual"
Russos e chineses compensam ausências americanas e europeias numa conferência de investimento. Mas cada tentativa do regime lidar com a morte de Khashoggi parece fazer ricochete.
O regime saudita tentou mostrar uma fachada de business as usual durante a Future Investment Initiative, a conferência internacional de investimento em Riad, com o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, a discursar num painel numa sala em que as ausências europeias, americanas e de organizações internacionais, do FMI ao Banco Mundial, foram compensadas por mais presenças russas e chinesas, segundo o jornalistas presentes dos media britânicos BBC e Financial Times.
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O regime saudita tentou mostrar uma fachada de business as usual durante a Future Investment Initiative, a conferência internacional de investimento em Riad, com o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, a discursar num painel numa sala em que as ausências europeias, americanas e de organizações internacionais, do FMI ao Banco Mundial, foram compensadas por mais presenças russas e chinesas, segundo o jornalistas presentes dos media britânicos BBC e Financial Times.
As atenções focavam-se no que faria ou diria Mohammed bin Salman, mais conhecido como MBS, depois de na véspera o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter interpelado directamente os sauditas com uma série de questões concretas em relação ao assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, morto há mais de três semanas no consulado saudita em Istambul: o que estavam a fazer agentes sauditas naquele dia na cidade turca, quem os enviou, porque as versões dadas pelo reino foram todas tão diferentes quando era claro que tinha havido uma morte e, finalmente, onde está o corpo.
O príncipe herdeiro optou por não ignorar a questão, mas não respondeu a nada. Disse que era “doloroso”, e garantiu que "os culpados são ser castigados" e que "vai ser feita justiça".
Depois disse que o que está a acontecer é uma tentativa de “criar divisão” entre a Turquia e a Arábia Saudita, mas “isso nunca acontecerá enquanto houver um rei chamado Salman bin Abdulaziz, um príncipe chamado Mohammed bin Salman, e um Presidente turco chamado Erdogan”. Curiosamente, na véspera Erdogan apenas mencionou o rei Salman, nunca se referindo ao príncipe herdeiro.
Tentando dar uma nota de boa disposição na conferência, já depois de ter sido muito aplaudido no final da sua nota introdutória, MBS ainda fez uma brincadeira com Saad Hariri, o primeiro-ministro libanês, sentado ao seu lado no painel. “Está há dois dias na Arábia Saudita, espero que não haja rumores de que foi raptado.”
Foi uma referência a um episódio do final do ano passado, quando Hariri, durante uma viagem a Riad, anunciou a sua demissão em directo na TV saudita. No Líbano, e no mundo, crescia a sensação de que o primeiro-ministro libanês estava impossibilitado de sair – acabou por regressar a Beirute apenas depois de uma intervenção do Presidente francês, Emmanuel Macron, e reverteu a sua decisão.
Segundo informação obtida pela Reuters, o mesmo conselheiro de MBS que supervisionou a pressão sobre Hariri para que este anunciasse a demissão esteve ligado agora à operação em Istambul contra Khashoggi (haverá registos de uma chamada por Skype do consulado para o conselheiro).
"Mau conceito", diz Trump
Um artigo do Financial Times sobre a conferência notava que apesar de ter havido vários memorandos de entendimento para negócios, estes envolveram sobretudo o sector do petróleo e do gás, quando a ideia de MBS para esta conferência seria precisamente conseguir mais investimento noutras áreas, para diversificar as fontes de rendimento da economia saudita.
Isto acontece depois de MBS divulgar uma imagem de um encontro com familiares de Khashoggi, em que ele aperta a mão ao filho do jornalista morto, o que foi visto em geral como uma acção de relações públicas que resultou contra o príncipe.
Na estação de televisão norte-americana CNN, o jornalista especialista em relações internacionais Nick Paton Walsh classifica a tentativa de mostrar empatia como “uma demonstração notável da catastrófica falta de sintonia entre Riad e o mundo exterior”, onde se sabe que o filho de Khashoggi não pode sair do reino: a liderança saudita “ignorou que muitos vêem Jamal Khashoggi Jr. como um homem proibido de viajar, por isso forçado a estar ali”.
Dos EUA, o Presidente Donald Trump continua a dizer que vai esperar informações (a directora da CIA viajou para a Turquia no início da semana para acompanhar as investigações). Mas fez a sua declaração mais directa sobre MBS quando questionado, pelo Wall Street Journal, sobre um possível envolvimento do príncipe herdeiro no assassínio: “Bom, o príncipe é quem está a gerir as coisas lá. Por isso, se tiver de ter sido alguém, terá sido ele”.
Trump descreveu ainda a operação em que o jornalista morreu de um modo muito particular: “O conceito original era muito mau, foi mal executada, e o encobrimento foi um dos piores da história dos encobrimentos”, disse, referindo-se aparentemente à versão saudita de que o plano era levar Khashoggi para a Arábia Saudita e que este foi morto quando começou a correr mal. “Onde é que devia ter parado é a questão”, disse ainda o Presidente dos EUA.
Trump tem-se recusado a discutir a suspensão de vendas de armas à Arábia Saudita, assim como França ou Espanha. Mesmo a Alemanha, que anunciou uma suspensão e pediu aos seus parceiros europeus para fazer o mesmo, disse esta quarta-feira que não era claro o que iria fazer em relação a exportações de armas já aprovadas mas não entregues.