Quercus espera que abandono de mina de urânio leve ao fim da exploração em Salamanca

Além do projecto de Alameda de Gardón, a empresa tem também a mina de Retortillo, situada a cerca de 40 quilómetros da fronteira portuguesa.

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Joana Goncalves

A Quercus saudou nesta terça-feira o abandono do projecto da mina de urânio em Alameda de Gardón, próximo da fronteira portuguesa, e espera que seja um primeiro recuo no "vasto projecto" da exploração a céu aberto em Salamanca.

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A Quercus saudou nesta terça-feira o abandono do projecto da mina de urânio em Alameda de Gardón, próximo da fronteira portuguesa, e espera que seja um primeiro recuo no "vasto projecto" da exploração a céu aberto em Salamanca.

O Governo espanhol confirmou na segunda-feira o abandono do projecto da mina de urânio em Alameda de Gardón, a cerca de dez quilómetros da fronteira com Portugal, explicando que a empresa promotora não tinha apresentado a documentação necessária para poder avançar com o projecto.

Apesar de ainda não existir nenhuma infraestrutura no local, a mina de Alameda de Gardón é um dos três planos mais avançados da empresa Barkeley, que tem um "muito vasto projecto" para Salamanca, contou à Lusa Nuno Sequeira, da direcção da Quercus. No total, estão previstos 450 hectares de minas de urânio naquela região, acrescentou.

A mina de Alameda de Gardón é a que fica mais próxima de Portugal, mas ainda não tinha saído do papel. Agora recebeu luz vermelha do Governo espanhol por falta de documentos e processos, tais como o estudo de impacto ambiental. "É uma boa notícia", sublinhou Nuno Sequeira, apesar de lamentar que não seja uma decisão política do Governo, mas sim uma decisão técnica.

A Quercus interroga-se agora sobre a razão pela qual a empresa não entregou a documentação necessária: é uma estratégia para só avançar com alguns dos projectos que tem em mãos ou será que vai abandonar todos os projectos no local? "Temos a esperança que seja o primeiro de vários recuos da empresa naquela região", concluiu.

Além do projecto de Alameda de Gardón, a empresa tem também a mina de Retortillo, situada a cerca de 40 quilómetros da fronteira portuguesa.

Este é o projecto mais avançado, contou o representante da Quercus, lembrando que "já houve abate de milhares de árvores, remoção de terras, já foram construídas estradas e montadas grandes estruturas, escritórios e maquinarias".

Por estar mais adiantado, Retortillo também tem sido o nome mais falado nas manifestações de ambientalistas portugueses e espanhóis.

Ainda no fim de semana, mais de duas mil pessoas manifestaram-se em Vitigudino, Salamanca, contra a exploração de urânio naquela região, segundo a organização do protesto promovido por empresários de pecuária, que contou com o apoio da plataforma Stop Urânio e de mais 42 câmaras municipais do oeste da província de Salamanca.

Em Março deste ano, a Assembleia da República aprovou sete resoluções, de todas as bancadas, com recomendações ao Governo português para adoptar medidas junto do executivo espanhol no sentido de suspender a exploração em Salamanca.

Dois meses depois, os ministérios portugueses do Ambiente e dos Negócios Estrangeiros anunciaram que Portugal seria envolvido no processo.

Também a Agência Portuguesa do Ambiente já veio alertar para os efeitos ambientais significativos em Portugal daquela exploração.

A Quercus espera agora que o novo Governo em Espanha não dê autorização para o avanço destes projectos, assim como tem esperança que este seja "um primeiro passo para que a indústria do nuclear comece a trilhar o seu caminho rumo ao fim e que as centrais nucleares em Espanha encerrem no final da sua licença de exploração, que no caso da Central Nuclear de Almaraz, é em Junho de 2020".

Nuno Sequeira voltou a lembrar alguns dos impactos destas explorações, que vão desde o abate de milhares de azinheiras ao risco de contaminação atmosférica com poeiras radioactivas assim como da contaminação do rio Douro e dos solos com metais pesados.