Por que não chamou o embaixador em Riad, senhor ministro?
Todos se lembram que Santos Silva chamou o embaixador português em Moscovo por causa de uma tentativa de assassinato de um espião russo.
Como todos os regimes totalitários e absolutistas, os seus dirigentes ensimesmam-se de tal modo nos seus interstícios de terror, que se convencem que podem fazer o que lhes convier que o mundo acabará por se render à sua realidade.
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Como todos os regimes totalitários e absolutistas, os seus dirigentes ensimesmam-se de tal modo nos seus interstícios de terror, que se convencem que podem fazer o que lhes convier que o mundo acabará por se render à sua realidade.
Após o desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi, os dirigentes sauditas declararam que ele tinha saído do consulado onde fora para tratar dos papéis do seu casamento com uma cidadã turca.
Logo se soube que não era verdade, pois que um esquadrão de assassinos sauditas enviado de Riad, nesse dia, o tinha assassinado. Riad esperava que o assunto morresse à medida que o tempo passava.
Só que o tempo às vezes em vez de enterrar assuntos dá-lhes mais força e não os abandona à vontade dos ditadores. O mundo sonolento tem estremeções e desperta com ímpeto surpreendendo.
Os dirigentes do reino dos sabres mediram mal o seu desprezo pela civilização e os direitos humanos. Acreditavam que o assassinato de Khashoggi os deixavam livre de uma caneta incómoda, só que o seu assassinato mostrou ao mundo o reino de terror que impera em Riad. O grau da perfídia rasa o inimaginável, só compaginável com personagens sinistras, próprias das tragédias do genial William Shakespeare.
Os dirigentes de Riad deram carta-branca aos sicários especialistas em fazer desaparecer corpos humanos. Enviaram-nos ao consulado. Cumpriram a missão. Pois bem, após negarem que ele ficara no interior do consulado, assumem que houve uma luta corpo a corpo e que Khashoggi morreu estrangulado.
Mas por que razão um homem que vai buscar documentos para se poder casar se envolve numa luta tão violenta que morre estrangulado? Se ele temia que o matassem e, por isso, abandonou a Arábia Saudita?
Os que serviram para cumprir ordens são agora os únicos culpados, sem mandantes por um crime cometido num país estrangeiro. Podem vir até a decapitar os executores materiais do crime para que as suas línguas não falem, mas ninguém acreditará que agiram por sua conta num país em que tudo é milimetricamente controlado. Que os sicários que o estrangularam digam onde está o corpo de Khashoggi enquanto têm língua.
Parece que só o Presidente mais desequilibrado em toda a história dos EUA “acredita” na versão saudita.
Todos se lembram que Santos Silva chamou o embaixador português em Moscovo por causa de uma tentativa de assassinato de um espião russo. Pode o Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros informar os portugueses qual foi a razão para não ter chamado a Lisboa o embaixador português?