Consórcio de cientista português ganha projecto europeu de dez milhões de euros
O Conselho Europeu de Investigação atribuiu dez milhões de euros a um consórcio de que fazem parte Edgar Gomes – do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes – e ainda dois cientistas do Reino Unido. A equipa irá estudar o desenvolvimento e estrutura do esqueleto celular.
O cientista português Edgar Gomes integra um consórcio que acabou de vencer um projecto do Conselho Europeu de Investigação (ERC) no valor de dez milhões de euros. Além de Edgar Gomes, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (IMM), em Lisboa, fazem parte do consórcio Carolyn Moores, do Birkbeck College, da Universidade de Londres, e Michael Way, do Instituto Francis Crick, no Reino Unido. Cada laboratório irá receber cerca de 3,3 milhões de euros para seis anos e, juntos, vão perceber como a estrutura da célula funciona e investigar de que forma essa estrutura é importante para a fisiologia e actividade do músculo-esquelético.
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O cientista português Edgar Gomes integra um consórcio que acabou de vencer um projecto do Conselho Europeu de Investigação (ERC) no valor de dez milhões de euros. Além de Edgar Gomes, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (IMM), em Lisboa, fazem parte do consórcio Carolyn Moores, do Birkbeck College, da Universidade de Londres, e Michael Way, do Instituto Francis Crick, no Reino Unido. Cada laboratório irá receber cerca de 3,3 milhões de euros para seis anos e, juntos, vão perceber como a estrutura da célula funciona e investigar de que forma essa estrutura é importante para a fisiologia e actividade do músculo-esquelético.
“Estamos a estudar como é que a estrutura das células, o citoesqueleto [esqueleto celular], tem um papel no funcionamento de uma célula [em geral]”, começa por dizer ao PÚBLICO Edgar Gomes sobre o tema da investigação. “Este projecto vai permitir-nos estudar isto desde o ponto de vista molecular até à fisiologia dos seres vivos, neste caso dos humanos.” O cientista acrescenta ainda que, com este projecto, será possível fazer algo nunca feito até agora: “Conseguir estudar transversalmente um problema tão importante como é o da estrutura da célula e que tem implicações em termos de respostas imunitárias, de metástases do cancro, de desenvolvimento e de outros tipos de doença.”
Como tal, a equipa utilizará como modelo de estudo proteínas purificadas, culturas de células (humanas e de ratinhos) e o músculo-esquelético do ratinho. “Vamos usar o músculo como modelo para estudar a fisiologia e a importância destas estruturas [o citoesqueleto] e arquitectura da célula.”
Mas qual exactamente o objectivo deste projecto? Recuemos no tempo. Há mais de 20 anos foi descoberto um complexo de moléculas chamado “complexo Arp 2/3”. “Basicamente, o complexo Arp 2/3 é um complexo de proteínas que é importante para a criação destas tais estruturas, neste caso do citoesqueleto de actina [o alicerce da célula, que pode ser montado e desmontado], que tem diferentes implicações nas células e em termos de funcionamento do nosso corpo”, explica Edgar Gomes.
Ora, há cerca de três anos, Michael Way descobriu que há oito tipos deste complexo (em vez de apenas um) e que têm actividades diferentes. Edgar Gomes indica que no seu laboratório, em colaboração com Michael Way, descobriu-se que dois deles têm funções muito diferentes: um é importante para o posicionamento do núcleo nas células musculares; e o outro é determinante no sistema que controla a contracção do músculo.
Entre Lisboa e Londres
Agora, com este projecto, querem perceber como é que a diversidade de tipos do complexo Arp 2/3 tem impacto em termos moleculares, celulares e fisiológicos na regulação do citoesqueleto de actina. “O principal objectivo é tentarmos compreender por que é que não temos só um mas oito [tipos de complexo de Arp 2/3] e de que maneira têm diferentes funções e disfunções em termos da fisiologia do organismo, neste caso dos humanos”, refere Edgar Gomes.
O projecto terá a duração de seis anos e cada laboratório receberá cerca de 3,3 milhões de euros. A investigação será feita entre Lisboa e Londres – inclusivamente com idas de investigadores do laboratório português a Londres e vice-versa. “Queremos transformar estes três grupos como fossem um só grupo multidisciplinar e, neste caso, em duas localizações diferentes”, frisa o cientista português. “Este projecto vai permitir formar uma equipa multidisciplinar que irá trabalhar em conjunto para percebermos como é que o citoesqueleto das células funciona a nível molecular, celular e fisiológico”, acrescenta em comunicado do IMM.
Esta é a primeira vez que um grupo de investigação em Portugal ganha uma bolsa de sinergia do ERC. Aliás, este tipo de financiamento – que pretende criar sinergia, permitindo a candidatura de um grupo com dois a quatro investigadores principais – estava suspenso desde 2013 e só funcionou nesse ano e em 2012. Este ano foram atribuídos 250 milhões de euros a 27 grupos na Europa, anuncia o ERC em comunicado, acrescentando que houve 295 propostas e só 9% foram seleccionadas.
Os projectos seleccionados envolvem 88 investigadores principais de 63 universidades e centros de investigação de 17 países europeus. Os países a que foram atribuídas mais bolsas são a Alemanha, Reino Unido e França. Ao todo, 15% dos cientistas financiados são mulheres, que participam em 13 dos 27 projectos. Nas propostas seleccionadas, 16 delas envolvem instituições de acolhimento em, pelo menos, dois países.
Por exemplo, entre os projectos há um grupo da Alemanha que investigará um novo tratamento para a osteoporose. Ou outra equipa de Espanha e Itália que procurará uma nova perspectiva da história do islão na Europa.
No comunicado, o ERC anuncia que este tipo de financiamento terá no futuro 400 milhões de euros, ou seja, um aumento de 60% relativamente a este ano. Além disso, um dos investigadores principais do grupo pode ser de uma instituição fora a União Europeia ou de países associados.