Aos 120 anos, Círculo Católico de Operários está com um pé na tradição e o outro na modernidade

O edifício da associação centenária alberga actualmente um núcleo de artistas plásticos que desafiaram a direcção para um trabalho conjunto onde cabem o tipicamente tripeiro e várias vertentes artísticas.

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Virada para a Rua Duque de Loulé, nos números 206 e 208, há uma galeria que é usada como montra de um núcleo de artistas plásticos que há cerca de três anos assentou arraiais num edifício centenário. Lá dentro há uma série de televisores empilhados, todos eles ligados. Num deles passa um vídeo, nos outros só há estática. No centro da sala, no tecto, está pendurada uma tela. Todo este cenário faz parte de uma exposição/performance levada a cabo por Francisco Babo, um dos artistas ligados à Rua do Sol, núcleo fundado há cinco anos e que há algum tempo se mudou para novo edifício.

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Virada para a Rua Duque de Loulé, nos números 206 e 208, há uma galeria que é usada como montra de um núcleo de artistas plásticos que há cerca de três anos assentou arraiais num edifício centenário. Lá dentro há uma série de televisores empilhados, todos eles ligados. Num deles passa um vídeo, nos outros só há estática. No centro da sala, no tecto, está pendurada uma tela. Todo este cenário faz parte de uma exposição/performance levada a cabo por Francisco Babo, um dos artistas ligados à Rua do Sol, núcleo fundado há cinco anos e que há algum tempo se mudou para novo edifício.

Está esta galeria inserida num edifício maior, com entrada no 202, que é morada do Círculo Católico de Operários do Porto (CCOP), associação com tradição ligada a várias áreas desportivas e às artes criada há 120 anos, por vontade de vários sectores do operariado portuense que, com a ajuda da igreja, na altura da fundação, conseguiu furar o protagonismo e a força que outras organizações de trabalhadores tinham na cidade.

Após um período conturbado para as colectividades no geral iniciado com mais relevo a partir dos anos 1990 e após um período de menor saúde financeira, o CCOP, com a ajuda de sangue novo, como é o caso da Rua do Sol, está agora a tentar recuperar o fôlego de outros tempos e a renovar-se.

A direcção, composta por sócios de longa data e por alguns mais recentes e mais jovens, tem actualmente traçada como principal meta aumentar o número de sócios e modernizar o espaço para receber novas actividades sem perder a tradição e continuando a ser espaço onde se reúnem muitos dos vizinhos da associação que durante o dia os recebe nesta rua na fronteira entre a Sé e o Bonfim para ocuparem os tempos livres.

Numa das tardes em que visitamos o edifício da associação seguimos o som de uma guitarra que nos leva até perto do bar. Na sala da biblioteca há uma banda que ensaia os temas que brevemente farão parte de uma nova gravação. A caminho, noutra divisão, ao mesmo tempo a música é outra – as várias mesas que lá existem, rodeadas de gente, ecoam o som de cartas batidas ao ritmo que a jogada exige, ora com mais vigor, ora mais subtilmente. Joga-se à sueca, como há muitos anos é habitual nas tardes passadas no CCOP. São assim de há um tempo para cá os dias passados nesta associação, entre a tradição e a modernidade.

“Aqui estamos mais abrigados do que em São Lázaro”, diz-nos Alfredo Rodrigues, que prefere uma sala fechada para a “jogatina” do que o ar livre do jardim à distância de uns cinco minutos a pé. Aos 73 anos é sócio há quatro décadas – é o número 15. Mora ali perto, nas Fontaínhas, e quando pode, que acontece “muitas vezes”, junta-se a outros que como ele ali vão, sobretudo, pelo convívio.

Durante os anos de vinculo com a associação já fez um pouco de tudo. Já foi atleta, electricista “da casa”, director da secção de desporto e ajudante de contra-regra, quando ainda havia grupo de teatro. É dessa altura que recorda um dos actores, “o Cunha”, que trocava as voltas ao ponto. “Nunca lia o texto. Ia para o palco e inventava um novo na hora. O ponto perdia-se e ficava às aranhas”, conta.

Enquanto fala connosco, mais ao lado, há quem tenha uma discussão aparentemente mais acalorada. Não é nada que tenha saído fora do controlo. Tudo normal. Discute-se uma mão que não correu tão bem para uma das duplas que ali bate cartas. “Aqui ninguém se chateia”, dizem-nos, mantendo sempre a boa disposição. Entretanto, na sala ao lado continua a ouvir-se música.

Renovação do espaço

Um piso acima há quem trabalhe na renovação do auditório onde cabem cerca de 200 pessoas, que, durante anos a fio, noutros tempos, recebeu peças de teatro e concertos de música. Desde 2017 que voltou a ser palco de bandas nacionais e internacionais, sobretudo dentro do espectro do rock. Após a remodelação quase a terminar, o objectivo será manter uma agenda de concertos regular e mais activa com a participação de algumas promotoras independentes da cidade.

A história do CCOP começa ainda antes de ser fundada. Diz um dossier disponibilizado pela associação que ainda antes da fundação já em 1919 davam-se os primeiros passos para que se tornasse uma realidade. Nasce num período “conturbado” marcado pela “luta de classes”. Fundado por operários, entre os quais alfaiates, foi alvo de alguns ataques por parte de “operários mais revoltosos”. Resultado disso foram dois incêndios e alguns saques.

A associação serviu de base para responder às necessidades dos seus utentes. Lá funcionou uma escola primária, uma secundária e até um consultório médico.

Após o 25 de Abril o CCOP atravessou um período menos bom. Com a mudança de regime, as sucessivas direcções optaram por “políticas mais cautelosas”, o que levou a que a associação, já sem grande influência da igreja, caísse no esquecimento.

Sangue novo

Há três anos, o colectivo de artistas plásticos Rua do Sol, com sede na rua com o mesmo nome quando surgiu há cinco anos, teve que abandonar as instalações onde desenvolvia a actividade. Composta por sete membros, alguns formados em Belas Artes, procuraram novo espaço. Muito próximo desta faculdade está o CCOP. Para alguns dos membros era sítio de passagem e já tinha servido de espaço para uma exposição isolada.

Explica-nos José Oliveira, 32 anos, que em 2005, quando estudava em Belas Artes, fazia parte do grupo que propôs a realização dessa exposição e é também um dos fundadores do núcleo de artistas plásticos, que após o edifício que ocupavam ter sido vendido tentaram encontrar novo espaço para montar o atelier. Depois dessa primeira experiência fez parte da organização de outras iniciativas no mesmo espaço. Há aproximadamente três anos soube que o último piso do edifício do CCOP tinha ficado livre. É aí que se mudam para lá e desde então passa a envolver-se de uma forma mais activa com a direcção da associação.

Desde há dois anos é vogal, dá “uma mão” no bar, é um dos responsáveis pela galeria de exposições virada para a rua e é responsável por alguma da programação do auditório. Se numa altura a associação chegou a ter mais de três mil sócios, agora conta apenas com 300. É um dos objectivos traçados por este membro da direcção a angariação de novos. Considera ser necessário sangue novo sem pôr em causa os que conservam o legado do passado.

Há 35 anos sócio do CCOP e actualmente vice-presidente, José Campinho, aos 73 anos, vê com bons olhos esta renovação de mentalidades e de membros. Entende ser fundamental esta passagem de testemunho a gente mais jovem e “com vontade” no sentido de que o espaço se mantenha actualizado e activo. Recebeu de braços abertos este núcleo de artistas que considera ter trazido uma dinâmica positiva à associação.

Recuperar actividades

Campinho foi basquetebolista no Futebol Clube do Porto e noutros clubes da cidade até aos 35 anos. Recorda-se de ter jogado no campo a céu aberto que ainda existe no exterior do edifício, mas actualmente sem as tabelas.

Quando terminou a actividade nesta modalidade ingressou no CCOP como atleta da secção de ping pong, que ainda pratica e também já dirigiu. De há 20 anos para cá tem feito parte de várias direcções.

Fala-nos com orgulho dos troféus e outros feitos preconizados pelos atletas do CCOP. Com o mesmo orgulho diz-nos que a associação recebeu Medalha de Mérito na altura em que Nuno Cardoso era presidente da câmara do Porto.

Com saudosismo diz-nos que quer trabalhar para que algumas actividades voltem a ganhar espaço do rol agora mais curto que o colectividade oferece. Já houve basquetebol, ténis de campo, damas, voleibol, futebol, dança jazz, grupo de teatro, entre muitas outras. Hoje há pouco mais do que ténis de mesa, grupo coral sénior e um grupo de fados. Mas está optimista e acredita que o CCOP está a entrar numa nova fase: “Por força de um empréstimo contraído para umas obras que correram menos bem passamos muitos anos a pagar essa dívida. Estamos prestes a acabar de a pagar. Esse dinheiro até agora canalizado para aí vai passar a ser investido noutras actividades”, finaliza