Arguidos da PJM estranham que não haja mais militares interrogados

Versões não coincidentes sobre recuperação de armas de Tancos poderá obrigar à audição de mais testemunhas.

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Miguel Manso

Depois dos primeiros interrogatórios aos nove arguidos do processo do aparecimento do material de guerra roubado de Tancos, e de um segundo depoimento prestado pelo major Vasco Brazão, a seu pedido, na passada terça-feira, os procuradores do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) poderão querer apurar qual o grau de conhecimento de outros oficiais da Polícia Judiciária Militar (PJM).

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Depois dos primeiros interrogatórios aos nove arguidos do processo do aparecimento do material de guerra roubado de Tancos, e de um segundo depoimento prestado pelo major Vasco Brazão, a seu pedido, na passada terça-feira, os procuradores do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) poderão querer apurar qual o grau de conhecimento de outros oficiais da Polícia Judiciária Militar (PJM).

Segundo fontes ligadas ao processo, alguns dos arguidos visados por esta investigação estranham que elementos, de um nível intermédio da cadeia de comando da PJM, não tenham sido interrogados.

Esta operação poder-se-ia ter realizado sem o conhecimento do então director da Unidade de Investigação Criminal (UIC) da PJM, coronel Manuel Estalagem? Ou do coordenador da Unidade de Investigação Criminal (UIC) da PJM do Porto, o tenente-coronel Donato Tenente? Estas questões evocadas nos interrogatórios continuam sem respostas públicas conhecidas.

Responsáveis em cargos de direcção ou de coordenação da investigação criminal são quem por regra assina as guias de marcha para os seus operacionais de Lisboa e do Porto poderem circular pelo país durante as investigações. Neste caso, a investigação implicou árduas negociações com o assaltante de Tancos – elemento de um grupo que terá sido responsável pelo furto e que continua em liberdade – que agora está em prisão preventiva e os investigadores (sargentos e majores) da GNR de Loulé e da PJM de Lisboa e do Porto.

Em teoria, as guias de marchas para esses vários encontros ao longo de três meses só podiam ser autorizadas pelo coronel Manuel Estalagem, de quem dependia Vasco Brazão na PJM, e pelo tenente-coronel Donato Tenente, superior hierárquico do major Roberto Pinto da Costa, da PJM do Porto. E se autorizavam, faziam-no com conhecimento e consentimento do objectivo dessas deslocações?

Por outro lado, os procuradores tentarão esbater as diferenças entre as versões do ex-porta-voz da PJM, major Vasco Brazão e do ex-director-geral, coronel Luís Vieira. Para isso, têm as audições previstas do próprio coronel Luís Vieira na terça-feira, dia 23, e do tenente-general Martins Pereira, no dia seguinte.

Até agora, Luís Vieira não confirmou que o ex-ministro Azeredo Lopes teria sido informado, como terá dito o major Vasco Brazão, seu subordinado e ex-porta-voz da PJM, em prisão domiciliária. A apresentação dos factos também difere entre os dois quanto ao grau de envolvimento de Luís Vieira, que se encontra em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional Militar de Tomar.

Testemunhas poderão ser chamadas para confirmar qual das versões é verdadeira. Na madrugada de 18 de Outubro, as armas foram encontradas depois de a PJM receber uma chamada combinada, apresentada como anónima, dando a localização exacta do local onde o material tinha sido depositado. A chamada foi feita por um operacional da PJM.

Às 3h da manhã, o coronel Manuel Estalagem terá sido contactado por um dos operacionais da PJM no terreno, a quem terá dito para informar preferencialmente o então director-geral, coronel Luís Vieira. Este era superior hierárquico do coronel Manuel Estalagem que, por sua vez, estava acima do major Vasco Brazão, que se envolveu na preparação e na realização desta operação ilícita para recuperar o material furtado com a cumplicidade do assaltante e indiciado por vários crimes.

Se o coronel Luís Vieira mantiver a sua versão de que não esteve envolvido na noite da entrega e das linhas gerais das iniciativas que tornaram possível a operação, deverá ser confrontado com a versão de Brazão que manteve esta semana que não só o coronel sabia, como informou o ministro, através de um memorando informal e de um telefonema do próprio Luís Vieira, na presença de Vasco Brazão e do ex-chefe de gabinete do ex-ministro Azeredo Lopes, o tenente-general Pereira Martins.

A audição deste último na próxima quarta-feira ajudará a esclarecer esse ponto. Para além de poderem querer esclarecer quem mais sabia (inicialmente) da operação, os procuradores Vítor Magalhães e João de Melo poderão querer também esclarecer quem mais foi informado (posteriormente) pelo tenente-general Martins Pereira (posteriormente). O então ministro Azeredo Lopes soube? E se soube, sem informar o Ministério Público, informou o primeiro-ministro e o chefe da Casa Militar da Presidência da República?