Amanhã, o comboio da Fertagus não pára na estação do PCP e do Bloco

PCP e Bloco querem que o Governo socialista não renove a parceria com a Fertagus, que termina em 2019. A direita diz que a linha dá lucro e o PS prefere falar só dos bilhetes.

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Nuno Ferreira Santos

Cada um fala da carruagem que prefere mas amanhã, sexta-feira, o comboio da Fertagus não irá parar na estação em que o PCP e o Bloco querem sair. O PCP e o Bloco querem que o Governo aproveite o fim do prazo da concessão da linha ferroviária da ponte 25 de Abril, entre Lisboa e Setúbal e acabe com aquela parceria público-privada (PPP).

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Cada um fala da carruagem que prefere mas amanhã, sexta-feira, o comboio da Fertagus não irá parar na estação em que o PCP e o Bloco querem sair. O PCP e o Bloco querem que o Governo aproveite o fim do prazo da concessão da linha ferroviária da ponte 25 de Abril, entre Lisboa e Setúbal e acabe com aquela parceria público-privada (PPP).

Mas a bancada socialista prefere falar do preço dos bilhetes e deixa o repto à sua esquerda para que esta ajude a discutir como integrar a linha da Fertagus no passe único da Área Metropolitana de Lisboa - "esforço" que o Governo está a fazer. Sobre o futuro concreto da PPP nem uma palavra.

Porém, o deputado André Pinotes Baptista lá foi dizendo que o PS está "mais centrado no bom serviço que é prestado do que na vertente financeira". E como falou depois de o centrista Helder Amaral ter elogiado a boa gestão da Fertagus e de o ecologista José Luís Ferreira ter citado os 200 milhões de euros que o Estado colocou naquela linha, será de esperar que a PPP seja renovada.

O fim da PPP da Fertagus foi levado ao plenário pelo PCP, que o recomenda ao Governo num projecto de resolução - e que deverá ser chumbado na votação desta sexta-feira. O deputado Bruno Dias falou na "profunda desigualdade do tarifário praticado" - muito mais alto do que nas outras linhas de comboio na área metropolitana de Lisboa (AML) - a que se soma o facto de os passageiros não poderem usar o passe social intermodal nos comboios da ponte.

Lembrou que a linha e as estações foram construídas pelo Estado, que também comprou os comboios - que são iguais aos da linha da Azambuja. Nas estações, a Fertagus explora as lojas e os estacionamentos também construídos pelo Estado. A que se somam os 200 milhões de euros que o Tribunal de Contas apurou que custou esta PPP entre 1999 e 2013. Disse ainda que a CP foi proibida de concorrer a esta concessão. E argumentou que acabar com esta PPP não custará nada ao Estado porque o seu prazo termina no próximo ano.

Onde o PCP vê problemas, o CDS vê uma boa empresa com uma "gestão de qualidade", "financeiramente saudável", que "dá lucro" e "presta um bom serviço". "Quem defende melhor os direitos dos trabalhadores são as empresas saudáveis", apontou o deputado Helder Amaral que também ironizou: "O PCP fica horrorizado quando uma PPP funciona bem."

Helder Amaral acusou os comunistas de estarem a mascarar o seu apoio ao orçamento com um gesto "patriótico" sobre a PPP da Fertagus que, lembrou, foi criada por um Governo socialista (Guterres) e renegociada duas vezes por outro (Sócrates).

Bruno Dias haveria de replicar que "o PCP não tem nada contra a saúde das empresas privadas - o problema é quando é paga por todos nós". Criticou o "profundo desprezo" da direita pela vida das pessoas e pelos custos que têm que suportar. "As PPP são demasiado caras e são feitas com empresas que vivem acima das nossas possibilidades."

O ecologista José Luís Ferreira defendeu a necessidade de integrar a linha da Fertagus e a da Metro Sul do Tejo no passe social intermodal para baixar os preços - o passe entre Lisboa e Setúbal custa hoje 131 euros por mês ao passo que a mesma distância na CP (e em comboios iguais), entre Lisboa e a Azambuja, custa 55 euros.

O PSD defendeu que é por "ser bem gerida, prestar bom serviço, não ter greves nem estar refém de alguns sindicatos mas respeitar os direitos dos trabalhadores" que tem que a Fertagus "dá lucro desde 2005". O deputado Carlos Silva rejeitou a "opção cega, partidária e sindicalista" do fim da PPP. E realçou até que a Fertagus "é considerada uma das melhores empresas para trabalhar em Portugal" - talvez ignorando que as empresas pagam para participar neste tipo de ranking

Pelo Bloco, Heitor de Sousa realçou que se desconhecem os termos em que o Governo já deverá estar a negociar com a Fertagus e o que a empresa pensa sobre os preços dos passes. Mas como os bloquistas também têm um projecto de resolução sobre o assunto, a PPP da Fertagus voltará a ser discutida daqui a mais uns meses.