Rovisco Duarte justifica saída com "circunstâncias políticas"

Leia, na íntegra, a carta que Rovisco Duarte escreveu aos militares do Exército a explicar a sua resignação.

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Depois de Azeredo Lopes sai Rovisco Duarte Rui Gaudêncio

Adensam-se as dúvidas sobre as razões que levaram Rovisco Duarte, até agora Chefe Do Estado-Maior do Exército, a apresentar uma carta de resignação ao Presidente da República. A missiva que escreveu para dentro da instituição que liderava fala em "circunstâncias políticas", enquanto que a explicação dada pela Presidência da República e pelo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, aponta para "razões pessoais".

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Adensam-se as dúvidas sobre as razões que levaram Rovisco Duarte, até agora Chefe Do Estado-Maior do Exército, a apresentar uma carta de resignação ao Presidente da República. A missiva que escreveu para dentro da instituição que liderava fala em "circunstâncias políticas", enquanto que a explicação dada pela Presidência da República e pelo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, aponta para "razões pessoais".

"A todos vós, e unicamente a vós, devo uma explicação: as circunstâncias políticas assim o exigiram", lê-se na missiva interna ao Exército. O general refere-se, indirectamente, aos últimos acontecimentos quando escreve sobre "a resolução dos problemas inopinados e graves" que foram surgindo.

"O Presidente da República recebeu hoje uma carta do General Francisco José Rovisco Duarte, que, invocando razões pessoais, pede a resignação do cargo de Chefe de Estado-Maior do Exército. A carta foi transmitida ao Governo, a quem compete, nos termos constitucionais e da Lei orgânica das Forças Armadas, propor ao Presidente da República a exoneração de chefias militares, ouvido o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas", informou a Presidência. Também na comunicação de Belém, os motivos invocados para a saída são de índole pessoal.

Leia a carta na íntegra:

"Militares e civis do Exército,

Apresentei hoje a Sua Excelência o Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas a minha carta de resignação ao cargo de Chefe do Estado-Maior do Exército, depois de dois anos e seis meses à frente do Exército.

A todos vós, e unicamente a vós, devo uma explicação: as circunstâncias políticas assim o exigiram.

Quando assumi funções, estabeleci uma linha de ação para o meu comando que assentava sobre uma visão de modernidade, qualidade e equilíbrio entre os diferentes subsistemas que compõem o Exército. Sabia que iria ser uma campanha dura.

A realidade assim o provou. Quer na condução dos assuntos administrativo-logísticos do Ramo, quer nos assuntos de natureza operacional, quer também no diálogo institucional com os diferentes atores, quer, ainda, na resolução dos problemas inopinados e graves que foram surgindo.

Comandar é uma grande honra e um desafio único, que exige a todos os que têm o privilégio de o exercer total entrega e dedicação.

Mas ser comandado, visando o cumprimento da missão, não o é menos.

Tenho afirmado, reiteradamente, que o Exército Português tem de ser capaz de atuar, de forma credível, em todo o espectro da conflitualidade atual, bem como no cumprimento das missões de interesse público.

Foi esta realidade que pude comprovar no Território Nacional e nos diferentes teatros de operações onde estive em visita de comando.

Em todos os momentos, e nas mais diversas circunstâncias, senti o orgulho do Soldado Português, o seu prestígio, a sua educação, o seu sentido de disciplina, os elevados conhecimentos profissionais, a sua seriedade e competência perante a missão atribuída.

Por isso, devo dizer que fiz sentir permanentemente, nos diferentes níveis institucionais e circunstâncias, a necessidade de ser dada satisfação aos seus anseios pessoais, profissionais e familiares.

O culminar de toda esta preocupação, visando a criação de um Exército mais moderno e mais eficiente, ficou bem evidenciado, designadamente, nos recentes trabalhos de revisão da Lei de Programação Militar e nos diplomas legais relativos ao regime de incentivos e ao de contrato especial.

Porque a sociedade é muito dinâmica, as necessidades de cada ser são muito reais e os equilíbrios institucionais entre os ramos são necessários e prementes, deixo um sinal de alerta, mas também de esperança, pelo muito que há ainda por fazer.

Nunca me arrependi de ter entrado na Academia Militar em 1976, nem de usar a farda como segunda pele. Foi, e sempre será, com profundo orgulho que escolhi ser militar.

A todos os militares e civis peço um forte abraço e deixo uma palavra de incentivo perante os desafios diários que a todos se deparam e a confiança plena no Exército que todos servimos honradamente."

A carta tem a data desta quarta-feira, dia 17 de Outubro de 2018.