Todos pedem uma autocrítica ao PT. Haddad faz o que pode

O reconhecimento dos erros dos dirigentes envolvidos em esquemas de corrupção parece ser um requisito obrigatório para que Haddad consiga apoio de outras forças políticas.

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A campanha de Haddad substituiu o vermelho do PT pelas cores da bandeira para a segunda volta Reuters/PAULO WHITAKER

O candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à presidência do Brasil, Fernando Haddad, mudou a sua rotina de segunda-feira. E isso é importante. Pela primeira vez desde que assumiu a candidatura, abdicou da visita semanal que fazia ao edifício da Polícia Federal em Curitiba onde o ex-Presidente Lula da Silva está preso, reforçando a estratégia de autonomizar a sua imagem numa fase crítica da corrida eleitoral.

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O candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à presidência do Brasil, Fernando Haddad, mudou a sua rotina de segunda-feira. E isso é importante. Pela primeira vez desde que assumiu a candidatura, abdicou da visita semanal que fazia ao edifício da Polícia Federal em Curitiba onde o ex-Presidente Lula da Silva está preso, reforçando a estratégia de autonomizar a sua imagem numa fase crítica da corrida eleitoral.

Há mais de um mês que todas as manhãs de segunda-feira de Haddad eram passadas em Curitiba, onde se encontrava com o mentor político e, segundo a imprensa brasileira, os dois combinavam as acções seguintes da campanha do partido. Mas desta vez esse ritual não se repetiu e Haddad esteve a dar uma entrevista à Rádio Bandeirantes, em São Paulo.

Na semana passada, na ressaca da primeira volta – em que Haddad garantiu a passagem à segunda volta por uma unha negra – a campanha do ex-ministro da Educação de Lula decidiu imprimir uma nova dinâmica. O objectivo foi o de abandonar a lógica de identificação com o antigo Presidente, que imperou na campanha da primeira volta, para procurar mostrar Haddad como a derradeira oportunidade para evitar a eleição de Jair Bolsonaro, um candidato de extrema-direita que, diz o PT, vai pôr em causa o regime democrático.

Um dos principais reparos feitos à campanha de Haddad tem sido a ausência de uma autocrítica ao envolvimento de vários quadros do PT em esquemas de corrupção expostos pela Operação Lava-Jato. Haddad, que foi ministro da Educação de Lla,tem tentado lidar com esta desvantagem procurando um equilíbrio precário: os comentários mais críticos dirigidos ao partido são contidos de forma a não dar directamente munições ao seu adversário.

Durante o fim-de-semana, Haddad reconheceu que “faltou controlo interno nas [empresas] estatais”, defendendo que “todos os dias” faz críticas à conduta de ex-governantes do PT. Em entrevista ao El País Brasil, o candidato garantiu que “quem se locupletou [enriqueceu] está a pagar”. “E está a pagar por uma legislação que nós aprovámos”, sublinhou.

Para derrotar Bolsonaro, a campanha de Haddad tem tentado lançar um apelo amplo para juntar vários sectores políticos e sociais, incluindo a esquerda descontente com a governação do PT, encarnada no eleitorado de Ciro Gomes, mas também a direita tradicional que anteriormente se concentrava em torno do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), um dos grandes derrotados da primeira volta. O azul e o amarelo da bandeira nacional substituíram o vermelho “petista” na campanha e o antes omnipresente lema “Lula é Haddad, Haddad é Lula” desapareceu.

“No segundo turno tem que ampliar”, justificou o candidato, em entrevista ao El País Brasil. Mas os esforços para alcançar essa coligação alargada para a segunda volta, a 28 de Outubro, têm saído gorados. Se o apoio do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) ficou imediatamente garantido, o Partido Democrático Trabalhista (PDT), de Ciro Gomes, não foi além de um “apoio crítico” a Haddad, e o ex-governador do Ceará não podia ser mais assertivo na sua hesitação em estar ao lado do PT, fazendo coincidir uma deslocação à Europa com a campanha.

O PSDB rejeitou manifestar apoio a Haddad, preferindo deixar ao critério de cada dirigente a decisão de se mostrar ao lado do “petista” ou do candidato de extrema-direita. O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso disse na semana passada que não apoia Bolsonaro, mas também não expressou apoio a Haddad. Ao El País, Haddad disse estranhar “que pessoas que lutaram pela redemocratização fiquem neutras diante de uma pessoa que manifestamente apoia a ditadura e a tortura”.

Haddad corre contra o tempo para superar uma desvantagem assinalável. Na primeira volta, a 7 de Outubro, Bolsonaro alcançou 46% dos votos, ficando à porta da eleição imediata, enquanto Haddad se ficou pelos 29%. As primeiras sondagens para a segunda volta confirmam o favoritismo do ex-capitão do Exército, que aparece com 58% dos votos.