Serra de Carnaxide começa a encher-se de casas

Projecto que esteve parado mais de uma década está a avançar e há outros na calha. Em Oeiras, cidade desportiva do SL Benfica também vai dando os seus passos - para já, na secretaria.

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Fotomontagem do empreendimento SkyCity

Quem passa no IC19 junto ao Hospital Amadora-Sintra talvez não desconfie, mas lá no alto, no topo da serra de Carnaxide, está a crescer uma espécie de pequena cidade disposta em meia-lua. O empreendimento chama-se SkyCity, terá 365 fogos entre moradias e apartamentos, diz o promotor que visa atrair as classes médias portuguesas. É porventura o maior, mas não é o único investimento a decorrer nesta serra partilhada pelos concelhos de Oeiras e Amadora, um dos raros locais que ainda não foram ocupados por edificação nas periferias de Lisboa. Nos próximos anos, a paisagem vai-se alterar – e muito.

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Quem passa no IC19 junto ao Hospital Amadora-Sintra talvez não desconfie, mas lá no alto, no topo da serra de Carnaxide, está a crescer uma espécie de pequena cidade disposta em meia-lua. O empreendimento chama-se SkyCity, terá 365 fogos entre moradias e apartamentos, diz o promotor que visa atrair as classes médias portuguesas. É porventura o maior, mas não é o único investimento a decorrer nesta serra partilhada pelos concelhos de Oeiras e Amadora, um dos raros locais que ainda não foram ocupados por edificação nas periferias de Lisboa. Nos próximos anos, a paisagem vai-se alterar – e muito.

Foi há mais de 15 anos que se começou a falar de um projecto como o SkyCity, cujo espaço já estava reservado no Plano de Pormenor da Serra de Carnaxide que a câmara da Amadora aprovou em 1996. Só que entre o querer e o fazer interpôs-se a falta de dinheiro e o terreno manteve-se sem construções até recentemente, quando veio à posse do grupo imobiliário JPS. “O que estava previsto não é o que está a ser feito: a arquitectura mudou, as questões energéticas mudaram, os tempos mudaram”, diz João Sousa, director-executivo da empresa, que tem apostado em pegar em projectos já aprovados que pararam com a crise. Assim, evita um novo processo de licenciamento, que pode demorar anos, e consegue rapidamente pôr casas no mercado.

“Temos de oferecer habitação para quem reside em Portugal”, explica o empresário. “O desenvolvimento imobiliário dos últimos tempos deu-se pela reabilitação urbana, mas para os portugueses é mau se ficarem condicionados apenas àquilo que está a ser feito na reabilitação urbana, dados os preços do mercado.”

Com 90% já vendido, o SkyCity quer dar “habitações novas com qualidade a pessoas que não conseguem acompanhar os preços praticados no centro da cidade”, diz João Sousa. Em planta, a JPS vendeu casas T4 por 300 mil euros, mas elas agora já se encontram à venda, em sites imobiliários, a 400 ou 450 mil euros. O empreendimento terá uma população a rondar os 1500 habitantes. “Vai ter algum comércio, direccionado para servir de apoio à dinâmica dos residentes locais”, precisa o empresário, defendendo ainda a necessidade de haver mais construção nova fora dos centros urbanos para “oferecer habitação de qualidade a preços acessíveis”.

A JPS tem outro investimento a decorrer na zona de Carnaxide, embora já não na serra. Trata-se do Dream Living, um condomínio fechado com 90 fogos que está inserido num loteamento maior, de 800 fogos, em redor do Farol da Mama, no concelho de Oeiras. Depois de anos paradas, as construções nesse local estão agora a avançar, preocupando os vizinhos da zona, que temem um aumento exponencial do tráfego automóvel e da dificuldade em estacionar.

Se na vertente norte da serra de Carnaxide está a crescer o SkyCity e, praticamente ao lado, já estão as infra-estruturas urbanísticas para um projecto ainda maior, na vertente sul a câmara de Oeiras garante que “não há nenhum projecto aprovado”, embora vários tenham sido anunciados publicamente e até aprovados pela autarquia. É o caso do Villa Cavallia, um empreendimento de grande dimensão que teria um hotel, apartamentos, comércio, lar de idosos, clínica e um centro hípico. Em 2014, a câmara, então liderada por Paulo Vistas, deu luz verde ao projecto, mas nada aconteceu entretanto no terreno.

“Desde 1987 que o município tem vindo a adquirir terrenos naquela área, sendo já hoje o maior proprietário”, disse fonte oficial da câmara oeirense ao PÚBLICO, contrariando o que Vistas disse há quatro anos, que a autarquia não tinha dinheiro suficiente para comprar ou expropriar todos os lotes privados existentes na serra.

Cidade desportiva do SL Benfica em fase de aprovação

Há um ano, a pouco mais de uma semana das eleições autárquicas, o presidente do SL Benfica, Luís Filipe Vieira, e o então presidente da câmara de Oeiras, Paulo Vistas, encontraram-se junto à serra de Carnaxide para apresentar um projecto de dez hectares denominado Cidade Desportiva das Modalidades, a ser construído e gerido pelo clube da Luz. De então para cá, poucas novidades houve.

Questionada pelo PÚBLICO, a autarquia, agora liderada por Isaltino Morais, faz questão de sublinhar que “não há nenhum projecto aprovado para a serra de Carnaxide”, enquanto fonte oficial do clube salienta que as duas partes reuniram há uns meses “para um balanço do processo e para reafirmar o interesse na sua concretização.” Acrescenta a mesma fonte que “há um trabalho procedimental prévio que a câmara de Oeiras tem de levar a cabo para o espaço poder acolher o projecto, o qual se encontra a decorrer.”

A cidade das modalidades do SL Benfica custará 17 milhões ao clube e, segundo o pré-projecto apresentado em Setembro de 2017, terá um pavilhão de artes marciais e ginástica, um campo de râguebi com pista de atletismo, um centro de massagens, uma pista de corrida indoor, uma piscina, um pavilhão desportivo, um campo de futebol, restaurante, centro de reuniões, clínica ginásio e um silo de estacionamento com 540 lugares para automóveis.

A ideia de o SL Benfica fazer uma construção deste género em Oeiras já existe há quase dez anos, tendo sido mesmo assinado um protocolo entre a câmara e o clube em 2009, ainda com Isaltino Morais na presidência. Depois da reeleição, há um ano, o autarca disse que não via “qualquer impedimento” ao seu avanço.