Graça Fonseca, uma mulher num ministério a precisar de dinheiro e autonomia

Graça Fonseca substitui Castro Mendes no Palácio da Ajuda, onde será o terceiro ministro em menos de três anos.

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Graça Fonseca vai ser a nova ministra da Cultura, substituindo no Palácio da Ajuda o cada vez mais contestado, ou ignorado, Luís Filipe Castro Mendes, e vendo-se assim promovida do lugar de secretária de Estado que ocupava na equipa de Maria Manuel Leitão Marques.

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Graça Fonseca vai ser a nova ministra da Cultura, substituindo no Palácio da Ajuda o cada vez mais contestado, ou ignorado, Luís Filipe Castro Mendes, e vendo-se assim promovida do lugar de secretária de Estado que ocupava na equipa de Maria Manuel Leitão Marques.

É uma mudança de algum modo feita com os recursos da casa, também porque Graça Fonseca é uma colaboradora de António Costa desde há quase duas décadas: desde que em 2000 se tornou sua adjunta no Ministério da Justiça no Governo de António Guterres.

Jurista de formação e militante do PS, acompanhou depois o actual primeiro-ministro no Ministério da Administração Interna, no primeiro Governo de José Sócrates, e foi sua vereadora na Câmara de Lisboa, até que em 2015, depois de ter sido eleita deputada, foi chamada para a equipa do Ministério da Modernização Administrativa.

Além da confiança pessoal e política, Costa renova assim o seu Governo – numa pasta cujo anterior titular tinha uma imagem cada vez mais desgastada –, escolhendo uma mulher que associa à sua experiência técnica e governativa uma personalidade forte.

Enquanto secretária de Estado da Modernização Educativa, Graça Fonseca ocupou-se principalmente com o novo programa Simplex, tendo-lhe cabido, na primeira parte do mandato, fazer uma volta pelo país a conhecer de perto as situações que justificavam a criação de novas medidas tendentes à modernização e simplificação administrativa.

Mas o momento mais mediático do seu mandato aconteceu quando, em Agosto do ano passado, em entrevista ao Diário de Notícias, assumiu a sua homossexualidade, justificando o gesto como “uma afirmação política” com o intuito de “mudar mentalidades” e de ajudar na luta contra a discriminação por razões de orientação sexual. Graça Fonseca tornava-se, assim, a primeira mulher com responsabilidades governativas a assumir-se como homossexual. 

Castro Mendes disse ontem ao PÚBLICO que saiu do Governo a seu pedido, e não quis fazer mais comentários. A verdade é que era desde há muito tempo um ministro não apenas impopular, mas sobretudo ignorado – basta recuar alguns dias para o caso dos 200 artistas que protestaram contra o estado actual das artes plásticas e decidiram ir bater directamente à porta do primeiro-ministro, ignorando ostensivamente o responsável da tutela. Um episódio que de algum modo repetiu o que já acontecera na Primavera, quando o próprio António Costa decidiu assumir a resposta à contestação dos grupos e estruturas aos resultados dos concursos da Direcção-Geral das Artes.

E em vésperas da apresentação do OE, terá pesado, na hora da remodelação decidida pelo primeiro-ministro, o receio de que a impopularidade de Castro Mendes acabasse por desbaratar o já anunciado reforço do orçamento para a área da Cultura, e viesse comprometer os dividendos políticos que se esperam tirar a um ano de eleições.

Resta agora saber que peso político vai Graça Fonseca também conseguir transportar na sua passagem para o Palácio da Ajuda – onde se tornará o terceiro ministro da Cultura em menos de três anos.

Com Isabel Salema e Luís Miguel Queirós