O fim da era Merkel data do seu começo
A chanceler já passou o auge do seu poder interno, mas é prematuro prever já o seu fim.
O fim de Angela Merkel? já foi previsto tantas vezes pela imprensa – alemã e internacional – que um jornalista chegou a dizer algo como “o fim da era Merkel data do seu começo”, apresentando uma lista impressionante de títulos dos últimos 13 anos dizendo que a chanceler tinha acabado politicamente. Alguns datam de uma série de derrotas da CDU em estados federados, especialmente no chamado super-ano eleitoral de 2011. Nas legislativas seguintes, em 2013, depois de uma campanha apoiada só na sua imagem – mais precisamente, no seu icónico gesto de mãos –, Merkel conseguiu um dos melhores resultados de sempre da CDU.
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O fim de Angela Merkel? já foi previsto tantas vezes pela imprensa – alemã e internacional – que um jornalista chegou a dizer algo como “o fim da era Merkel data do seu começo”, apresentando uma lista impressionante de títulos dos últimos 13 anos dizendo que a chanceler tinha acabado politicamente. Alguns datam de uma série de derrotas da CDU em estados federados, especialmente no chamado super-ano eleitoral de 2011. Nas legislativas seguintes, em 2013, depois de uma campanha apoiada só na sua imagem – mais precisamente, no seu icónico gesto de mãos –, Merkel conseguiu um dos melhores resultados de sempre da CDU.
Se já é claro que o auge do seu poder, no plano interno, já passou (especialmente depois do desgaste com a gestão da entrada de 800 mil refugiados em 2015), é muito menos clara a dimensão dos problemas que a têm atingido: um Governo refém de um ministro “troublemaker” (Horst Seehofer, que mesmo em Berlim continua a pôr “a Baviera em primeiro lugar”) e uma eleição para líder parlamentar em que o seu preferido, Volker Kauder, teve uma derrota que ninguém previu (sinal de descontentamento dentro do partido, sim, mas note-se que o vencedor, Ralph Brinkhaus, não é nenhum opositor à chanceler nem a sua vitória resultou de uma campanha concertada de rebelião nos conservadores).
O episódio foi analisado até à exaustão nos media e Merkel assumiu a derrota, mas Matthias Dilling, da Universidade de Oxford, diz que esta “foi mais uma revolta contra Kauder do que contra Merkel” e “o novo líder parlamentar veio muito rapidamente dizer que não havia diferenças de opinião em relação às políticas de Merkel”.
Agora, os olhos estão nas eleições da Baviera, este domingo. É certo que a CSU, partido gémeo da CDU de Merkel na Baviera, vai ter um mau resultado. Mas Merkel pode beneficiar, diz Dilling, por telefone, ao PÚBLICO. Se o resultado da CSU for realmente baixo, forçará a demissão de Seehofer – segundo as sondagens, a exigência a limites a entradas de refugiados só prejudicou as perspectivas eleitorais do seu partido. “Se Seehofer saísse, saía a maior ameaça a Merkel no Governo”, nota o analista.
Como a CDU e a CSU, apesar de estarem numa aliança, são diferentes, Merkel poderia recolher apenas o resultado positivo de uma saída de Seehofer e não o desgaste da derrota (uma vitória na casa dos 30% será uma pesada derrota para um partido que habitualmente tem mais de 40%).
Ainda mais positivo para Merkel poderia ser um resultado que forçasse a CSU a uma coligação com os Verdes, o que obrigaria o partido a aproximar-se das posições pró-refugiados, pró-imigração, e pró-União Europeia dos ecologistas, favorecendo a chanceler mesmo se Seehofer se mantivesse no governo. Dilling considera que esta hipótese, apesar de possível, será a mais improvável.
Mas mesmo que este domingo tudo corra mal a Merkel, Dilling avisa que “não devemos prever já o fim da sua era”, porque nesta peça de teatro, “a evolução vai provavelmente depender até mais das outras personagens”.
Três datas
Uma das razões pelas quais Merkel se vai manter é que nenhum dos potenciais sucessores quer chegar ao poder agora e herdar a situação actual: “o Governo é demasiado difícil de liderar”, diz o investigador de ciência política. Além disso, caso houvesse uma mudança de chanceler, “seria muito improvável que o SPD [seu parceiro de coligação] a aceitasse e se mantivesse no Governo”. Para Dilling, o mais provável é que Merkel se afaste até cerca de um ano antes da próxima eleição, provavelmente em 2021.
Para medir o actual poder interno de Merkel, Dilling aponta três datas: a eleição no estado federado do Hesse (cuja maior cidade é Frankfurt), em que a coligação actual CDU-Verdes não deverá ser reeleita porque segundo as sondagens a grande descida da CDU não é compensada pela subida dos Verdes; o encontro do grupo parlamentar da CSU em Novembro; e o congresso da CDU no início de Dezembro, em que Merkel deverá recandidatar-se à presidência do partido (com atenção ao nível de votação e duração das palmas).
"Se houver desenvolvimentos negativos nestas três ocasiões", antecipa Dilling , "poderá iniciar-se uma dinâmica em que os críticos de Merkel vêm a público para a forçar a declarar quando sai."