Um ovo de tubarão e uma cidade celestial no primeiro dia de desfiles da ModaLisboa

A 51.ª edição da ModaLisboa arrancou esta sexta-feira, no Pavilhão Carlos Lopes, com o concurso Sangue Novo e os criadores David Ferreira, Valentim Quaresma e Ricardo Preto.

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As novas gerações deram o arranque para os desfiles da ModaLisboa. Este fim-de-semana, o Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII, volta a ser palco para as propostas dos diferentes criadores e, na sexta-feira, o concurso Sangue Novo reuniu dez jovens talentos. Apresentaram ainda as suas colecções David Ferreira, Valentim Quaresma e Ricardo Preto.

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As novas gerações deram o arranque para os desfiles da ModaLisboa. Este fim-de-semana, o Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII, volta a ser palco para as propostas dos diferentes criadores e, na sexta-feira, o concurso Sangue Novo reuniu dez jovens talentos. Apresentaram ainda as suas colecções David Ferreira, Valentim Quaresma e Ricardo Preto.

Nesta 51ª edição, o concurso Sangue Novo passou a ser anual — constituído por duas etapas de apresentações — e ganhou um estatuto internacional. Significa, portanto, que os seis criadores agora seleccionados (Archie Dickens, Carolina Raquel, Opiar, Rita Carvalho, The Co.re e Frederico Protto) voltarão a mostrar uma colecção daqui a seis meses, na próxima ModaLisboa.

Artur Dias, o criador por detrás da marca Opiar, pegou na imagem bíblica do Juízo Final e idealizou uma cidade voadora. "É uma cidade que tem como objectivo albergar pessoas cujas ideologias não se alinham com aquelas que são praticadas na terra", sem afiliações políticas ou religiosas. Pelo sim, pelo não, terminou a colecção com uma peça com a dupla função de pára-quedas.

Já Archie Dickens construiu a colecção de malhas à volta de uma descoberta peculiar: um ovo de tubarão que encontrou numa praia, em Porto Covo. "A forma fazia sentido para a minha estética. Algumas das características dos vestidos e os elementos cosidos à mão nascem da forma desse ovo de tubarão", conta. Formado no Royal College of Art, o criador britânico vive actualmente em Lisboa.

A 51.ª edição da ModaLisboa tinha arrancado, na verdade, na quinta-feira, na Estufa Fria, onde alguns dos criadores que já passaram pelo Sangue Novo — como João Oliveira e Filipe Augusto — mostraram as suas propostas para a próxima Primavera. Em vez de um desfile tradicional, as peças estiveram à vista de todos, enquanto os modelos se ocupavam com diferentes tipos de jogos tradicionais.

No final do dia, Eduarda Abbondanza, presidente da ModaLisboa, foi distinguida com uma Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Lisboa.

Do preto à explosão de cores

David Ferreira e Ricardo Preto apresentaram também na sexta-feira as suas colecções, em lados opostos do espectro de cor. Se o primeiro apostou unicamente no preto — focando a atenção em detalhes de textura como os patchworks e o padrão de crocodilo formado por uma renda sobreposta em tecidos —, o segundo apresentou uma explosão de cores e padrões.

Com uma lista de clientes que inclui Cardi B (que o usou peças suas em vários momentos, inclusive no videoclip Bartier Cardi), Nicki Minaj ou Janet Jackson, David Ferreira está de olhos focados no estrangeiro, actualmente em negociações com alguns armazéns de luxo em Inglaterra e nos Estados Unidos. "Temos estado a discutir algo para introduzir a marca, por exemplo uma disposição em loja", conta o criador. "Não queremos fazer umas vendas rápidas, queremos criar clientela. Prefiro fazer uma introdução mais lenta — fazer um happening, um pop-up. Não queremos entrar e, de repente, aquilo fica num canto e não é vendido", defende. Até porque, continua, "quando as lojas não vendem, na próxima estação não vão comprar".

Segundo David Ferreira, as vendas actualmente focam-se sobretudo nas peças feitas à medida, sendo que a marca já consegue dar lucro, mesmo que a um nível relativamente modesto.

Ainda na sexta-feira houve o desfile de Valentim Quaresma, que usou pela primeira vez madeira nas suas peças de joalharia. "O fio condutor desta colecção foi a art déco — os anos 1920, a revolução industrial", comenta. Já o tema, continua, foi revolution. "A sustentabilidade foi uma preocupação nesta colecção: toda a matéria-prima que adquiri para fazer a colecção foi gasta. Não houve desperdícios de tecidos, de madeira nem de vegetal", garante. Com os bocados de tecido, "construímos os padrões", exemplifica.

A 51.ª edição da ModaLisboa continua no fim-de-semana, entre sábado e domingo, com desfiles de criadores como Nuno Gama (que ocupará o Museu Nacional de Arte Antiga), Alexandra Moura, Luis Carvalho e Filipe Faísca.