O reconhecimento de imagens está a mudar a cara da aviação
O cartão de embarque está condenado a ser substituído por algo que não se perde nem esquece em casa: a nossa cara. O reconhecimento facial deverá alargar-se também ao comércio.
Durante décadas, viajar de avião foi sinónimo de interacção com uma mão de cheia de pessoas. Mas esse cenário tem vindo a mudar. E o que se antevê para os próximos anos, graças a tecnologias como a do reconhecimento de imagem, promete mesmo mudar a face da aviação comercial.
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Durante décadas, viajar de avião foi sinónimo de interacção com uma mão de cheia de pessoas. Mas esse cenário tem vindo a mudar. E o que se antevê para os próximos anos, graças a tecnologias como a do reconhecimento de imagem, promete mesmo mudar a face da aviação comercial.
Os anos de 2017 e 2018 marcam o início de um novo ciclo. Lufthansa e British Arways avançaram para o auto-embarque, com resultados promissores nos EUA e no Reino Unido. Em Março, a transportadora alemã recorreu ao reconhecimento facial no principal aeroporto de Los Angeles (EUA). Em vez de exigir cartão de embarque e passaporte, a empresa apontou câmaras aos passageiros na porta de embarque e recorreu a dados biométricos para confirmar as identidades. Com isso, levou cerca de 20 minutos para embarcar 350 passageiros num A380 – uma drástica melhoria.
A velocidade é uma consequência importante, mas também é uma questão de segurança: no pico do Verão, e ao terceiro dia de utilização do reconhecimento facial, as autoridades norte-americanas detectaram um impostor que chegou a Washington a partir de São Paulo e tentou desembarcar com um passaporte francês. Porém, a comparação dos dados biométricos recolhidos por imagem não bateu certo com os dados do passaporte.
O reconhecimento de imagem parece moderno, mas os primeiros passos foram dados há 60 anos. Há questões técnicas e éticas ainda por resolver: no primeiro nível, o problema da fiabilidade (o equivalente ao SEF nos EUA refere uma taxa de sucesso entre 98 e 99%); no segundo aspecto, a questão da privacidade. Ainda assim, a indústria está a mexer-se.
As experiências sucedem-se um pouco por todo o lado. Nos EUA, há uma série de aeroportos a trabalhar com a tecnologia – o de Orlando anunciou em Junho que quer processar todas as entradas e saídas internacionais através do reconhecimento facial. Na Europa, há exemplos em diferentes países, como no Reino Unido, tal como no Médio Oriente pontifica o exemplo de Abu Dhabi.
Porém, exceptuando alguns casos, o papel ainda é necessário. Lisboa, Porto e Faro usam o reconhecimento facial e dados biométricos há mais de uma década, seja em experiências-piloto seja de uma forma consistente. Mas antes de usar o chamado e-gate – serviço desenvolvido por uma empresa portuguesa – o passageiro tem de fornecer o passaporte. No futuro, porém, governos e empresas poderão ter tudo na cloud, à medida que o sistema se auto-alimenta com os dados fornecidos diariamente.
Já compramos online as viagens. Fazemos check-in e deixarmos a bagagem sem intervenção de terceiros. Estamos a entregar a segurança a scanners corporais. Agora, no horizonte, surge cada vez mais nítido o auto-embarque. E há outras experiências na calha.
Por exemplo, poderá haver câmaras apontadas para as zonas de espera para identificar passageiros que falharam a última chamada de embarque e assim evitar maiores atrasos; ou, numa perspectiva mais comercial, usar o reconhecimento da cara para “vender” produtos e serviços (como por exemplo o acesso aos lounges das companhias) a passageiros que as empresas já “conhecem”. Parece assustador, mas, face ao cenário actual, os cartões de embarque parecem destinados a serem substituídos por algo que nenhum passageiro pode esquecer, perder ou estragar: a cara.