Sonae não quis correr o risco de uma dupla desvalorização da MC
Acções da Sonae SGPS subiram 5%, numa reacção dos investidores ao fim da oferta pública de venda (OPV) do retalho alimentar do grupo.
A Sonae SGPS cancelou a oferta pública de venda (OPV) de acções da Sonae MC, a holding que detém o retalho alimentar, por se recusar a aceitar uma eventual dupla desvalorização do principal negócio do grupo. As “condições adversas nos mercados internacionais”, como alegou o grupo liderado por Paulo Azevedo em comunicado enviado ao mercado comprometia o valor das acções, que tinha um intervalo mínimo fixado em 1,40 e o máximo de 1,65 euros, a que se poderia seguir uma forte desvalorização na estreia em bolsa, como aconteceu em recentes entradas nos mercados internacionais.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Sonae SGPS cancelou a oferta pública de venda (OPV) de acções da Sonae MC, a holding que detém o retalho alimentar, por se recusar a aceitar uma eventual dupla desvalorização do principal negócio do grupo. As “condições adversas nos mercados internacionais”, como alegou o grupo liderado por Paulo Azevedo em comunicado enviado ao mercado comprometia o valor das acções, que tinha um intervalo mínimo fixado em 1,40 e o máximo de 1,65 euros, a que se poderia seguir uma forte desvalorização na estreia em bolsa, como aconteceu em recentes entradas nos mercados internacionais.
A operação, que pretendia dar maior autonomia à gestão do negócio (a dispersão iria variar entre 21,7% e 33,7%) poderia ainda afectar negativamente o valor de mercado da Sonae SGPS, proprietária do PÚBLICO.
Em nota distribuída aos quadros superiores do grupo, a que o PÚBLICO teve acesso, a administração da Sonae avança que a suspensão da colocação da Sonae MC em bolsa, se ficou a dever “às condições extremamente adversas dos mercados financeiros”. “Trata-se de uma decisão baseada na impossibilidade de conseguirmos alcançar, no imediato, os objectivos estratégicos estabelecidos para esta operação e deve-se exclusivamente a uma conjuntura desfavorável que tem levado ao cancelamento de várias operações semelhantes em toda a Europa”, refere a nota.
A comissão executiva da Sonae deixou ainda uma nota de agradecimento à equipa: “Gostaríamos de agradecer a todas as equipas envolvidas neste processo, cujo trabalho ao longo destes meses foi crucial para termos hoje uma nova Sonae MC, com um perímetro reforçado e ainda mais capacitada para liderar o retalho moderno em Portugal”.
O grupo recusou-se a dizer se, melhorando as condições do mercado, admite voltar a equacionar a colocação em bolsa via oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) ou noutro formato, tipo spin off (cisão do negócio), como já fez na Sonae Capital e a Sonae Indústria. Um spin off retiraria da Sonae SGPS o seu principal negócio (ficaria com o retalho especializado, os centros comerciais, as telecomunicações e outros negócios de menor dimensão), mas daria maior autonomia a Sonae MC, cuja actividade centra-se num segmento altamente concorrencial e em profunda alteração. Factores que também terão sido avaliados por parte dos investidores durante a operação entretanto abandonada.
Acções em alta
Mesmo em condições adversas de mercado, geradas pela menor confiança dos investidores face à evolução da economia mundial ou a determinadas decisões políticas, os títulos da Sonae SGPS encerraram sexta-feira com um ganho de 5%, uma reacção dos investidores face ao cancelamento da operação. Depois da forte queda das acções norte-americanas na quinta-feira, as bolsas europeias arrancaram em terreno moderadamente positivo, acabando por encerrar encerraram mistas. A bolsa de Lisboa, que esteve a ganhar perto de 1%, terminou perto da linha de água, com uma valorização de apenas 0,25%.
A OPV da Sonae MC arrancou na passada segunda-feira e o seu êxito estava dependente dos investidores institucionais, muito sensíveis a alterações macroeconómicas. E, nos últimos meses, os mercados accionistas têm registado quedas expressivas, a reflectir os receios face à instabilidade que se vive em Itália, à subida de taxas de juro nos Estados Unidos ou à subida dos preços do petróleo nos mercados internacionais. Mas também, a preocupação dos investidores com a "guerra" comercial desencadeada por Donald Trump, especialmente em relação à China, o "Brexit", bem como o alerta do FMI sobre um possível abrandamento da economia mundial.
As condições de mercado já levaram ao cancelamento, nos últimos dias, de um número alargado de operações a nível mundial, e outras registaram uma estreia em bolsa decepcionante, como foi o caso da Aston Martin e da Funding Circle. Desde o início de Outubro, já foram abandonados os IPO da Vannin, da Exyte, da Leaseplan e da Smile Henkilostopalvelut.
Já esta sexta-feira, o presidente da Euronext Lisboa, Paulo Rodrigues da Silva, comentou o anúncio do cancelamento da oferta pública inicial da Sonae MC, sublinhando que “a operação de retalho estava condicionada à operação dos institucionais. Falámos com a empresa, falámos com o regulador, é preciso ter consciência de que é assim que o mercado funciona. com V.F.