Peritos propõem criação de lagos nas matas nacionais para conter incêndios
ICNF vai investir 15 milhões de euros até 2022 para recuperar matas nacionais dos incêndios de 2017. Em oito delas, mais de metade da área foi consumida pelas chamas.
Neste e no próximo ano a recuperação das matas nacionais afectadas pelos incêndios do ano passado vai exigir um investimento de 6,6 milhões de euros. No total, serão 15,1 milhões até 2022. Os valores foram divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), na Marinha Grande, no mesmo evento em que a comissão científica criada para a recuperação das matas litorais propôs, entre outras medidas, a criação de pequenos lagos (mesmo que artificiais) para conter a propagação das chamas.
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Neste e no próximo ano a recuperação das matas nacionais afectadas pelos incêndios do ano passado vai exigir um investimento de 6,6 milhões de euros. No total, serão 15,1 milhões até 2022. Os valores foram divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), na Marinha Grande, no mesmo evento em que a comissão científica criada para a recuperação das matas litorais propôs, entre outras medidas, a criação de pequenos lagos (mesmo que artificiais) para conter a propagação das chamas.
Os incêndios do ano passado foram particularmente devastadores para as matas litorais. Em oito delas, mais de metade da área florestal foi consumida pelas chamas. Por isso, tendo em conta os custos de preparação de terreno e plantação, gestão de combustíveis, manutenção das redes viárias e divisionais (faixas sem vegetação), é em 2018 e 2019 que se concentra a maior necessidade de investimento — até porque depois disso o ICNF não prevê custos na manutenção da rede viária florestal nem da rede de aceiros e arrifes. Em 2020 e 2021, o esforço público anual deverá rondar os 2,6 milhões; em 2022, será de 3,4 milhões. Estes valores constam do cronograma de investimentos do ICNF enviado ao PÚBLICO pelo Ministério da Agricultura.
Os trabalhos devem começar em Novembro, com a preparação de terreno para plantação na Mata Nacional das Dunas de Quiaios (1110 hectares), do Urso (890) e de Leiria (1170). Em Fevereiro e até ao final do ano, está previsto investimento na gestão de combustíveis nestas e nas matas de Pedrógão (Leiria) e das Dunas de Vagos, num total de 1773 hectares.
Já as plantações devem começar no Pinhal de Leiria em Outubro do próximo ano, dois anos após o incêndio que consumiu 86% da mata. Seguem-se as plantações nas Dunas de Quiaios e Mata do Urso no início de 2020. É na mata de Leiria e Quiaios que será alocado o maior esforço de plantação — de 1670 e 1163 hectares, respectivamente, até 2022.
A mata litoral mais afectada pelo fogo, em termos percentuais, foi a de Pedrógão: arderam 1620 hectares, 90% da área florestal. Seguiu-se o Perímetro Florestal da Mina de Alva do Azeche (87 hectares, 87%), o Pinhal de Leiria (9476 hectares, 86%) e o Perímetro Florestal das Dunas de Cantanhede (2838 hectares, 81%). E ainda as Dunas de Quiaios (63% de área ardida), a Mata do Urso (54%), as Dunas e Pinhais de Mira (53%) e o Perímetro Florestal da Alva da Senhora da Vitória (51%). A Duna de Vagos foi a mais poupada (11%).
Charcos e inventários
Estes dados constam da apresentação feita nesta quinta-feira pela Comissão Científica do Programa de Recuperação das Matas Litorais. Constituída por peritos de sete instituições de ensino superior e do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, a comissão foi criada pelo Governo, em Janeiro, com o intuito de analisar e propor melhorias nas matas nacionais que arderam. Esperava-se que o relatório tivesse sido divulgado em Julho.
Entre as dezenas de recomendações técnicas que os peritos fazem à tutela do Ambiente está a criação, de forma intercalada, de “charcos permanentes (mesmo que artificiais)” em talhões ou áreas pouco arborizadas para dificultar a propagação do fogo. Propõem faixas entre a área ardida e não ardida com 30 metros de espécies mais resistentes ao fogo (área de bordadura) e de outras, com 50 a 100 metros, com folhosas para separar os talhões puros de pinheiro-bravo. O grupo, dirigido por Margarida Tomé, catedrática do Instituto Superior de Agronomia, vinca a necessidade de monitorização a todos os níveis. Desde o risco de erosão eólica à ocupação de plantas invasoras, da proliferação de fungos e pragas à regeneração natural. E insiste no mapeamento dos habitat, na delimitação de zonas de risco e na promoção da silvicultura do pinhal-bravo.
Outro dos aspectos que é “vivamente” recomendado é a continuidade do inventário florestal que já existe na Mata Nacional de Leiria (desde 1970) e a sua extensão às restantes matas litorais. Consiste na medição, a cada cinco anos, de determinadas árvores em determinadas secções da área florestal. No Pinhal d’El-Rei isto permite que, actualmente, um quinto da mata seja inventariado.
Há ainda alguns reparos ao funcionamento do ICNF: este devia adoptar um processo de efectiva participação pública, ter equipas multidisciplinares, rejuvenescer os seus quadros técnicos. E há recomendações ao Governo. Entre outras, a necessidade de aumentar a autonomia dos gestores das matas públicas e criar uma equipa interministerial, que garanta a implementação dos programas, planos e estratégias definidos e a sua continuidade no tempo. E para que isto se concretize os planos de gestão florestal têm que ter a “dotação orçamental necessária”.
O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, anunciou que vai propor um reforço de meios para o ICNF no Conselho de Ministros de dia 25, que será “especialmente dedicado a questões que têm a ver com as florestas”.