O cerco a Azeredo Lopes está a apertar-se
Já não há forma de contornar a situação: o assalto aos paióis de Tancos é o principal pesadelo do Governo nos próximos tempos. Perante a revelação de que, afinal, havia mesmo um documento entregue pelo major Vítor Brazão ao chefe de gabinete do ministro da Defesa Nacional, já não basta ao primeiro-ministro apelar ao sentido de Estado da oposição ou insurgir-se contra a citação de documentos em segredo de justiça para o debelar. Ainda estamos no domínio da palavra contra palavra, mas, ontem, algo de novo aconteceu: a palavra de Brazão tem pela primeira vez um documento a suportá-la. Brazão falou verdade ao dizer que o documento existia. Não demoliu o desmentido “categórico” do ministro, mas deixou-o numa posição mais frágil.
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Já não há forma de contornar a situação: o assalto aos paióis de Tancos é o principal pesadelo do Governo nos próximos tempos. Perante a revelação de que, afinal, havia mesmo um documento entregue pelo major Vítor Brazão ao chefe de gabinete do ministro da Defesa Nacional, já não basta ao primeiro-ministro apelar ao sentido de Estado da oposição ou insurgir-se contra a citação de documentos em segredo de justiça para o debelar. Ainda estamos no domínio da palavra contra palavra, mas, ontem, algo de novo aconteceu: a palavra de Brazão tem pela primeira vez um documento a suportá-la. Brazão falou verdade ao dizer que o documento existia. Não demoliu o desmentido “categórico” do ministro, mas deixou-o numa posição mais frágil.
Com a entrega do memorando por parte do ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes, o eventual conhecimento do Governo das manobras de encobrimento da entrega das armas roubadas deixa de ser um disparate absoluto. O primeiro-ministro tem razão ao dizer que, no essencial, não se sabe o que esconde ou pode revelar o documento em causa. Mas é impossível não notar na sequência das informações uma dinâmica que parece corroborar a tese de Vítor Brazão – porque o major disse em juízo que tinha entregue o documento ao tenente-general Martins Pereira e Martins Pereira acaba por lhe dar razão ao remetê-lo para o Ministério Público. Nesse documento, pode estar a versão que interessava à Polícia Judiciária Militar contar ao ministro sem que ficasse expresso qualquer encobrimento. Mas o Governo sabia ao menos que havia um informador e um acordo para a entrega das armas. Não podia assobiar para o lado.
Azeredo Lopes é uma inteligência rara e não há razão por agora para que se questione a sua honorabilidade nesta história. Mas, a cada dia que passa, a sua sustentação política é cada vez mais frágil. Se Martins Pereira tinha o documento, é inverosímil que não o tenha passado ao ministro e se o ministro o recebeu, tinha a obrigação de ter encarado este problema com outro cuidado e outra transparência. Disse o primeiro-ministro: “Um dia haveremos de saber o que é que cada um sabia sobre esta história de Tancos.” Talvez não seja necessário. Saber o que já sabemos é suficiente para não ter dúvidas de que o ministro Azeredo Lopes só permanece no Governo porque António Costa é um incorrigível optimista.