Será que andas a engordar o teu animal de companhia com mimos?

A comida demasiado gulosa — ou dada em quantidades não medidas — e os extras para compensar a tua ausência ou a falta de tempo, associados a um estilo de vida sedentário, podem ser responsáveis pelo teu cão ou o teu gato estarem a ficar gordinhos.

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Jorge Zapata

Se fazes parte do clube de tutores de coração mole (como eu) e não resistes à patinha do teu cão a bater-te na perna enquanto comes ou ao ar de "Gato das Botas" do teu bichano enquanto preparas a sandes de fiambre, então este texto é para ti.

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Se fazes parte do clube de tutores de coração mole (como eu) e não resistes à patinha do teu cão a bater-te na perna enquanto comes ou ao ar de "Gato das Botas" do teu bichano enquanto preparas a sandes de fiambre, então este texto é para ti.

Repito, eu também faço parte deste clube. Adoro os meus animais e não sou imune aos seus encantos. Mas, pela saúde deles, obrigo-me a não ceder à tentação e recompenso-os de outras maneiras, de forma mais saudável e apropriada à sua natureza.

A comida demasiado gulosa — ou dada em quantidades não medidas — e os extras para compensar a tua ausência ou a falta de tempo, associados a um estilo de vida sedentário, podem ser responsáveis pelo teu cão ou o teu gato estarem a ficar gordinhos.

Apesar de achares muita graça ao refego fofinho ou à pele pendente da barriga que já toca no chão, a verdade é que “gordura não é formosura” — e esse excesso de peso que ele carrega também traz problemas de saúde e menos anos de vida.

Recompensá-lo com comida ou snacks em vez de atenção, festinhas, passeios e brincadeiras, é “estragá-lo” com mimos de uma forma que lhe pode fazer mal. Eu sei que a intenção é boa, que ele fica feliz e nos agradece com lambidelas ou turrinhas e ronrom, mas a verdade é que, da mesma maneira que uma goma ou um chocolate não substitui um abraço e um beijo de um pai, também aqui as recompensas na forma de comida nem sempre são as mais saudáveis para os animais — tanto em termos físicos como emocionais.

Ao contrário de ti, o teu animal de companhia não tem controlo sobre a alimentação e o exercício que faz, conta contigo para estabeleceres as regras e um plano. Isso inclui uma atenção especial da tua parte para reparar se algo não está bem: se o teu gato já não sobe para os móveis ou salta para a janela como antes; se o teu cão já não corre para a porta assim que dizes “vamos à rua” ou passou a ressonar muito mais enquanto dorme; se se cansa mais do que era costume.

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Richard Taylor/Flickr

É importante saberes que a obesidade é considerada uma doença crónica. E que está intimamente associada ao aparecimento mais precoce de uma série de patologias — osteoartrite, diabetes mellitus, problemas cardiovasculares e respiratórios, entre outros — que provocam uma perda significativa de qualidade de vida nestes animais.

Tal como reparas quando ele está doente e o levas ao veterinário de imediato, também aqui o médico dele te poderá ajudar a decidir se está na altura de dar início a um programa de perda e controlo de peso, com uma dieta especialmente formulada para o efeito e um plano de exercício adequado à idade e condição física. Atenção: cortar apenas nas quantidades do alimento de manutenção é batota, pouco saudável e pode mesmo provocar-lhe desequilíbrios nutricionais.

Na consulta de controlo do peso, o veterinário terá a oportunidade de perceber se o teu animal tem apenas excesso de peso (10-20% acima do peso ideal) ou se já sofre de obesidade (>30% de excesso de peso). A partir daí, desenha um plano alimentar e de exercício de acordo com as suas necessidades e particularidades específicas, que o ajude a voltar ao peso ideal.

E para quem não consegue deixar de dar algum “miminho” extra, o veterinário poderá até incluir alguns snacks saudáveis e de baixo teor calórico (como courgette, cenoura ou o alimento húmido da dieta de perda de peso), que não estraguem o resto do plano. O importante é teres noção de que os “extras” nunca devem ultrapassar os 10% do aporte calórico diário. Aqui, mais uma vez, a moderação e o bom senso devem imperar.

O tratamento deste problema depende sobretudo de ti e das mudanças que deves fazer nos teus hábitos e no ambiente que o rodeia. Para o sucesso, há que voltar a equilibrar a balança de consumo/gasto calórico. Daí a importância do exercício físico e da escolha de um alimento adequado no seu todo em termos calóricos e nutricionais, que seja eficaz na perda de peso, mas que o faça de uma forma saudável. Há muitas maneiras de se fazer isto. Não tem de ser um “castigo” nem um regime militar.

O compromisso de toda a família e o acompanhamento contínuo assegurado pela equipa veterinária são fundamentais. Se não estiverem todos “a bordo” deste barco, não vão conseguir levá-lo a bom porto. Porque o caminho é longo, trabalhoso, pode ser frustrante e haver a tendência para desistir, tal como acontece nas nossas dietas. E, por isso, sempre que tenhas alguma dúvida ou questão, não deixes de falar com a equipa veterinária que acompanha o teu animal. 

Raramente as recomendações iniciais da quantidade de alimento são as que depois prevalecem no longo prazo. Há animais que atingem o seu peso ideal em três ou quatro meses, outros levam seis meses a um ano. Há outros até que nunca o chegam a atingir (é por exemplo o caso dos mais seniores). Mas, nestes, por pouco peso que percam, ganham muito mais vitalidade e qualidade de vida. Têm de se ir fazendo os ajustes necessários, pois há animais que vão perder peso demasiado rápido (o que pode ser muito perigoso, especialmente nos gatos) e outros que vão precisar de fazer uma maior restrição calórica e intensificar o exercício para voltarem a ficar fit.

Muito mais do que os números na balança, o que interessa são as melhorias que vais notar ao longo das semanas ao ver o teu animal de estimação mais brincalhão, feliz, e a fazer coisas que não fazia desde que era jovem. Quando perdem peso, parece que “ganham pilhas novas”. E tu ganhas um companheiro mais activo e saudável por mais tempo.