Renamo conquista número recorde de autarquias em Moçambique
ONG avisa que a divulgação decorre de forma “preocupantemente” lenta onde a oposição lidera.
São umas eleições autárquicas que representam muito mais do que isso. São as primeiras desde a morte do líder histórico da Renamo, Afonso Dhlakama, e as primeiras com a lei eleitoral que este negociou com o Presidente, Filipe Nyusi. E acontecem quando os partidos já pensam nas presidenciais do próximo ano.
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São umas eleições autárquicas que representam muito mais do que isso. São as primeiras desde a morte do líder histórico da Renamo, Afonso Dhlakama, e as primeiras com a lei eleitoral que este negociou com o Presidente, Filipe Nyusi. E acontecem quando os partidos já pensam nas presidenciais do próximo ano.
Os moçambicanos votaram na quarta-feira. A contagem já devia estar terminada ao final do dia desta quinta-feira, mas ainda decorria, mais lenta em alguns municípios onde a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) liderava, avisou a ONG Centro de Integridade Pública (CIP), que fez o seu próprio escrutínio, paralelo ao da Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
“Os níveis de processamento de resultados são preocupantes em alguns municípios. É o caso de Moatize, Cuamba, Nacala e Malema, onde, segundo os nossos correspondentes a Renamo está a liderar na tendência de voto. Na página web da CNE os níveis de processamento nestas cidades são ainda zero”, alertava a meio da tarde a organização de promoção da democracia.
Oficialmente, a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), no poder, tinha já garantido a vitória em 32 autarquias, a Renamo em seis e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) em um – a cidade da Beira, que o líder do partido surgido de uma cisão da Renamo, Daviz Simango, governa há três mandatos. De resto, o MDM ressentiu-se do regresso da Renamo às eleições locais (boicotara as últimas) e do primeiro embate directo entre as duas formações, não chegando aos 10% dos votos em 51 dos 53 municípios do país.
Segundo o CIP, a Renamo “está em condições de ganhar 10 ou mais municípios, o que seria um máximo histórico”, já que o partido nunca governou em mais do que cinco. Assegurada estava a vitória em Chiúre, Monapo, Alto Mólocué, Ilha de Moçambique e Nacala, liderando ainda a contagem em Quelimane, Nampula, Malema, Cuamba, Moatize e Angoche. A vitória em Chiúre, com 58% dos votos (contra 38% da Frelimo), é a primeira de sempre do partido na província de Cabo Delgado, no Norte do país.
Independentemente dos resultados finais, estas são umas eleições particularmente disputadas num país que viveu 16 anos de guerra civil mais três, entre 2013 e 2016. À chegada às urnas, a Frelimo só não tinha o poder em quatro cidades. Nampula e Gurué, na província de Nampula, Quelimane, na Zambézia, e a Beira, em Sofala.
Os dados do CIP indicavam que a participação foi elevada do que nas anteriores eleições em quase todos os municípios. Sete milhões de moçambicanos estavam registados para votar.