Exportações de componentes para automóvel atingem valor recorde

Vendas ao exterior cresceram 8% até Agosto, apesar de uma queda significativa num dos principais mercados de Portugal, o Reino Unido.

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O sector inclui 220 empresas com grande dispersão tecnológica, que vai da metalomecânica aos tecidos Fernando Veludo/NFactos/Arquivo

A indústria de componentes para automóveis chegou ao fim do mês de Agosto com um novo recorde nas exportações. Com 5459 milhões de euros de receitas, as empresas do sector têm razões para celebrar, até porque este crescimento de 8% face a 2017 é conseguido num período em que um dos principais mercados, o Reino Unido, contribuiu com uma queda significativa de 11,9%, segundo os dados da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA).

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A indústria de componentes para automóveis chegou ao fim do mês de Agosto com um novo recorde nas exportações. Com 5459 milhões de euros de receitas, as empresas do sector têm razões para celebrar, até porque este crescimento de 8% face a 2017 é conseguido num período em que um dos principais mercados, o Reino Unido, contribuiu com uma queda significativa de 11,9%, segundo os dados da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA).

"O sector mantém-se extremamente dinâmico, crescendo a uma taxa bem superior à verificada para o sector na Europa, cuja taxa se situa entre os 2% e 2,5%, o que significa que a indústria portuguesa está a ganhar quota de mercado", salienta Adolfo Silva, da direcção da AFIA, em declarações ao PÚBLICO.

São notícias positivas para um universo composto por 220 empresas, maioritariamente localizadas entre os distritos de Aveiro e Viana do Castelo (66%). Outras conclusões relevantes a partir dos dados disponibilizados nesta quinta-feira: a União Europeia é o principal cliente (90% das vendas) e reforçou essa posição (cresceu 8,7%); Espanha mantém-se como maior mercado das empresas portuguesas (vendas de 1372 milhões, mais 9,8%); mas é no segundo mercado mais relevante, a Alemanha, que se regista a maior taxa de crescimento (mais 13%, para 1152 milhões).

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Efeito "Brexit" e um "problema gravíssimo" chamado ferrovia

No que diz respeito à queda verificada nas vendas para o Reino Unido, o mesmo responsável da AFIA sustenta que se deve a uma "combinação de factores" que vão desde a antecipação de um "efeito recessivo" que radica nas expectativas negativas sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (o "Brexit"), até a uma queda na produção "provavelmente pela chegada ao fim de vida de alguns modelos relevantes" produzidos sobretudo em Inglaterra. 

O sector dos componentes para automóveis envolve hoje uma grande panóplia de tecnologias e empresas diversas, com produção de componentes em áreas tão distintas como electrónica, eléctrica, metalomecânica, mas também têxtil, plástico, numa grande dispersão no tecido industrial que emprega no total 55 mil pessoas.

Os representantes desta indústria estimam que a tendência de subida se manterá até ao final do ano e se prolongará em 2019, até porque terá uma exposição "reduzida" a alguns dos factores de risco do comércio mundial, como o crescente proteccionismo e as taxas alfandegárias de mercados como EUA, China e o bloco europeu. Por outro lado, um efeito negativo do "Brexit" pode ter impacto nas vendas para um mercado que, neste momento, vale 12% das vendas desta indústria para o estrangeiro – ainda que seja relevante, o cenário actual não tira o sono aos industriais.

"Portugal tem mão-de-obra flexível e adaptável, e um custo competitivo. Temos tido capacidade de mão-de-obra para responder aos investimentos que têm sido feitos até agora, mas há custos de contexto desfavoráveis, desde logo a energia e também a logística", argumenta Adolfo Silva, acentuando a importância da questão logística como "um problema gravíssimo" a médio prazo.

Isto porque o custo de transporte é sobretudo rodoviário – a via terrestre representa 95% das necessidades de transporte, e "a ferrovia é insuficiente para responder às necessidades ou para ser uma alternativa", segundo Adolfo Silva. É um facto acrescido quando o preço dos combustíveis está a aumentar. "Vai ser um problema gravíssimo que se vai revelar daqui a cinco ou dez anos, porque o país não está a fazer o que é necessário em termos de investimento", refere Adolfo Silva.

Regressando aos números divulgados nesta quinta-feira pela AFIA: comparando com as vendas de há oito anos, o resultado até Agosto fica 67% acima das receitas do período homólogo de 2010; comparado com 2013, o crescimento situa-se nos 45%.

Além disso, 71% do total das exportações actuais vai para quatro mercados (Espanha, Alemanha, França e Reino Unido, por ordem decrescente); os mercados fora da Europa registaram um crescimento de 3,2% e representam apenas 10% das receitas; e os componentes para automóveis representam agora 14% das exportações portuguesas de bens transaccionáveis; a venda destes bens para fora levou Portugal a encaixar 38.900 milhões de euros nos primeiros oito meses deste ano, um crescimento de 7% face ao período homólogo de 2017.