Prova de vida
Cineasta underground com forte ligação a Portugal, F. J. Ossang filmou entre nós 9 Dedos, mais um exemplo do seu cinema de prazer canibal cinéfilo.
Músico, escritor, cineasta, o francês F. J. Ossang é figura de culto que mantém intacta, desde o início da sua produção nos anos 1980, uma crença no mash-up possível entre a anarquia libertária do-it-yourself do punk e a convenção da série Z e do filme de género, numa fruição do simples prazer de contar uma história. Jogando nos tabuleiros do policial, da espionagem, da ficção-científica ao longo de uma obra irregular tanto no tempo como na qualidade, Ossang tanto se inspira nos velhos romances da série noire como na BD franco-belga, nas produções baratas de Hollywood pensadas como complemento de programa com o seu retro-futurismo de orçamento inexistente. O conceito é simples: desconstruir e reconstruir dentro de coordenadas específicas (preto e branco, realidades alternativas, estilização formal, maximização de lugares-comuns). Ossang tem uma longa relação com Portugal, onde filmou por várias vezes, e é também esse o caso de 9 Dedos, sua quinta longa-metragem, co-produção portuguesa que venceu o prémio de realização em Locarno 2017.
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Músico, escritor, cineasta, o francês F. J. Ossang é figura de culto que mantém intacta, desde o início da sua produção nos anos 1980, uma crença no mash-up possível entre a anarquia libertária do-it-yourself do punk e a convenção da série Z e do filme de género, numa fruição do simples prazer de contar uma história. Jogando nos tabuleiros do policial, da espionagem, da ficção-científica ao longo de uma obra irregular tanto no tempo como na qualidade, Ossang tanto se inspira nos velhos romances da série noire como na BD franco-belga, nas produções baratas de Hollywood pensadas como complemento de programa com o seu retro-futurismo de orçamento inexistente. O conceito é simples: desconstruir e reconstruir dentro de coordenadas específicas (preto e branco, realidades alternativas, estilização formal, maximização de lugares-comuns). Ossang tem uma longa relação com Portugal, onde filmou por várias vezes, e é também esse o caso de 9 Dedos, sua quinta longa-metragem, co-produção portuguesa que venceu o prémio de realização em Locarno 2017.
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VIDEO_CENTRAL
Remetendo para um dos clássicos do cinema americano pós-Segunda Guerra, o Beijo Fatal de Robert Aldrich adaptado de Mickey Spillane, 9 Dedos é exemplar dessa estética de estilização canibal — a história de um criminoso embarcado a bordo de um “navio fantasma”, “holandês voador” com uma carga fatal, evoca igualmente as aventuras de Spirou, as desconstruções de Godard e os clássicos B da Warner, transpirando cinefilia e paixão em cada fotograma. Mas, ainda assim, há uma sensação de 9 Dedos ser menos inspirado, mais arrastado do que obras anteriores, como se Ossang se estivesse a repetir sem a mesma energia nem originalidade de títulos como Dharma Guns ou L’Affaire des divisions Morituri. Curiosamente, o cinema de Ossang é hoje mais actual do que era quando o realizador começou em 1980, devido à ascensão de conterrâneos igualmente cinéfilo-transgressivos como Yann Gonzalez ou Bertrand Mandico; 9 Dedos faz prova de vida, mas falta-lhe a garra que Ossang já provou ter. A longa surge em programa duplo antecedido por Como Fernando Pessoa Salvou Portugal de Eugène Green.