A última oportunidade
Rui Rio parece querer fazer diferente e entendeu a diferença entre a sobrevivência política e o sucesso político.
Hoje, o paradigma do líder político assenta em bases que são definidas no seio dos próprios partidos políticos e nas ideias defendidas por um status quo, uma pequena oligarquia, que procura não mudar nada. Já em 2016 escrevi sobre este tema e objetivamente pouco ou nada mudou.
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Hoje, o paradigma do líder político assenta em bases que são definidas no seio dos próprios partidos políticos e nas ideias defendidas por um status quo, uma pequena oligarquia, que procura não mudar nada. Já em 2016 escrevi sobre este tema e objetivamente pouco ou nada mudou.
Existem vários fatores que têm provocado o afastamento dos cidadãos da participação política, entre os quais o facto de os líderes, nos últimos anos, desiludirem os seus eleitores. E isto tem levado cada vez maior número de pessoas a questionar os atuais líderes, a sua ação e o próprio futuro de Portugal.
Começa a ser óbvio que a necessidade de encontrar um novo paradigma de liderança é um imperativo nacional. Esta deve ser, aliás, uma discussão e um debate centrado na verdadeira necessidade de Portugal enquanto país periférico e dependente no quadro da União Europeia.
A política faz-se para as pessoas e com as pessoas, e um qualquer líder que despreze esta verdade fracassará.
Isto leva-nos à chamada “pergunta de um milhão de euros”. Que líder queremos para o futuro? Será aquele que faz as perguntas certas ou aquele que nos oferece as respostas certas? Será um coordenador ou um catalisador? Será o homem do leme ou o navegador que estabelece a direção? Um futuro líder deverá ser um mestre na arquitetura financeira, económica ou social? Será um político? Um tecnocrata? Um gestor e um empreendedor de sucesso? Alguém com total independência do status quo? Ou um pouco de tudo isto?
Provavelmente é um líder com um pouco disto tudo. Alguém que desafie a “corte” de Lisboa (os interesses instalados)... alguém que possa agir em função de convicções (sem utopias e eleitoralismos), alguém que comunique para as pessoas e não para os media (mesmo que seja politicamente incorreto)... alguém que seja visto pelos portugueses como intrinsecamente sério (qualidade sine qua non para liderar)... alguém que corra como um Rio até atingir o Mar (que ultrapassa todos os obstáculos).
Assumamos que se fala do líder do PSD, afinal enquadra-se no perfil. Tendo em conta este cenário e sabendo que hoje é consensual que para ser um bom líder não basta ser um bom político, Rui Rio parece estar confortável com os desafios de um novo tempo onde a globalização é hoje uma realidade e onde os mercados comandam e definem as circunstâncias.
Os modelos de governação e os líderes do presente e do futuro têm de se adaptar aos novos tempos e Rio, apesar do ruído, está a trilhar esse caminho que talvez nunca tenha sido desbravado.
Trata-se de um caminho que põe em causa a estratégia das muitas das lideranças passadas que colocaram como prioridade a prática de técnicas de sobrevivência, em vez de darem prioridade ao desenvolvimento e ao sucesso do país.
Rui Rio parece querer fazer diferente e entendeu a diferença entre a sobrevivência política e o sucesso político. Por isso parece estar já a adaptar-se às novas realidades inovando na forma de agir e recriando o modelo de liderança assente nas bases corretas, de acordo com os interesses dos portugueses.
A ser assim, Rui Rio não só sobreviverá, como terá o sucesso associado à forma eficaz de gestão que defende para o país e à força das suas convicções. Mesmo que vozes residuais lhe vaticinem a morte política prematura.
Mas o líder do PSD não deve ceder, aliás, deve procurar o sucesso de Portugal evitando a miopia que apenas vê a sobrevivência da sua liderança. Rui Rio deve abraçar uma estratégia de longo prazo, assente num programa verdadeiramente social-democrata, onde, sem tabus e sem dogmas, devem ser defendidos pactos de regime que garantam a estabilidade que perdurará no tempo garantindo um futuro de sucesso para Portugal.
Ninguém procura um D. Sebastião, mas sim uma alternativa ao estilo “ilusionista” e pouco confiável de António Costa. Os portugueses não querem um líder que diga hoje (cinco vezes) que o Infarmed vai para o Porto e afinal amanhã já não vai. Os portugueses não querem um líder que enche a boca com a palavra dada, mas que nunca lhes dá uma palavra honrada.
Os portugueses querem um líder que seja motivador e que possa renovar a confiança dos cidadãos, cada vez mais afastados. Objetivamente procura-se “um de nós”, que transmita confiança, seriedade e, acima de tudo, esperança. Os portugueses procuram um líder, em quem possam depositar o futuro dos seus filhos e dos seus netos.
Rui Rio, como líder do maior partido com assento parlamentar e candidato a primeiro-ministro, tem a responsabilidade de criar o futuro e de inspirar os líderes de amanhã. Hoje é o tempo certo para resistir aos obstáculos e ter a coragem de implementar novas soluções que rompam com o status quo.
O líder do PSD tem a oportunidade de poder mudar uma receita falhada com mais de 40 anos de vida e os portugueses não lhe iriam perdoar que a transformasse numa oportunidade perdida... isso, sim, seria imperdoável.
As lideranças que defendem genuinamente as suas causas e que procuram o sucesso e bem-estar do seu povo são as únicas capazes de mudar e de garantir que Portugal, ou qualquer outro país, tem futuro.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico