Trump vence a batalha pelo juiz Kavanaugh, mas a guerra continua em Novembro
Com a nomeação de um segundo juiz em dois anos consecutivos, o Presidente e o Partido Republicano dão ao país um Supremo conservador, mas o Partido Democrata ameaça com o impeachment.
Após semanas de uma batalha política cheia de avanços e recuos, acordos de última hora e acessos de raiva e desespero que já não se viam há décadas no Senado norte-americano, o Partido Republicano acabou por se manter unido no momento da votação sobre a nomeação do juiz Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal, este sábado.
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Após semanas de uma batalha política cheia de avanços e recuos, acordos de última hora e acessos de raiva e desespero que já não se viam há décadas no Senado norte-americano, o Partido Republicano acabou por se manter unido no momento da votação sobre a nomeação do juiz Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal, este sábado.
A contagem final, de 50-48, é um espelho da divisão que existe no país sobre as duas discussões que estiveram em causa neste processo: sobre o futuro do próprio Supremo Tribunal, agora com uma maioria de juízes conservadores, e sobre a forma como a sociedade norte-americana está a assimilar a chegada em força do movimento #MeToo.
É também a maior vitória política do Presidente Trump desde que chegou à Casa Branca, e um momento de glória para o líder da maioria do Partido Republicano no Senado, Mitch McConnell.
Para Trump, porque consegue nomear o segundo juiz conservador para o Supremo em dois anos consecutivos, cumprindo uma das principais promessas ao seu eleitorado; para McConnell, porque já pode pôr um visto no topo da lista de desejos que fez quando chegou ao Senado, há 34 anos: deixar ao seu partido, e ao país, um Supremo com uma maioria de juízes conservadores, e que assim se deverá manter nas próximas décadas — entre os nove juízes, cujas nomeações são vitalícias, há apenas dois com mais de 80 anos e são ambos do lado mais progressista. No outro extremo estão as duas escolhas de Trump: Kavanaugh tem 53 anos e Gorsuch tem 51 anos.
Apesar de o resultado da votação não ter fugido muito à divisão de forças no Senado, onde os republicanos têm uma maioria de 51-49, um senador de cada partido votou contra a maioria do seu lado. No Partido Republicano, a senadora Lisa Murkowski já tinha indicado que iria opor-se à nomeação do juiz; no lado do Partido Democrata, o voto contra a corrente veio do senador Joe Manchin, da Virgínia — que vai lutar pela sua reeleição dentro de um mês, nas eleições para o Congresso, num estado onde Trump bateu Hillary Clinton nas presidenciais de 2016 com uma vantagem de 42 pontos.
No final, a senadora Murkowski declarou um voto de "presente", para que o processo não se arrastasse pela madrugada de domingo. Em causa estava a ausência de um senador do Partido Republicano — Steve Daines, do Montana, estava no casamento da filha no momento da votação. Se o voto de Murkowski fosse contado como "não", o Senado teria de esperar pelo regresso de Daines — se votasse contra, ficaria 50-50 e o resultado teria de ser desempatado pelo vice-presidente dos EUA, Mike Pence, na qualidade de presidente do Senado por inerência.
A votação do #MeToo
Mais do que as credenciais conservadoras com que Kavanaugh se apresentou à nomeação, foram as acusações de abuso sexual feitas contra ele por três mulheres que puseram em causa todo o processo.
Antes de a professora universitária Christine Blasey Ford ter acusado Kavanaugh de a ter tentado violar numa festa no início da década de 1980, quando ambos eram adolescentes, o juiz estava lançado para chegar ao Supremo sem problemas. A votação seria renhida, mas era provável que os senadores democratas que se juntaram ao Partido Republicano no ano passado, para aprovarem a nomeação do juiz Gorsuch, voltassem a fazer o mesmo.
Lá fora, enquanto os senadores discursavam, centenas de pessoas gritavam palavras de ordem contra o juiz, que vêem como mais um exemplo de como os testemunhos das vítimas de abusos sexuais ainda ficam em segundo plano. E lá dentro, nas galerias, enquanto os senadores se levantavam para dizerem "sim" ou "não", os gritos contra Kavanaugh também se fizeram ouvir.
Mas se a Casa Branca e o Partido Republicano venceram esta batalha, o Partido Democrata garante que a guerra ainda não acabou: os congressistas do Partido Democrata na Câmara dos Representantes, onde nascem os processos de impeachment contra Presidentes e outros responsáveis, já prometeram que vão escrutinar as declarações de Kavanaugh sob juramento, em busca de mentiras. Se as encontrarem, a abertura de um processo de impeachment é quase certo, já que o Partido Democrata deverá reconquistar a maioria na Câmara dos Representantes nas eleições de Novembro.