Pedro Duarte, o "craque" da bola que quer fintar Rui Rio

Pedro Duarte, 45 anos, cortou com a facção de Passos na JSD e já afrontou o ex-autarca do Porto. Afastado da vida política activa nos últimos anos, o ex-deputado já se posicionou para a corrida à liderança do PSD.

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Adriano Miranda

Rezava a lenda que o candidato a primeiro-ministro que conseguisse subir ao topo da ilha do Pico ganhava as legislativas. Foi assim com Mário Soares (ainda que de helicóptero), António Guterres e Durão Barroso. O então presidente do PSD superou esta espécie de prova de resistência ao lado do líder da JSD Pedro Duarte. Nesse dia à noite nenhum dos dois conseguia disfarçar as mazelas nos joelhos. Um tornou-se primeiro-ministro, o outro desafia agora a liderança de Rui Rio.

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Rezava a lenda que o candidato a primeiro-ministro que conseguisse subir ao topo da ilha do Pico ganhava as legislativas. Foi assim com Mário Soares (ainda que de helicóptero), António Guterres e Durão Barroso. O então presidente do PSD superou esta espécie de prova de resistência ao lado do líder da JSD Pedro Duarte. Nesse dia à noite nenhum dos dois conseguia disfarçar as mazelas nos joelhos. Um tornou-se primeiro-ministro, o outro desafia agora a liderança de Rui Rio.

Aos 25 anos, Pedro Duarte foi o "jota" que cortou com a facção de Passos Coelho na JSD, lançou na agenda a irreverência de propostas como a legalização da prostituição, discordou publicamente do então poderoso autarca Rui Rio e bateu o pé a Alberto João Jardim. Como director de campanha conquistou a saborosa vitória do candidato presidencial Marcelo Rebelo de Sousa, mas pesa-lhe a derrota de Luís Filipe Menezes, nas autárquicas de 2013, e da sua própria como candidato à Assembleia Municipal do Porto em 2017.

Nasceu no Porto, no dia 12 de Julho de 1973, é o filho mais novo de uma farmacêutica e de um professor de História, militante do PSD. Como qualquer miúdo da sua idade daquela altura brincava na rua. “O Pedro era um craque, jogávamos muito à bola e ele jogava bem”, recorda Francisco Ramos, presidente do movimento de apoio a Rui Moreira, que vivia no mesmo prédio que Pedro Duarte, perto do estádio do Bessa. Pedro chegou a jogar na equipa do Boavista em jogos particulares e a treinar no Futebol Clube do Porto. Os dois vizinhos viriam a conquistar a direcção da associação de estudantes da escola Clara de Resende. 

Foi quando Cavaco Silva era primeiro-ministro e líder do PSD, e reflectia uma “imagem de modernidade” que os outros partidos não tinham, como assume Pedro Duarte, que se inscreveu na JSD. Tinha 15 anos. Chegou à JSD pela mão de Sérgio Vieira, um amigo comum de Francisco, e juntos começaram por conquistar o núcleo do PSD-Porto, a concelhia e, depois, a distrital.

Apesar de terem escolhido cursos diferentes – Pedro licenciou-se em Direito, na Católica – a amizade de infância não se perdeu. Francisco Ramos aceitou fazer parte do Manifesto X, o projecto de reflexão política lançado por Pedro Duarte que tem a primeira realização nesta sexta-feira, às 18h, no Facebook: é a "Conferência Vox", sobre As Artes, a Cultura e as Pessoas.

Aos 20 anos Pedro Duarte foi eleito membro da assembleia da freguesia de Ramalde. Na mesma altura foi também eleito, como independente, Manuel Pizarro, futuro secretário de Estado da Saúde do Governo de Sócrates. “Era muito admirado. Toda a gente achava que aquele rapaz ia ter futuro na política. Liderava uma bancada que tinha gente muito mais velha e com mais qualificações”, recorda o actual vereador do PS da Câmara do Porto. Manuel Pizarro elogia-lhe a “coragem” de assumir “em voz alta” as suas convicções.

“Corajoso”, sim, concorda Nuno Freitas, um dos seus companheiros da "jota", mas que não gosta “do confronto pelo confronto”. Mas foi com uma fractura de uma linha política interna na JSD que Pedro Duarte chegou a líder da estrutura, em 1998. Candidatou-se contra Jorge Moreira da Silva, que tinha sido eleito anteriormente com o apoio de Passos. Perdeu por 13 votos. Mas Moreira da Silva caiu num conselho nacional seis meses depois. É nesse momento que Pedro Duarte se torna líder da JSD. O secretário-geral dessa primeira equipa é José Eduardo Martins com quem estabeleceu uma relação muito próxima. “É um miúdo muito bem-educado. Nunca levantei a voz ao Pedro”, afirma o ex-deputado, que foi apoiante de Rui Rio nas directas e que foi dos primeiros a aplaudir o Manifesto X. Reconhece-lhe qualidades: “É organizado, metódico e tem uma enorme capacidade de trabalho. Não tem a soberba de achar que faz tudo sozinho.“

Durante a liderança da JSD ficou célebre a “guerra” com Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional da Madeira. Depois de Pedro Duarte ter criticado declarações que considerou racistas sobre ajuda a timorenses, Alberto João chamou-lhe “pateta do presidente da JSD” e acabou por propor um processo de expulsão do partido que nunca teve seguimento. Na altura, a liderança de Durão Barroso não convidou o líder da JSD para intervir na rentrée seguinte. Esse episódio, como nota José Luís Arnaut, então secretário-geral, não se reflectiu no empenho da JSD na campanha das legislativas de 2002, em que a "jota" elegeu 14 deputados. 

A somar à vitória eleitoral foi durante o seu mandato que a JSD lançou o website – o primeiro entre as forças políticas – e colocou na agenda questões como a pílula do dia seguinte, a legalização da prostituição e o fim do serviço militar obrigatório.

Depois de ter sido secretário de Estado da Juventude no Governo liderado por Santana Lopes, a experiência política foi engrossando com os sucessivos mandatos como deputado, presidente de comissão e vice-presidente da bancada parlamentar. No partido, foi líder da concelhia do PSD-Porto quando Rio já tinha conquistado a maioria absoluta na câmara. E é nessa altura que assume, numa entrevista, que Rio não seria o seu candidato ao Porto. Foi levado a demitir-se.

Em 2011 deixou o Parlamento e foi para a Microsoft. Já depois foi crítico de Passos Coelho, desafiando-o à “reinventar-se” na oposição.

Os mais próximos reconhecem-lhe a “preparação” e a “substância”. Os críticos também. Mas apontam-lhe a volatilidade. “Já foi de tudo: santanista, marcelista e menezista”, diz um social-democrata, que já teve responsabilidades no partido. Falta-lhe ainda – diz a mesma fonte – carisma: “Nos congressos ninguém pára para o ouvir.”

Nas últimas directas abdicou de ser candidato contra Rui Rio. Levou ao congresso deste ano com uma moção assinada por Carlos Moedas, visto como um dos rostos do PSD do futuro. O Comissário Europeu não quis falar ao PÚBLICO sobre o seu parceiro da moção. Nem o actual Presidente da República que o escolheu para o seu director de campanha nas presidenciais de 2016. Foi um período em que interrompeu a sua vida profissional. Agora, promete contribuir para destronar Rio. E, quem sabe, subir à ilha do Pico.