Montepio paga salários a duas equipas de gestão em simultâneo
Até ao final de 2018, Caixa Económica ainda está a pagar a antigos gestores liderados por Félix Morgado, ao mesmo tempo que assume os vencimentos da nova administração chefiada por Carlos Tavares.
O banco da Associação Mutualista Montepio Geral está a pagar, até final do ano, ordenados e outros benefícios (como direitos de reforma, cartões de crédito ou acesso a viaturas), a duas comissões executivas diferentes, apesar de apenas uma, a liderada por Carlos Tavares, estar em funções. Só em salários brutos, a Caixa Económica Montepio Geral irá assumir, em 2018, mais de três milhões de euros.
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O banco da Associação Mutualista Montepio Geral está a pagar, até final do ano, ordenados e outros benefícios (como direitos de reforma, cartões de crédito ou acesso a viaturas), a duas comissões executivas diferentes, apesar de apenas uma, a liderada por Carlos Tavares, estar em funções. Só em salários brutos, a Caixa Económica Montepio Geral irá assumir, em 2018, mais de três milhões de euros.
O que levou a CEMG a responsabilizar-se pelos elevados encargos com o principal órgão de gestão foram os compromissos financeiros assumidos até 31 de Dezembro com duas comissões executivas. A que foi “afastada” pelo accionista do banco, a AMMG, em Março de 2018, e que era chefiada por Félix Morgado (João Neves, Luís Almeida, Fernando Ferreira Santo, João Lopes Raimundo, Jorge Bravo, Luís Resende de Jesus), e aquela que a foi substituir, presidida por Carlos Tavares (Nuno Mota Pinto, José Mateus, Pedro Ventaneira, Carlos Leiria Pinto, Helena Costa Pina).
E o resultado é agora conhecido: Tomás Correia “afastou” a equipa de Félix Morgado antes de o mandato terminar em Dezembro de 2018, sem alegar justa causa e por motivos ainda por esclarecer. E o banco terá agora de cumprir até ao último dia do ano o estabelecido no contrato, quer em termos de pagamento de salários, quer de outros direitos adicionais (pensões de reforma, viatura, cartão de crédito).
Em 2017, excluindo os benefícios extra, a remuneração bruta anual da equipa de Félix Morgado ascendeu a 1,9 milhões de euros (14 meses). O presidente auferiu mensalmente em torno dos 30 mil euros, enquanto o salário dos seis vogais se situou à volta de 17,5 mil euros, cada.
Aos vencimentos somaram-se ainda cerca de 1,74 milhões de euros de custos com pensões futuras e 430 mil euros dos habituais descontos para a segurança social. E o total de encargos que a CEMG assumiu o ano passado com os sete executivos perfez mais de quatro milhões de euros.
Dado que a tabela salarial do principal órgão de gestão da CEMG e que vigorou em 2017 se mantém ainda viva é possível fazer contas: em 2018, o banco terá mais de três milhões de euros de encargos salariais com os 13 executivos, os que foram afastados e os que estão a trabalhar (assumindo que a equipa de Tavares só começou a ser remunerada a partir de Março).
De acordo com o que o PÚBLICO apurou, por acordo negociado com Tomás Correia, em representação do accionista AMMG, a equipa de Félix Morgado recebeu antecipadamente, e a título de indemnização, a totalidade das remunerações até 31 de Dezembro de 2018.
No bolo salarial dos órgãos sociais da CEMG, que em 2017 chegou a quase 5,9 milhões de euros, destacou-se ainda 1,07 milhões de euros de remunerações atribuídas aos onze membros do CGS-Conselho Geral e de Supervisão (que se designa agora de conselho de administração não executivo). Os normais descontos para a Segurança Social cifraram-se em 195 mil euros.
Por decisão da comissão de vencimentos, os não executivos do banco Montepio passaram a ter um benefício contemplado nos estatutos do grupo mutualista: direitos adquiridos na proporção de cinco por cento sobre o salário fixo base por cada ano de serviço. Em 2017, os custos com pensões de reforma dos onze membros do CGS da CEMG foram de 505 mil euros.
No grupo Montepio, o nível de vencimentos da gestão executiva do banco só equipara com a tabela praticada no topo da maior instituição da economia social, a Associação Mutualista Montepio Geral, que em 2017 pagou em salários aos cinco executivos (Tomás Correia, Carlos Beato, Virgílio Lima, Miguel Coelho e Ribeiro Mendes) cerca de dois milhões de euros brutos.
Às remunerações da administração da AMMG, adicionam-se outras responsabilidades, como os direitos com a reforma futura, que totalizaram em 2017 mais de um milhão de euros. Os descontos para a Segurança Social ascenderam a 560 mil euros. O custo total ultrapassa os 3,5 milhões de euros, a que se junta, por exemplo, o direito a usar cartões de crédito e viaturas topo de gama.
No próximo dia 7 de Dezembro cerca de 600 mil associados da AMMG vão ser chamados a ir votar os novos corpos sociais. Umas eleições que já estão a dividir o núcleo duro de Tomás Correia. A gestão executiva já tomou posição: Ribeiro Mendes candidata-se à liderança da mutualista, com o apoio de Miguel Coelho, enquanto Carlos Beato e Virgílio Lima se posicionam na lista que vier a ser proposta por Tomás Correia.