Juízes terão de acompanhar evoluções sociais e evitar preconceitos, avisa novo presidente do Supremo
"Importa assegurar aos cidadãos que a justiça portuguesa a todos trata por igual", sendo um dos seus objectivos "não discriminar qualquer indivíduo, em razão do sexo, do género, da orientação sexual, da raça, da língua, da religião e das convicções", observou António Piçarra.
O novo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, António Piçarra, disse esta quinta-feira que os juízes terão de "acompanhar as evoluções sociais e apartar-se de quaisquer preconceitos ou pré-juizos culturais retrógrados, garantindo o seu olhar imparcial e isento sobre cada caso concreto".
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O novo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, António Piçarra, disse esta quinta-feira que os juízes terão de "acompanhar as evoluções sociais e apartar-se de quaisquer preconceitos ou pré-juizos culturais retrógrados, garantindo o seu olhar imparcial e isento sobre cada caso concreto".
Na sua intervenção de tomada de posse, o magistrado assegurou ainda que a justiça portuguesa trata todos por igual, referindo-se a recentes críticas de "alegada insensibilidade, pessoal e cultural" dos tribunais e juízes para abordar determinados temas."No cenário actual, uma das mais intensas críticas apontadas aos tribunais e aos juízes, em geral, prende-se com a alegada insensibilidade, pessoal ou cultural, para abordar determinados temas específicos, como por exemplo, a violência de género, a discriminação social e o tratamento das minorias", reconheceu António Joaquim Piçarra.
Para acrescentar em seguida que "importa afirmar publicamente e assegurar aos cidadãos que a justiça portuguesa a todos trata por igual, sendo seu desiderato não discriminar qualquer indivíduo, em razão do sexo, do género, da orientação sexual, da raça, da língua, da religião e das convicções políticas ou ideológicas".
Lembrou que os tribunais têm proferido, anualmente, um sem número de sentenças condenatórias por crimes de violência de género, que assentam na credibilidade das vítimas, na ponderação da diversidade de danos que tais condutas acarretam."Pode, por isso, a comunidade confiar nos seus tribunais como o principal baluarte de defesa e de respeito pela igualdade de todos", frisou.
Segundo António Piçarra, "não há que esconder que os juízes detêm os seus quadros mentais, culturais e sociais e individuais que balizam a sua concepção e apreensão da realidade, mas não é justo ou seguro afirmar, como alguns propalam, que são alheios aos movimentos cívicos e sociais que ecoam não só em Portugal, mas por todo o mundo".
"Neste, como em outros temas similares, terão de acompanhar as evoluções sociais e apartar-se de quaisquer preconceitos ou pré-juizos culturais retrógrados, garantido o seu olhar imparcial e isento sobre cada caso concreto", afirmou.
A cerimónia de tomada de posse de António Piçarra, que sucede a Henriques Gaspar, contou com as presenças do Presidente da República, do primeiro-ministro, da procuradora-geral da República e da ministra da Justiça, do ministro da Administração Interna e do bastonário do advogados, entre outras figuras. No final, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa não quiseram prestar declarações aos jornalistas, numa altura em que o caso do reaparecimento das armas furtadas em Tancos está na ordem do dia.
Também a Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, não quis esclarecer se o Ministério Público pretende ouvir ou inquirir o ministro da Defesa, após o jornal Expresso ter noticiado que o ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar, o major Vasco Brazão, assegurou ao juiz de instrução do caso Tancos ter dado conhecimento a Azeredo Lopes da encenação montada na Chamusca mais de um mês após a recuperação das armas.
O Supremo é um tribunal superior que julga recursos em matéria de direito e aprecia pedidos de habeas corpus para libertar arguidos que consideram que a sua detenção ou prisão é ilegal.