Ministro da Defesa foi informado da encenação da recuperação das armas de Tancos, diz ex-porta-voz da PJM. Azeredo Lopes nega
Azeredo Lopes desmentiu categoricamente ter tido conhecimento da alegada acção de encobrimento. Primeiro-ministro mantém confiança no ministro da Defesa.
O ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, terá sido informado da operação encenada pela Polícia Judiciária Militar (PJM) para recuperar as armas furtadas de Tancos, um mês depois de ela ter sido realizada, avançou o Expresso nesta quinta-feira, e confirmou o PÚBLICO junto de fontes ligadas ao processo. O ministro nega ter tido conhecimento destes factos.
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O ministro da Defesa Nacional, José Azeredo Lopes, terá sido informado da operação encenada pela Polícia Judiciária Militar (PJM) para recuperar as armas furtadas de Tancos, um mês depois de ela ter sido realizada, avançou o Expresso nesta quinta-feira, e confirmou o PÚBLICO junto de fontes ligadas ao processo. O ministro nega ter tido conhecimento destes factos.
O PÚBLICO sabe que a crise criada pela divulgação destas informações não põe em causa a permanência do ministro da Defesa no Governo e que o primeiro-ministro, António Costa mantém a confiança em Azeredo Lopes.
Aliás, já na quarta-feira da semana passada, durante o debate quinzenal, quando questionado sobre a encenação da entrega das armas roubadas em Tancos, que envolveu responsáveis da PJM e da GNR, António Costa afirmou: "Como é público e notório, mantenho o meu ministro da Defesa e a ministra da Justiça. Mantenho todos os membros do Governo."
De acordo com as mesmas fontes, esta informação foi transmitida ao juiz de instrução que conduziu o interrogatório do investigador e ex-porta-voz da PJM [Polícia Judiciária Militar], major Vasco Brazão. O ministro terá sido informado porque a PJM, como órgão de polícia criminal, embora responda perante o Ministério Público, depende funcionalmente do Ministério da Defesa.
O ministro da Defesa recusou esta quinta-feira ter tido conhecimento de qualquer manobra de encobrimento da recuperação das armas de Tancos. Em Bruxelas, disse ter ficado surpreendido por notícias que dão conta do seu conhecimento e recusa "categoricamente". "Queria dizer categoricamente que é totalmente falso que eu tenha tido conhecimento de qualquer encobrimento neste processo", nem antes, nem depois repetiu por várias vezes.
Em declarações aos jornalistas, pela segunda vez nesta quinta-feira, Azeredo Lopes, conta que soube do que aconteceu apenas quando a Polícia Judiciária tomou a iniciativa de deter o porta-voz da Política Judiciária Militar. "Soube como todos os portugueses na altura em que a PJ tomou a iniciativa de fazer aquilo que é do conhecimento público".
"Quero dizer claramente, olhos nos olhos e de forma muito categórica", disse.
Já quando questionado sobre o envolvimento do então seu chefe de gabinete, Azeredo Lopes, não foi tão categórico na resposta. "Não vou comentar declarações que pessoas que tanto quanto sei, nem sequer conheço. Não vou falar pelo meu chefe de gabinete nem falar mais deste tópico", disse, socorrendo-se também do argumento que o assunto está em segredo de justiça.
A PJM terá engendrado este plano para recuperar as armas furtadas dos paióis de Tancos, em Junho do ano passado, na suposta tentativa de recuperar a investigação criminal que tinha sido entregue pelo DCIAP à Unidade de Contra Terrorismo da PJ, depois de, numa primeira fase, serem levantadas suspeitas de que as armas poderiam ter sido roubadas para fins terroristas.
Segundo o Expresso, o major Vasco Brazão disse ao Tribunal de Instrução Criminal ter entregue pessoalmente ao chefe de gabinete do ministro um memorando sobre o assunto, acrescentando que este, à frente de dois militares da PJM, contactou telefonicamente o ministro. Nesta versão, quer o titular da pasta, quer o seu chefe de gabinete, não teceram comentários sobre aquela informação. Depois das suas declarações, a Vasco Brazão foi imposta a pena de prisão domiciliária sem pulseira electrónica.
A Polícia Judiciária deteve, em 25 de Setembro, no âmbito da Operação Húbris, que investiga o caso da recuperação das armas furtadas em Tancos, o director e outros três responsáveis da Polícia Judiciária Militar, um civil e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé. No dia 28, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decretou prisão preventiva para o director da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, e para o civil.
Na segunda-feira chegou a Portugal e foi detido o major Vasco Brazão, agora em prisão domiciliária.
A Operação Húbris investiga o aparecimento na Chamusca, em Outubro de 2017, de material militar furtado nos paióis de Tancos. O Ministério Público menciona "factos susceptíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, receptação, detenção de arma proibida e tráfico de armas".
Em causa está um acordo feito com um ex-fuzileiro de 36 anos, autor do roubo das armas, por forma a que este pudesse devolver o material que tinha furtado de Tancos sem sofrer consequências, ou seja, escapando à justiça.