Empresas privadas aplaudem passe único, mas querem receber a tempo e horas

Presidente da Antrop elogia medida, mas alerta que é preciso antecipar algumas soluções para garantir qualidade do serviço, com o aumento expectável da procura.

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o passe único vai abranger empresas públicas e privadas de transportes de passageiros Mara Carvalho

O presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros (Antrop) considera meritória a anunciada redução do preço dos passes em Lisboa e Porto. Luís Cabaço Martins alerta no entanto que o sector tem de se preparar para eventuais problemas decorrentes do expectável aumento da procura, um desafio maior para as empresas que gerem meios mais pesados, como o metro ou os comboios, cuja aquisição é sempre mais dispendiosa e demorada.

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O presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros (Antrop) considera meritória a anunciada redução do preço dos passes em Lisboa e Porto. Luís Cabaço Martins alerta no entanto que o sector tem de se preparar para eventuais problemas decorrentes do expectável aumento da procura, um desafio maior para as empresas que gerem meios mais pesados, como o metro ou os comboios, cuja aquisição é sempre mais dispendiosa e demorada.

Em declarações ao PÚBLICO, Cabaço Martins considerou que o passe único é uma forma interessante de fomentar a utilização do transporte público, mas avisa desde já que o sector que representa não quer ser o “financiador”, ainda que temporário, da medida, que vai implicar um volume de descontos bastante superior aos que já são praticados para estudantes. É que, assinala, em relação a estes o Governo ainda deve dez milhões de euros às empresas de transporte, relativos a este ano, situação que está a provocar problemas de tesouraria a algumas firmas e que a Antrop não quer ver repetida.

Seguindo as expectativas das áreas metropolitanas, a medida deve entrar em vigor já em Abril, na do Porto (AMP), onde a existência de um tarifário e bilhética comum, baseada no Andante, facilita a logística de uma mudança tão grande. Em Lisboa, assumiu Fernando Medina, a miríade de títulos no mercado – mais de 2300, segundo o líder da AML – obriga a um trabalho mais demorado que acabará, no final, por fazer desaparecer muitos desses tarifários e bilhetes, facilitando a vida dos utilizadores. Mas que atrasará, decerto, a entrada em vigor da medida.

Com as Áreas Metropolitanas a falarem de um volume de apoios do Estado de 90 milhões de euros (46 milhões para a AML e 26 milhões para o Porto) para estabelecer duas únicas tarifas para assinatura mensal, de 30 e 40 euros, Cabaço Martins põe desde já uma exigência em cima da mesa: o pagamento dos descontos mês a mês, com antecipação, no primeiro mês, do diferencial entre os preços cobrados sem passe único, e a receita expectável, com os novos tarifários.

Se forem resolvidas as questões relativas ao financiamento da medida – algo que o presidente da AML, Fernando Medina, prometeu na semana passada, lembrando que serão as áreas metropolitanas a pagar aos operadores envolvidos – Cabaço Martins estima que ela terá um impacto positivo para o sector. A Antrop teve a garantia, por parte da AML, de que será acautelada a eventual perda de receitas noutros títulos de transporte, por transferência de clientes para o passe único, e espera chegar ao mesmo entendimento com o Porto.

Todos os envolvidos estimam que a descida dos preços originará um expectável, ainda que não quantificado, aumento da procura. Principalmente para os trajectos mais longos, nos quais se verifica um desconto com percentagens superiores a 50%, nalguns casos; entre as crianças até 12 anos, que deixam de pagar; e nas famílias com vários utilizadores, dado que em cima da mesa está a limitação a 80 euros dos passes pagos por um casal com filhos, mesmo que estes tenham mais do que os referidos 12 anos.

Tudo isto vai ao encontro de uma política de transferência de utilizadores do transporte individual para o transporte colectivo – cujo sucesso é essencial para o cumprimento das metas nacionais de emissões de gases com efeito de estufa, argumentam os proponentes. Mas o carácter “radical” da medida pede alguma ponderação dos seus riscos, no que diz respeito à pressão sobre a oferta, assume Cabaço Martins. “Temos de pensar, desde logo, em algumas soluções mitigadoras”, aconselha o gestor.

Se do lado dos transportadores rodoviários existe alguma agilidade para gerir frotas – e os operadores públicos, Carris e STCP, estão a renovar a frota - o presidente da Antrop admite que as empresas de meios mais pesados, como o comboio ou o metro, tenham mais dificuldade em lidar com esta questão. E isto porque, para além dos custos serem superiores, “não é de um dia para o outro que se compram comboios”, lembra. No entanto, acrescenta, como o sucesso não será abrupto, haverá sempre algum tempo para fazer ajustes nos serviços. 

Também Álvaro Costa, especialista em Mobilidade da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, considera que a medida, "positiva", exige atenção redobrada para as questões da oferta, dada a situação da CP e dos sistemas de metro, que estão em ruptura, num caso, e no limite da capacidade, no segundo. A Metro de Lisboa já abriu um concurso para aquisição de material circulante, mas a Metro do Porto, por exemplo, só o fará no próximo ano, em simultâneo com o concurso para a execução de duas extensões na sua rede.

Na semana passada, Fernando Medina assumiu que está à espera desta pressão sobre a oferta. Mas também considerou que ela será benéfica para criar uma cultura de cidadania em defesa do direito ao transporte público e levará os decisores políticos a acelerar investimentos num sector em que, afirmou, o país falhou, nas mais de quatro décadas que leva de democracia.