Web Summit em Lisboa é uma decisão "doida", diz Paddy Cosgrave
Em declarações ao PÚBLICO, o fundador da Web Summit explica os motivos de rejeitar outras cidades europeias e diz que o aeroporto de Lisboa influenciou a “decisão doida” de manter o evento em Lisboa.
Lisboa ganhou a corrida pela Web Summit e vai acolher a cimeira de tecnologia durante mais dez anos – até Novembro de 2028. Portugal garante 11 milhões de euros em investimento público por ano, e a FIL (Feira Internacional de Lisboa) vai duplicar de tamanho. Nos últimos meses, outras cidades, como Berlim, Londres e Valência, propuseram quantias maiores e espaços mais amplos, mas foi Lisboa a vencedora.
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Lisboa ganhou a corrida pela Web Summit e vai acolher a cimeira de tecnologia durante mais dez anos – até Novembro de 2028. Portugal garante 11 milhões de euros em investimento público por ano, e a FIL (Feira Internacional de Lisboa) vai duplicar de tamanho. Nos últimos meses, outras cidades, como Berlim, Londres e Valência, propuseram quantias maiores e espaços mais amplos, mas foi Lisboa a vencedora.
O fundador da conferência, Paddy Cosgrave, descreve a decisão como a “mais doida” da sua vida. Durante os primeiros meses de 2018, Lisboa tinha deixado de ser considerada uma opção viável. Em declarações ao PÚBLICO, Cosgrave explica a lógica por detrás da decisão de ficar em Portugal, e a importância do aeroporto.
“Terça-feira, quando anunciei pela primeira vez à equipa de Lisboa que íamos cá ficar, muitos ficaram incrédulos. Sabem que as propostas que recebemos de outras cidades eram maiores. Em teoria, como fica no papel escrito, a nossa decisão parece não ter lógica”, admite Cosgrave ao PÚBLICO. Embora não divulgue valores específicos, diz que as propostas vindas de cidades como Berlim e Valência eram maiores. Em Junho, a candidatura da cidade espanhola previa um investimento de cinco milhões de euros por cada um dos dez anos incluídos na proposta. De acordo com Cosgrave, o valor final apresentado foi bem superior. “Mas há mais ingredientes, na minha opinião, para realizar um evento para além do acordo com o Governo", ressalva o fundador.
Foi em Lisboa, que a Web Summit encontrou mais apoios públicos e condições para receber mais participantes do que na capital irlandesa, Dublin, onde os últimos eventos realizados foram condicionados por vários problemas ao nível dos transportes. Além da promessa de expandir a FIL para pelo menos o dobro do tamanho actual, a capacidade do aeroporto de Lisboa para receber os milhares de visitantes da Web Summit foi outro dos factores determinantes.
“O evento cresceu muito mais do que aquilo que esperávamos. Já não havia espaço suficiente – isso era óbvio. Mesmo com a expansão da FIL, a capacidade do aeroporto de Lisboa também foi um grande factor”, diz Cosgrave. “O aeroporto aqui vê mais de 25 milhões de passageiros por ano, aeroportos que servem cidades como Valência, que nos enviou uma boa proposta para ficar com a Web Summit, apenas acolhem cerca de cinco milhões de passageiros por ano.”
Ainda assim, aeroportos como os de Schönefeld e Tegel, em Berlim, e Heathrow, em Londres, que em 2017 receberam, respectivamente, 33 milhões e 78 milhões de passageiros ganham a Lisboa. Depois, mesmo com o aumento das infra-estruturas, o tamanho da FIL fica aquém dos pavilhões de eventos listados em propostas de outras cidades europeias. “Os espaços em Valência ou em Bilbau, em Espanha, eram cinco vezes maiores que a FIL. Estas cidades mais pequenas, que nem são capitais, têm instalações muito maiores”, confirma Paddy Cosgrave.
Cidade da moda
O apelo de Lisboa como uma cidade da moda também pesou. “A Web Summit chegou a Portugal na altura certa, e beneficiámos com a popularidade de Portugal, que passou de um sítio com dificuldades 'não tão fantástico' para um sitio bem conhecido”, continua Cosgrave. “Se a crise em 2008 não tivesse passado por Portugal, não tenho dúvidas que teria existido um maior investimento na FIL para a expandir. É fantástico que isso vá agora acontecer com a proposta que nos fizeram.”
Daí que para o fundador da Web Summit, a expansão dos pavilhões da feira tenha benefícios além da feira de tecnologia. “Abre a oportunidade para outros eventos que queiram vir a Lisboa. É uma cidade fantástica para qualquer evento.”
Para poder acolher a cimeira de tecnologia, a FIL (Feira Internacional de Lisboa) duplicará de tamanho. Ainda não são conhecidos muitos detalhes sobre a expansão do espaço, mas foi referido na conferência que o objectivo é aumentar em cerca de 2,25 vezes a área actual; a configuração física final ainda não está fechada. Uma coisa é certa: haverá uma zona de conexão entre a Altice Arena e a FIL.
A duplicação do espaço deverá estar concluída até 2022 e pretende dar resposta “ao contínuo e rápido crescimento da Web Summit desde o seu início”. A primeira fase da expansão começará nos próximos meses.
Vantagem de Novembro
Cosgrave ressalva que a Web Summit tem a vantagem de se realizar em Novembro. “É o mês mais lento em Lisboa. É muito sazonal. No final de Outubro, acaba o verão e os hotéis no centro da cidade estão muito mais vazios”, explica. “Noutras alturas do ano, mesmo com infra-estruturas maiores, continua a ser muito difícil realizar um grande evento em Portugal. Por exemplo, em Junho o aeroporto de Lisboa está muito cheio. Não sei como funcionaria.”
De acordo com os termos do contrato entre a cidade de Lisboa e a Web Summit, se Cosgrave mudar de ideias sobre a casa da Web Summit nos próximos dez anos, a organização tem de pagar 340 milhões de euros por cada ano em que a feira não se realiza em Lisboa.
“O acordo é calculado com base nos ganhos económicos para a cidade durante a semana da Web Summit", explica Cosgrave. As últimas duas edições da Web Summit geraram 300 milhões de euros cada só em serviços relacionados com o alojamento e o transporte das quase 80 mil pessoas que estiveram no evento, segundo números do Governo e da organização. "Não acho que seja isso o mais importante. O que é importante para o Governo, é continuar a elevar Portugal no mapa mundial e atrair pessoas interessantes a investir no país”, diz Cosgrave. Para já, diz que “nada” o faria trocar Lisboa.