Haddad acusa Bolsonaro de campanha contra si que usa "imagens ofensivas" com mulheres e crianças

“São coisas muito vulgares, e dirigidas sobretudo aos eleitores evangélicos”, diz o candidato do PT, que atinge níveis recordes de rejeição nas intenções de voto, a poucos dias das presidenciais.

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Fernando Haddad deu uma conferência de imprensa na sede do PT em São Paulo Nacho Doce/Reuters

A sala era pequena para tanto jornalista, tanta câmara de televisão e fotográfica, brasileira e de agências noticiosas internacionais, na sede do Partido dos Trabalhadores (PT) em São Paulo, numa vivenda numa área residencial de Ipiranga. O candidato Fernando Haddad convocou uma conferência de imprensa, um dia depois de uma sondagem Datafolha revelar que a rejeição ao candidato petista disparou para 41%. O que Haddad tinha para dizer era fazer uma denúncia: 

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A sala era pequena para tanto jornalista, tanta câmara de televisão e fotográfica, brasileira e de agências noticiosas internacionais, na sede do Partido dos Trabalhadores (PT) em São Paulo, numa vivenda numa área residencial de Ipiranga. O candidato Fernando Haddad convocou uma conferência de imprensa, um dia depois de uma sondagem Datafolha revelar que a rejeição ao candidato petista disparou para 41%. O que Haddad tinha para dizer era fazer uma denúncia: 

“Há uma enorme campanha no WhatsApp contra mim e a minha família, usando mulheres e crianças, imagens muito vulgares, muito ofensivas. Pelo conteúdo, desconfiamos que seja oriunda de Jair Bolsonaro”, acusou.

Quase esmagado pelos jornalistas, que lhe punham microfones e gravadores na cara – estragando o efeito dos dois cartazes com referência a Lula da Silva que tinham sido montados como fundo para a conferência de imprensa, completamente afogados na maré humana –, Haddad eximiu-se de dar exemplos. “Ah, são coisas muito vulgares, mas são muito compatíveis com o discurso dele [Bolsonaro]”, disse. E divulgou um número de telefone para o qual é possível fazer denúncias dessas correntes que se espalham como fogo em palha seca através das redes sociais (993 223 275, no Brasil).

“Se for um site, é possível identificar o IP, no WhatsApp é muito mais difícil”, reconheceu. “Mas estamos a receber muitas denúncias sobre estas mensagens nos últimos dias, contra a minha família, a minha actuação como ministro [da Educação] e sobretudo destinadas ao público evangélico, que tem determinados valores, que nós também partilhamos”, frisou Haddad.

Perguntaram-lhe se culpa o alastrar destas fake news – um verdadeiro flagelo nestas eleições, com os jornais e as televisões a fazerem notícias desmascarando notícias falsas – pelos maus resultados que as sondagens estão a revelar a menos de uma semana das eleições de domingo, depois de inicialmente, após ter sido declarado candidato do PT às presidenciais, ter trepado nas intenções de voto. “É um dos factores”, disse.

“Nós acreditamos que essas mensagens no WhatsApp estão a fazer uma pequena diferença. Estamos a falar de milhões de mensagens que estão sendo disparadas de mulheres nuas, crianças sendo abusadas, coisas gritantes mesmo”, afirmou o candidato petista.

Haddad não se alongou com exemplos, mas segundo o site G1, da rede Globo, circula nas redes sociais que Haddad defende que as crianças a partir dos cinco anos são propriedade do Estado e o que o seu género pode ser escolhido. Aos pais caberá aceitar a decisão.

Apesar de absurda, num ambiente em que a polarização é levada ao máximo, e se discute de forma não razoável a educação sobre o “género” nas escolas, com muita desinformação espalhada pela candidatura de Bolsonaro e pelos seus apoiantes, e inclusivamente nas igrejas, isto parecerá real por muitas pessoas.

Há uma ordem do Tribunal Superior Eleitoral para que estas mensagens sejam retiradas das redes – o problema, como reconheceu Haddad, é detectá-las.

Restou pouco tempo para algumas perguntas sobre o programa, o que pretende o candidato do PT fazer sobre política internacional, a reforma da Segurança Social, porque o sistema de pensões está a deixar o Estado com a corda na garganta – um tema na ordem do dia no Brasil, embora outra pergunta da Datafolha diga que a maioria dos brasileiros não quer saber do programa dos candidatos. Haddad não se compromete, avança que talvez seja preciso “repactuar a providência, como já se fez em 2003 e 2012”, mas esgueira-se a concretizar. Deixa a pairar a ideia de avançar com uma idade mínima para pedir a reforma – mas muito lá no alto.

Sobre a política externa, tem ideias mais concretas. Fala na necessidade de priorizar as relações com os países dos BRICS, que têm estado “muito acabrunhadas, mas são vitais para gerar exportações e empregos”. E em revitalizar o Mercosul, e nomeadamente reforçar as relações comerciais com Buenos Aires. 

“A Argentina pode ser a solução do Brasil, e o Brasil pode ser a solução da Argentina”, frisou. E lembrou que o facto de o México ter um novo Presidente de esquerda, Andrés Manuel Lopés Obrador – se o PT voltar ao poder, bem entendido – pode nascer um novo acordo comercial com o Brasil. “Tenho mantido negociações com assessores de Obradror.”