Governo foi à Alemanha explicar o projecto de uma base espacial nos Açores
Cerca de dez entidades mostraram-se interessadas no lançamento de pequenos foguetões nos Açores durante a apresentação do convite internacional aos interessados na futura base espacial dos Açores em Bremen.
Uma galeria do Congresso Internacional de Astronáutica (IAC), em Bremen, teve quase preenchida – mais de 50 pessoas – para assistir à apresentação do Programa Internacional Atlântico de Lançamento de Satélites. O ministro da Ciência e Tecnologia português, Manuel Heitor, começou logo para dizer que não iria fazer esta apresentação com slides e mostrou uma brochura com a síntese do programa. “Estamos aqui para discutir uma ideia que queremos que seja de grande sucesso nos próximos anos”, disse nesta última terça-feira, tendo a seu lado Paulo Ferrão, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, e Francisco Wallenstein, da Estrutura de Missão dos Açores para o Espaço. “Vou tentar descrever esta ideia em três partes: o quê, o porquê e como estamos a fazer isto.”
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Uma galeria do Congresso Internacional de Astronáutica (IAC), em Bremen, teve quase preenchida – mais de 50 pessoas – para assistir à apresentação do Programa Internacional Atlântico de Lançamento de Satélites. O ministro da Ciência e Tecnologia português, Manuel Heitor, começou logo para dizer que não iria fazer esta apresentação com slides e mostrou uma brochura com a síntese do programa. “Estamos aqui para discutir uma ideia que queremos que seja de grande sucesso nos próximos anos”, disse nesta última terça-feira, tendo a seu lado Paulo Ferrão, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, e Francisco Wallenstein, da Estrutura de Missão dos Açores para o Espaço. “Vou tentar descrever esta ideia em três partes: o quê, o porquê e como estamos a fazer isto.”
Sem se alongar, Manuel Heitor começou por responder ao “o quê”, dizendo que estava ali para anunciar o programa “como um novo negócio para levar para o Atlântico uma nova centralidade do sector espacial”. E porquê? “É claro que muitos países estão a iniciar-se no Novo Espaço, mas só Portugal tem uma localização estratégica entre a Europa, a América e África e com uma localização única dos Açores e, em particular, da ilha de Santa Maria no meio do Atlântico.”
Contudo, o ministro salientou que estava ali sobretudo pelo terceiro ponto da sua apresentação: “Estamos aqui, essencialmente, para falar como é que vai ser lançado. É um processo de três fases.” A primeira – iniciada a 24 de Setembro – é um convite internacional a entidades qualificadas em todo o mundo para demonstrarem o seu interesse em colaborar com empresas portuguesas e centros de engenharia num plano de construção, instalação e gestão de um porto espacial em Santa Maria.
Esta etapa, que decorre até 31 de Outubro, é já uma espécie de “rastreio”. Uma comissão internacional de alto nível – coordenada por Jean-Jacques Dordain (antigo director-geral da Agência Espacial Europeia, ou ESA) e inclui Dava Newman (co-directora do Programa MIT-Portugal e antiga administradora adjunta da NASA), Brian Tapley (fundador do Centro de Estudos Espaciais da Universidade do Texas em Austin), Gaele Winters (antigo director de lançamentos da ESA), e os portugueses António Cunha (antigo reitor da Universidade do Minho), Vítor Fraga (presidente da Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores), Luís Castro Henriques (presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) e José Toscano (director das relações internacionais da Intelsat) – analisará e discutirá as declarações de interesse, para definir os termos de referência do concurso internacional, que abrirá em Novembro. No final (em 2019), haverá um consórcio, que poderá ser composto por várias propostas.
“O tempo é pouco, mas percebemos claramente que havia uma janela de oportunidade para promover um novo serviço de lançamentos. Esperemos ter esse consórcio no Verão de 2019”, frisou. Na perguntas feitas pela assistência, Manuel Heitor aproveitou para referir que “todos estão convidados” e que quer “atrair todas as boas ideias”. Quanto ao valor do investimento para a base espacial, apontou menos de 60 milhões de euros e destacou que ainda poderá ser menos.
“Vai ser um processo negocial até ao fim”, confirmou Manuel Heitor já depois da apresentação. Satisfeito pela adesão que teve na sua apresentação, o ministro da Ciência informou que, como resultado disso, tinha tido contactos da Agência Espacial Indiana, da empresa norte-americana Northrop Grumman e da americana e neozelandesa Rocket Lab. E frisou: “Queremos desenvolver a indústria em Portugal e não um ‘projecto de chave na mão’. Queremos fazer projectos novos com empresas portuguesas para poder desenvolver uma capacidade industrial em Portugal.”
Que dizem as empresas portuguesas?
No IAC e a acompanhar a apresentação de Manuel Heitor estiveram responsáveis de empresas portuguesas. E o que pensam sobre o projecto? “Da maneira que está pensado, não se pretende que seja só uma plataforma de lançamento em que uma entidade lança, a seguir arruma as coisas e vai-se embora. Há interesse em que haja [desenvolvimento de] uma competição tecnológica a nível nacional das operações tanto do porto espacial como do serviço de lançamento. Estamos à espera de ter parcerias com as entidades do porto espacial”, comenta Tiago Pardal, presidente do grupo Omnidea, que tem a Omnidea-RTG precisamente em Bremen.
Tiago Pardal afirma que o grupo está interessado em participar no processo, mas ainda não pode revelar como será a essa participação. Por agora, só considera: “A localização dos Açores é um recurso natural.” E dos mais de 90 projectos em todo o mundo diz que este é “um dos melhores locais a nível europeu.”
Nuno Ávila, director-geral da Deimos Engenharia, adianta ainda que os Açores têm numa localização que congrega uma série de factores (como a geografia e o clima) que os torna aptos para lançamento de satélites até 200 quilos. “Não é [um sítio] remoto e permite fazer lançamentos durante quase todo o ano. Além disso, estamos no Atlântico e conseguimos lançar para sul e atingir todas as órbitas comercialmente úteis [órbitas heliossíncronas e polares].”
A Deimos Engenharia liderou um dos estudos – em parceria com a empresa do Reino Unido Orbex – lançados por um concurso da ESA para análise da viabilidade técnico-económica de pequenos foguetões na Europa e que referiu que a ilha de Santa Maria é um local privilegiado para esse tipo de foguetões.
Agora, Nuno Ávila diz que a empresa irá “claramente responder” a esta convocatória. “À partida, será o grupo Deimos como um todo, mas, em particular, a sociedade em Portugal a ser líder da resposta. Mas ainda não estão esgotadas todas as possibilidades e poderá haver parcerias com outros interessados. Não temos a candidatura fechada.”
Há cerca de dez anos que a Edisoft (da empresa francesa Thales) está em Santa Maria. Já instalou um teleporto e faz rastreio do lançamento de foguetões da ESA. Por isso, para Ricardo Conde “é evidente” que vão mostrar o seu interesse e com um consórcio de empresas europeias. Aliás, a Edisoft foi subcontratada para outro dos estudos de viabilidade técnica e comercial de um pequeno lançador e porto espacial nos Açores, liderado pela alemã MT Aerospace.
Ivo Vieira, director-executivo da Lusospace, também mostrou o interesse da empresa neste projecto e em responder a esta convocatória. “Através de óculos de realidade aumentada, conseguimos colocar informação virtual por cima do satélite e do foguetão [durante a fase de montagem] para informar o operador sobre como colocar o parafuso ou qual a ordem da tarefa”, conta. “Permite melhorar a eficiência, baixar os custos, enviar foguetões mais rapidamente e melhorar a qualidade do sistema porque evita erros humanos. Esse é, de facto, o nosso grande interesse.”
A Lusospace tem trabalhado com a maior empresa da área espacial da Alemanha, a OHB, que também está interessada nos Açores. Durante a última terça-feira, no IAC, o ministro da Ciência teve ainda reuniões com a empresa italiana Avio e com a espanhola PLD que têm interesse no projecto.
Também o Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel (Ceiia), em Matosinhos, irá responder a esta convocatória. “Sozinhos não responderemos, mas estamos a discutir com diferentes entidades e parceiros nacionais e internacionais”, revelou Tiago Rebelo, responsável pela área aeroespacial e de engenharia oceânica do centro. Tiago Rebelo exemplifica que têm interesse em colaborar no desenvolvimento do lançador e trabalhar ao nível das estruturas, como os novos materiais ou da montagem dos satélites nos Açores. “Diria que é a primeira iniciativa estruturada que Portugal tem na área do espaço”, salientou.
Durante Outubro a divulgação do convite aos interessados continuará. A próxima paragem será no 25.º aniversário do Programa Geral de Apoio Tecnológico da ESA em Lisboa a 11 e 12 de Outubro.
O PÚBLICO viajou a convite da Fundação para a Ciência e a Tecnologia