Colegas revelam-se menos predispostos a ajudar vítimas de bullying homofóbico
Estudo revela que há um certo medo de contágio social, isto é, de serem tomados por gays ou lésbicas.
As vítimas de bullying homofóbico – a violência reiterada exercida pelos pares por causa da orientação sexual real ou percebida – têm menos hipóteses de serem ajudadas do que as de outros tipos de bullying. Para lá do preconceito, os colegas têm medo do contágio social, isto é, de serem tomados por gays ou lésbicas.
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As vítimas de bullying homofóbico – a violência reiterada exercida pelos pares por causa da orientação sexual real ou percebida – têm menos hipóteses de serem ajudadas do que as de outros tipos de bullying. Para lá do preconceito, os colegas têm medo do contágio social, isto é, de serem tomados por gays ou lésbicas.
Raquel António, que está a fazer um doutoramento em psicologia social no CIS-IUL - Centro de Investigação e de Intervenção Social do Instituto Universitário de Lisboa, partiu destas premissas: o bullying não é um fenómeno individual, é um fenómeno de grupo; mesmo que seja protagonizado apenas por um colega, há outros presentes em mais de 80 % dos episódios, mas poucos tentam parar o que está a acontecer. O que impede estes rapazes e estas raparigas a agir em defesa de quem está a ser vítima?
A investigadora pediu a 216 adolescentes de quatro escolas do distrito de Lisboa que imaginassem que viam uma pessoa a insultar ou a agredir outra por supor que ela era gay ou lésbica. E os estudantes manifestaram menos predisposição para ajudar vítimas de bullying homofóbico do que vítimas de outro tipo de bullying.
Há um certo medo de contágio social, isto é, de serem tomados por gays ou lésbicas. E isso, claro, está associada às crenças negativas sobre essas pessoas e ao evitar de contacto. O estudo revela que quando maior for a preocupação de serem tomados por gays ou lésbicas, menor a predisposição para ajudar uma vítima de bullying homofónico e mais negativas as atitudes para com pessoas gays e lésbicas.
Num outro estudo, que incidiu sobre uma amostra de 230 estudantes entre os 11 e os 19 anos, a investigadora procurou explorar estratégias de redução deste medo de contágio social. Apurou que só uma identidade comum, que não saliente diferenças entre estudantes (como o facto de serem todos estudantes da mesma escola), está relacionada com um aumento da intenção de ajudar, via redução do medo de contágio.
Estes resultados constam de um artigo publicado já este ano, na SAGE, intitulado “Having friends with gay friends? The role of extended contact, empathy and threat on assertive bystanders behavioral intentions”, sobre o que pode motivar a intervenção.
Diversos factores podem levar alguém a tomar uma atitude, como espírito de liderança, sentido de justiça, ter amigos LGBT. Num estudo que envolveu 87 estudantes do secundário, Raquel António concluiu que o contacto indirecto, por si só, ajuda. Basta ter um amigo ou uma amiga que tem amigos gay ou amigas lésbicas para que haja menos sentimento de ameaça, mais empatia e mais predisposição para ajudar vítimas de bullying homofóbico.