“Norte”: A palavra que pode mudar tudo na Macedónia

Após décadas de conflito com a Grécia, a antiga república jugoslava prepara-se para votar em referendo a mudança do nome do país. O que está em causa é o acesso à NATO e à União Europeia, diz a campanha do "sim".

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O referendo poderá colocar um ponto final na disputa entre a Macedónia e a Grécia, e abrir as portas da NATO e UE à antiga república jugoslava. VALDRIN XHEMAJ/LUSA

A atribuição de um novo nome, República da Macedónia do Norte, ao país que nasceu naquela antiga república da Jugoslávia, poderá colocar um ponto final à disputa de 27 anos com a vizinha Grécia, que tem travado o acesso de Skopje à NATO e à União Europeia. A decisão será ratificada este domingo, num referendo à população.

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A atribuição de um novo nome, República da Macedónia do Norte, ao país que nasceu naquela antiga república da Jugoslávia, poderá colocar um ponto final à disputa de 27 anos com a vizinha Grécia, que tem travado o acesso de Skopje à NATO e à União Europeia. A decisão será ratificada este domingo, num referendo à população.

A Macedónia encontra-se em silêncio pré-eleitoral, após uma campanha marcada por sentimentos nacionalistas e cálculos partidários, tanto na pequena região dos Balcãs, como na Grécia, que pareciam comprometer o acordo que proclama a mudança de nome do país, designado pela comunidade internacional como Antiga República Jugoslava da Macedónia.

É esperado que cerca de 1,8 milhões de eleitores se dirijam às urnas este domingo, onde decidirão se apoiam ou não o acordo estabelecido em Junho entre os governos de Skopje e Atenas e aplaudido pelos líderes europeus e os Estados Unidos. A pergunta no boletim de voto é clara — “Apoia a adesão à União Europeia e à NATO, ao aceitar o acordo entre a República da Macedónia e a Grécia?” — e cada voto positivo representa um passo mais próximo ao acesso da antiga república jugoslava aos órgãos internacionais.

O debate sobre o nome daquele país da região dos Balcãs surgiu na sequência da sua independência da Jugoslávia, em 1991. Macedónia é também o nome de uma região no Norte da Grécia, que inclui a segunda maior cidade grega, Salónica. Terá sido a partir daí que Alexandre, o Grande, iniciou a expansão do seu império, no século IV A.C., até ao território que hoje corresponde à Índia. Muitos gregos consideravam que os macedónios estavam a tentar apropriar-se da sua herança cultural, pelo que os pedidos de adesão da Macedónia aos órgãos europeus foram sempre bloqueados pelo vizinho do outro lado da fronteira.

Estes bloqueios deixaram o país num impasse, que se reflectiu no seu progresso. “A Macedónia foi negada ao direito à prosperidade, o que se reflectiu na sustentabilidade da sua sociedade multiétnica, multirreligiosa e poliglota”, disse o Presidente Gjorge Ivanov, na Assembleia Geral das Nações Unidas, esta quinta-feira.

Um voto pela prosperidade

“Os jovens representam um quarto da população, e são um dos grupos mais marginalizados”, declarou à BBC a directora executiva do Fórum Educacional para a Juventude, Dona Kosturanova.

“Eles sofrem com as más condições educativas, altas taxas de desemprego e poucas oportunidades de sucesso, e estão desesperados para ver avanços na direcção do progresso”, acrescentou.

Mas não são só os jovens que sofrem. A economia da Macedónia atravessou um período de turbulência, após uma crise financeira de dois anos que fez com que o desemprego disparasse para os 20%. De acordo com a Reuters, a média do salário mensal dos macedónios ronda os 350 euros, sendo este o valor mais baixo na região dos Balcãs.

“Isto não é viver, é sobreviver”, disse um pensionista de 52 anos à agência de notícias britânica. “Alguma coisa tem de mudar, não podemos continuar assim”, acrescentou. Garantiu ainda que vai votar “sim” no referendo de domingo.

Uma sondagem realizada pelo canal de televisão macedónio Telma TV concluiu que 57% dos inquiridos tenciona participar no referendo, e 70% desses vão votar “sim”. Já a empresa Market Vision concluiu que, a doze dias do referendo, 51,1% do eleitorado votaria “sim”.

Única oportunidade em "décadas"

Segundo o primeiro-ministro da Macedónia, Zoran Zaev, “a adesão à NATO trará estabilidade e segurança, o que é muito importante para o investimento”, disse à Reuters. A resolução do diferendo macedónio também é importante do ponto de vista da volátil geopolítica regional, podendo potencialmente dar um novo impulso às negociações entre a Sérvia e o Kosovo.

Zaev, que liderou a campanha do “sim”, afirmou num comício de encerramento, na quinta-feira, que o país estava “mais unido do que nunca”, segundo a plataforma Balkan Insight. “Tivemos a coragem de assegurar o futuro desta Macedónia multiétnica e deixar a nossa marca”, acrescentou.

A campanha do “sim” insiste que o acordo é “justo” e não coloca em causa a herança cultural da Macedónia, ao mesmo tempo que abre portas ao progresso. A oposição, Organização Revolucionária Interna da Macedónia (VMRO-DPMNE), defende que o acordo representa a submissão da Macedónia perante a Grécia.

Ivanov, membro da oposição, declarou no seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas que não vai participar na votação. “Espero que vocês, meus cidadãos, tomem uma decisão sensata”, apelou. Tem sido esta a campanha do “não”: encorajar um boicote silencioso do referendo de domingo.

Segundo um relatório do European Council on Foreign Relations, “se o referendo falhar, o momento passará e a Macedónia não deverá ter outra oportunidade [de acesso aos órgãos internacionais] durante vários anos, talvez décadas”.

Texto editado por Rita Siza