BE denuncia praxe “humilhante” em Évora
Estudante recém-entrado na universidade foi obrigado a ajoelhar-se sobre as próprias mãos e a colocar a cabeça no chão sobre um monte de farinha.
O Bloco de Esquerda quer que o Governo se pronuncie sobre uma praxe que classifica como “humilhante” de um estudante recém-entrado na Universidade de Évora, que foi obrigado a ajoelhar-se sobre as próprias mãos e a colocar a cabeça no chão sobre um monte de farinha.
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O Bloco de Esquerda quer que o Governo se pronuncie sobre uma praxe que classifica como “humilhante” de um estudante recém-entrado na Universidade de Évora, que foi obrigado a ajoelhar-se sobre as próprias mãos e a colocar a cabeça no chão sobre um monte de farinha.
O caso denunciado pelo BE está retratado numa vídeo, que circula nas redes sociais desde terça-feira. Nele vê-se um jovem com a cabeça encostada no chão sobre um monte de pó branco, que parece ser farinha, e com o corpo flectido, com as pernas cruzadas e os joelhos em cima das costas das duas mãos.
Quando o jovem dá sinais de não aguentar estar mais tempo naquela posição, um outro aluno atira-lhe: “Desemerde-se [sic].” O BE identifica o local como sendo o Rossio de São Brás, em Évora. Entre terça-feira e até ao final desta quinta-feira, o vídeo — com pouco mais de um minuto — teve mais de 50 mil visualizações na rede social Facebook e foi partilhado por cerca de 1200 pessoas. Os bloquistas consideram “absolutamente inaceitável” que, apesar das sucessivas campanhas de combate à praxe violenta, actos como estes, “de profunda violência e humilhação”, continuem a ser “impunemente tolerados e praticados”.
Numa pergunta enviada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), o BE exige que a tutela se pronuncie sobre o caso e pede que seja feito um balanço do programa governamental Exarp, lançado há dois anos.
Além da pergunta, o BE enviou um requerimento à Universidade de Évora. Contactada pelo PÚBLICO, fonte da universidade disse que o vídeo chegou ontem ao conhecimento da reitoria. O caso vai ser investigado internamente. A universidade tem, desde 2014, um programa de combate à praxe abusiva com programas de acolhimento alternativos.
Outros casos de praxes académicas abusivas
Em 2014, o PÚBLICO contou as histórias de mais de 250 alunos e ex-alunos que passaram por praxes académicas, com testemunhos e experiências que se dividem. A maioria são elogios.
Denúncias e queixas
No ano lectivo 2016/17, o Ministério da Ciência e Ensino Superior recebeu nove queixas de actos violentos ou coercivos em praxes académicas.
O manual do caloiro
Em 2017, foi distribuído aos novos estudantes da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) um “Manual de Sobrevivência do Caloiro” que continha um conjunto de “direitos, deveres e permissões do caloiro” polémico. Entre algumas das regras, lia-se que “O caloiro é incondicionalmente servil, obediente e resignado”; “não é um ser racional”; “não goza de qualquer direito”. “O caloiro é assexuado”, “Deve ser sempre moderado no uso da palavra (zurra, grunhe, bale e relincha só quando lhe é dada permissão)”. “Não é permitido pensar, opinar, gesticular, buzinar, abanar as orelhas ou pôr-se em equilíbrio nas patas anteriores”, continuava o manual.
O caso do Meco
Em Dezembro de 2013, seis estudantes da Universidade Lusófona de Lisboa foram arrastados por uma onda na praia do Meco enquanto estariam em actividade de praxe. Nesse dia, tinham sido vistos rastejar com pedras atadas aos tornozelos.
Apelo às universidades
Em 2016, uma “Carta aberta a todas as instituições de ensino superior”, assinada por 100 personalidades portuguesas pedia às universidades que criassem alternativas às praxes académicas abusivas.
Onde denunciar
O Ministério da Educação e Ciência dispõe de endereço electrónico (praxesabusivas@dges.mctes.pt) e um número de telefone dedicado (213 126 111) para receber denúncia de actos violentos ou coercivos em praxes académicas. Com Liliana Borges