Supremo mantém-se aberto para Kavanaugh, mas um senador republicano ameaça fechá-lo
Votação na Comissão de Justiça do Senado terminou em confusão: a maioria aprovou o envio da nomeação de Kavanaugh para uma votação final, mas um dos senadores do Partido Republicano só a aprovará se houver uma investigação do FBI às acusações de abuso sexual.
O processo de nomeação do juiz norte-americano Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos saiu esta sexta-feira da Comissão de Justiça do Senado, chegando assim ao último passo. Agora, é preciso que pelo menos 50 dos 51 senadores do Partido Republicano confirmem essa nomeação, já que os 49 do Partido Democrata vão votar contra — um desfecho que parecia estar garantido, mas que acabou por sofrer uma reviravolta dramática ao final da tarde.
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O processo de nomeação do juiz norte-americano Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos saiu esta sexta-feira da Comissão de Justiça do Senado, chegando assim ao último passo. Agora, é preciso que pelo menos 50 dos 51 senadores do Partido Republicano confirmem essa nomeação, já que os 49 do Partido Democrata vão votar contra — um desfecho que parecia estar garantido, mas que acabou por sofrer uma reviravolta dramática ao final da tarde.
O que estava em causa era a votação na Comissão de Justiça do Senado, e não a votação final para confirmar o juiz Kavanaugh como novo membro do Supremo Tribunal.
Este era um passo essencial para a conclusão do processo. Depois da nomeação pelo Presidente Trump, em Julho, Kavanaugh teve de se submeter a audições na Comissão de Justiça do Senado, composta por 11 senadores do Partido Republicano e dez do Partido Democrata (os republicanos têm mais um senador porque estão em maioria no Senado). Essas audições chegaram ao fim quinta-feira, numa sessão dedicada a ouvir Kavanaugh e a professora universitária Christine Blasey Ford, que acusa o juiz de a ter tentado violar quando ambos eram adolescentes, em 1982.
Mas a reunião da Comissão de Justiça teve vários momentos marcantes, e até inéditos, que tanto reflectem a tensão provocada pelas acusações de abuso sexual contra o candidato a juiz do Supremo, como o estado de deterioração a que chegou o diálogo entre os dois maiores partidos norte-americanos.
O mais espectacular de todos esses momentos aconteceu na fase final da reunião da Comissão de Justiça, quando se tornou evidente que vários senadores do Partido Democrata e um do Partido Republicano não regressaram para a votação à hora marcada. O senador republicano era Jeff Flake, que tinha manifestado muitas dúvidas sobre o juiz Kavanaugh, mas que ainda assim anunciara durante a tarde que iria votar a favor da sua nomeação.
Mas quando regressou à sala, para a votação, Flake acrescentou um "mas" à sua decisão: sim, iria aprovar o envio do processo de nomeação para o plenário do Senado, mas esperava que o FBI abrisse uma investigação às acusações de abuso sexual contra Kavanaugh — juntando-se assim às reivindicações do Partido Democrata. Se isso não acontecer ao longo da próxima semana, e se os seus colegas do Partido Republicano forem em frente com a votação final, então o senador do Arizona poderá votar contra a nomeação de Kavanaugh.
Antes do drama nos instantes finais, os senadores do Partido Democrata ainda tentaram que o Partido Republicano aceitasse adiar a votação em sede de comissão, com duas exigências: uma investigação do FBI às acusações de Christine Blasey Ford contra o juiz Kavanaugh, e uma intimação para que uma outra testemunha fosse chamada a depor no Senado, sob juramento. Tal como indicaram na quinta-feira, durante as audições a Ford e a Kavanaugh, os democratas queriam questionar Mark Judge — o amigo de Kavanaugh que Ford acusa de ter testemunhado o ataque, que terá ocorrido em 1982.
Mas essa proposta de moção foi imediatamente recusada pelo líder da comissão, o republicano Chuck Grassley, o que provocou uma revolta no lado dos senadores do Partido Democrata: quatro deles levantaram-se e abandonaram a sala, em protesto, enquanto Grassley ainda falava. Pouco antes, quando todos os senadores foram chamados a dizer se aceitavam ou não o adiamento da votação, os senadores Cory Booker e Kamala Harris, do Partido Democrata, mantiveram-se em silêncio, a abanar a cabeça em sinal de protesto, e nem sequer anunciaram o seu voto em voz alta, ao contrário do que é habitual.
As cenas emotivas continuaram fora da sala onde a Comissão de Justiça se reuniu. Uma mulher que se apresentou como vítima de abusos sexuais, e que estava a protestar no Senado contra a nomeação do juiz Brett Kavanaugh, apanhou o senador republicano Jeff Flake num elevador e questionou-o sobre o seu sentido de voto. Flake faz parte da Comissão de Justiça do Senado e era um dos cinco senadores do Partido Republicano que ainda não tinham indicado o seu sentido de voto. Por esse motivo, o Partido Democrata tinha esperanças de que o senador republicano do Arizona votasse esta sexta-feira contra a corrente.
Contas feitas, a liderança do Partido Republicano tem agora de pensar bem sobre os próximos passos: se aceitar uma investigação do FBI, corre o risco de enterrar de vez a nomeação, se forem descobertos novos factos; se insistir numa votação final sem a investigação, Flake pode votar contra a nomeação, o que por sua vez pode convencer as suas colegas Lisa Murkowski e Susan Collins, também elas indecisas, a fazerem o mesmo — nesse cenário, a maioria republicana seria insuficiente para confirmar Kavanaugh.