Orcas são os mamíferos marinhos mais contaminados por toxinas

Os poluentes PCB continuam a representar uma ameaça para a saúde animal. Passados 40 anos do início das medidas para os banir, as orcas vêem-se hoje com elevados níveis de contaminação pelo químico.

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Audun Rikardsen

As populações mundiais de orcas, também conhecidas por baleias assassinas, estão em risco de colapso nas próximas décadas. Na base desta ameaça está a exposição a toxinas PCB que se acumulam nos tecidos daqueles mamíferos marinhos e têm efeitos severos no sistema reprodutor, imunitário e podem até provocar cancro. A investigação é da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, e põe em causa a viabilidade, a longo prazo, de mais de metade das orcas do mundo.

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As populações mundiais de orcas, também conhecidas por baleias assassinas, estão em risco de colapso nas próximas décadas. Na base desta ameaça está a exposição a toxinas PCB que se acumulam nos tecidos daqueles mamíferos marinhos e têm efeitos severos no sistema reprodutor, imunitário e podem até provocar cancro. A investigação é da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, e põe em causa a viabilidade, a longo prazo, de mais de metade das orcas do mundo.

Apesar dos primeiros passos para banir os PCB, bifenóis policlorados, terem sido dados há 40 anos, aqueles poluentes continuam a constituir uma ameaça para o planeta e o bem-estar animal. Na década de 1930 foram produzidas mais de um milhão de toneladas do químico, que é considerado um Poluente Orgânico Persistente (POP) e, por isso, o seu tempo de decomposição é alargado. O novo estudo da Universidade de Aarhus dá conta de que as orcas são o mamífero mais contaminado no mundo pela toxina, as que registam uma maior concentração do poluente chegam aos 1300 miligramas por quilo no tecido adiposo – gordura. Animais com níveis tão baixos como 50 miligramas de PCB’s por quilo já mostram sinais de infertilidade e impactos a nível imunológico.

Publicada na revista Science, a 27 de Setembro, a pesquisa traça o caminho que as orcas fazem em direcção ao próprio declínio, que poderá acontecer durante o próximo século. Esta realidade torna-se gritante em águas mais poluídas, como é o caso do Brasil, do estreito de Gibraltar e do Reino Unido, onde a estimativa é que desapareçam no prazo de apenas 30 a 40 anos.

Jean-Pierre Desforges, primeiro autor da investigação, apontou ao PÚBLICO que os estudos de vida selvagem e com animais de laboratório mostraram que a influência daquele poluente nos seus organismos afecta “quase todos os parâmetros fisiológicos”. “Para as orcas, especificamente, é muito difícil estudar como as toxinas estão a afectar a sua saúde porque os estudos são logística e eticamente desafiantes, por isso, baseamos a nossa compreensão em efeitos potenciais com estudos feitos noutros mamíferos marinhos semelhantes. Sabemos de estudos em focas e outras baleias com dentes que os PCBs podem ter efeitos severos na supressão imunológica, reprodução e cancro”, acrescentou.

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A dieta alimentar das orcas também se mostra importante para a investigação. A concentração da toxina naqueles animais varia consoante o seu nível trófico – a sua posição na cadeia alimentar. As presas de cada animal são o elemento que faz variar os níveis de PCB, consoante as populações que se alimentem de mamíferos marinhos, atum ou tubarões e os que se alimentam de outros peixes com níveis tróficos inferiores. A disparidade pode variar entre 10 a 20 vezes mais nas primeiras.

Um caso específico dessa situação acontece no Nordeste do Pacífico, como consta da investigação, na população de orcas denominada Northeast Pacific Bigg’s, onde estão mais de 500 indivíduos da espécie. Apesar de viverem nas mesmas águas, os animais registam níveis diferentes de influência de PCB’s precisamente porque os maiores se alimentam de mamíferos com elevados níveis tróficos. A esta situação é dado o nome de bioacumulação porque estão, indirectamente, a consumir o poluente que se encontra nos tecidos das suas presas.

Também as fêmeas registam uma influência mais baixa da toxina. A explicação para esse factor tem na base a passagem desses componentes da mãe para a cria, contaminando-a.

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A investigação realizada por Jean-Pierre Desforges e outros investigadores abre a porta para que mais pesquisas estudem a consequência que os PCB’s continuam a ter nos animais. O investigador apontou que entre os próximos passos a tomar está o de perceber onde e como estão estes poluentes a entrar na atmosfera. “Precisamos identificar pontos críticos contaminados que poderiam ser potencialmente limpos”, rematou.

O especialista avançou ainda a possível necessidade de “rever os termos e objectivos da Convenção de Estocolmo sobre os poluentes orgânicos persistentes de forma a antecipar prazos (actualmente definidos para 2025) e incluir a regulação de mais fontes de PCB’s”. “É necessária uma vontade política significativa para resolver esta questão e perceber que não é um 'problema resolvido'."

O estudo das consequências deste tipo de poluente tanto nas orcas como noutras espécies está longe do fim. Segundo o investigador, há ainda um grande trabalho de pesquisa a fazer para perceber quais implicações na saúde e quais as outras espécies que estão em risco de poluição por PCBs.