Ano e meio depois, MAI terá que explicar no Parlamento o roubo de 57 armas da PSP
Deputados aprovaram por unanimidade o pedido do PSD para que Eduardo Cabrita vá ao Parlamento explicar em que ponto está a investigação e os processos internos sobre o desaparecimento das 57 Glock.
Mais de ano e meio depois das últimas explicações da então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, sobre o desaparecimento das 57 armas Glock da PSP, o novo ministro, Eduardo Cabrita, terá que ir ao Parlamento nas próximas semanas fazer um resumo do que se apurou entretanto. Os deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais aprovaram nesta quarta-feira por unanimidade o requerimento do PSD que pede a presença do ministro da Administração Interna na Assembleia da República com urgência.
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Mais de ano e meio depois das últimas explicações da então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, sobre o desaparecimento das 57 armas Glock da PSP, o novo ministro, Eduardo Cabrita, terá que ir ao Parlamento nas próximas semanas fazer um resumo do que se apurou entretanto. Os deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais aprovaram nesta quarta-feira por unanimidade o requerimento do PSD que pede a presença do ministro da Administração Interna na Assembleia da República com urgência.
A alegação do carácter de urgência para a chamada do ministro motivou ironias por parte dos outros partidos depois de o deputado social-democrata Carlos Peixoto associou o desaparecimento das 57 Glock do armeiro da direcção nacional da PSP, em Lisboa, detectado em Janeiro do ano passado, ao roubo do material de guerra em Tancos seis meses depois para dizer que estes casos são "os sinais de fragilidade total que se agravaram nos últimos tempos" e que mostram o "quase colapso do Estado". O deputado do PSD juntou à equação os incêndios do ano passado que provocaram mais de uma centena de mortos, mas também a situação nos transportes e atirou responsabilidades para o ministro Mário Centeno.
O vice-presidente da bancada do PSD lembrou que Constança Urbano de Sousa foi ouvida no Parlamento em Março do ano passado e que na altura disse que fora feita a denúncia criminal e que estava em curso um inquérito interno que deveria terminar daí a algumas semanas. Mas nada mais se soube - nem nenhum partido questionou formalmente desde então. Soube-se apenas que já haveria "conclusões preliminares que apontavam para falhas de supervisão e controlo".
A falta das armas foi detectada em Fevereiro do ano passado depois de uma Glock da PSP ter sido apreendida no Porto, no Bairro da Pasteleira, no final de Janeiro, a um estudante de 21 anos, suspeito de tráfico de droga. A arma tinha a inscrição “Força de Segurança” e o dístico da PSP.
A direcção nacional lançou então uma operação nacional de inventário de todas as armas distribuídas aos agentes e das armazenadas nos comandos espalhados pelo país. Contabilizou a falta de 57 armas e instaurou processos disciplinares.
Entretanto, em operações similares foram detectadas pelo menos mais seis armas do lote desaparecido. Três em Fevereiro numa operação de combate ao tráfico de droga na região da Grande Lisboa, outras três tinham já sido detectadas, em 2017, pelas autoridades espanholas, em Ceuta.
"Dezoito meses depois, é tempo de o Governo vir explicar à Assembleia da República se tem responsabilidade política sobre o que aconteceu, ou pelo menos a responsabilidade moral de nos informar sobre o estado do inquérito interno", argumentou o social-democrata.
Um desenho que não agradou ao PS. O deputado Filipe Neto Brandão acusou o PSD de "demagogia" por associar o desaparecimento das armas da PSP ao furto de Tancos, desafiando Carlos Peixoto a "partilhar" com os outros deputados se tem informação privilegiada - talvez lembrando-se das certezas de Rui Rio, na Universidade de Verão do PSD, de que haveria mais dados sobre Tancos que ainda não eram públicos e que agora se confirmaram.
Neto Brandão criticou a questão da "urgência" dado o tempo a que o caso sucedeu. Uma nota que também fez o deputado do PCP António Filipe, considerando que não vale a pena chamar o ministro apenas para este assunto mas ser preferível aguardar por uma audição regimental. O comunista não deixou de recorrer à ironia para falar da "situação insólita da corrida ao armamento, fazendo jus ao refrão da Portuguesa".
O social-democrata Carlos Peixoto haveria de retorquir que é precisamente por ser "material de guerra [no caso de Tancos] e policial [as Glock]" que está desaparecido que "é preocupante por pôr em causa a segurança de todos" e "é cada dia mais urgente" ter respostas.