Venda da Versace aumenta a pressão junto das casas de moda independentes
Muitas marcas estão já agregadas em conglomerados europeus e norte-americanos.
A compra da Versace pela Michael Kors deixa um universo cada vez mais pequeno de marcas de moda que se mantêm sozinhas no mercado, ou seja, que não pertencem a nenhum conglomerado, e aumenta também a pressão sobre aqueles que lutam financeiramente para aumentar as suas vendas.
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A compra da Versace pela Michael Kors deixa um universo cada vez mais pequeno de marcas de moda que se mantêm sozinhas no mercado, ou seja, que não pertencem a nenhum conglomerado, e aumenta também a pressão sobre aqueles que lutam financeiramente para aumentar as suas vendas.
Depois de anos de expansão de grupos europeus como a LVMH – dona da Louis Vuitton e que possui 70 marcas, que vão do champanhe à relojoaria, passando pela moda e beleza –; a concorrente Kering – com marcas como a Yves Saint-Laurent e a Gucci; ou a gigante chinesa Shandong Ruyi, a casa de luxo italiana fundada por Gianni Versace foi agora vendida a um grupo norte-americano.
"Em comparação com as marcas maiores, os grupos autónomos não têm oxigénio necessário [para continuar]. A consolidação é inevitável", avalia Giuliano Noci, professor de estratégia e marketing da Escola Politécnica de Milão.
A indústria ainda possui alguns grandes nomes independentes, como a francesa Hermes ou a Chanel, mas esta última tem sido cobiçada, há muito, pelos rivais. A italiana Moncler tem-se mantido graças a uma estratégia de mudança sistemática e a um investimento no E-commerce. Contudo, são os conglomerados que se conseguem manter porque juntam diversas marcas, conseguindo dar resposta às tendências que vão e vêm, numa indústria instável e dependente, por exemplo, do fluxo de turistas chineses.
As receitas da Kering e da LVMH prosperaram graças à Gucci e à Vuitton, respectivamente, ajudando-os a compensar as quebras em marcas como a Bottega Veneta ou a Marc Jacobs. Por outro lado, a britânica Burberry, a italiana Salvatore Ferragamo ou a norte-americana Tiffany ficaram mais expostas quando sentiram quebras nas suas vendas. Actualmente, as três estão apostadas em planos de recuperação, mas são frequentemente citadas pelos analistas como potenciais alvos de aquisição.
"Para os grupos familiares [como os italianos Ferrgamo e Prada], é mais doloroso chegar a esse tipo de decisão. Mas se têm um período prolongado de baixo desempenho, e isso continua, eventualmente precisarão de fazer alguma coisa", avalia Flavio Cereda, analista da Jefferies, acrescentando que espera mais negócios nos próximos anos.
A Versace junta-se à Bulgari, comprada pela LVMH em 2011, como um exemplo de empresas familiares que acabaram por ser vendidas.
Os dois grupos franceses, a Kering e a LVMH, que também rivalizam com a suíça Richemont, proprietária da Cartier, sempre disseram que estão abertos a novas aquisições, mas, depois da compra da Versace não fizeram quaisquer comentários sobre as suas intenções.
Mas estes não são os únicos interessados nas marcas de luxo europeias. A chinesa Shandong comprou a marca de calçado suíça Bally, e a rival Fosun comprou a francesa Lanvin – ambas com a ambição de ter no seu portefólio casas de luxo. Nos EUA, a Michael Kors, que será rebaptizado como Capri Holdings, é um rival da Tapestry, dona da Coach e da Kate Spade.
Para os conglomerados, a acumulação de marcas pode trazer vantagens. "É claro que existem sinergias, e quanto maior o grupo, mais poder de negociação têm com fornecedores e proprietários de imóveis, por exemplo", diz Ludovic Grandchamp, da Savigny Partners, uma empresa de consultoria focada no sector de retalho.