A seis meses de voltar a casa
Ao todo, três milhões de europeus vivem e trabalham no Reino Unido. Na eventualidade de um não acordo, os britânicos estarão sempre em primeiro.
Se eu gostaria de um segundo referendo ao Brexit? Claro que sim! Ao menos podíamos acabar com esta loucura de uma vez por todas.
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Se eu gostaria de um segundo referendo ao Brexit? Claro que sim! Ao menos podíamos acabar com esta loucura de uma vez por todas.
Se estou de acordo com um segundo referendo? Claro que não! O voto foi universal e democrático, livre, em consciência, mesmo se às vezes nem por isso, mas a democracia é assim mesmo e a vontade da maioria é soberana. Não, não gostámos do resultado, mas respeitamos a vontade geral.
Faltam seis meses para o Reino Unido sair da União Europeia e nada está decidido: não há acordo comercial, não se sabe quem vai entrar ou sair e como, as duas Irlandas continuam sem uma fronteira física e ainda bem, os bancos estão a dar à sola e as grandes indústrias também, o custo de vida aumenta aqui na ilha e a procissão ainda vai no adro. Já toda a gente gosta dos imigrantes e o problema real é um e um só: a economia!
Nada está garantido e os direitos dos cidadãos da União Europeia também não. De modo a evitar o êxodo massivo de quem um dia veio para terras de Sua Majestade, o governo grita que não, que não vale a pena entrar em pânico, pedir a cidadania ou o cartão de residência. Mas o governo não somos nós e quem não é britânico não tem nada a ganhar, antes pelo contrário. Se nos tiram o emprego de pouco vale ter um papel nas mãos. Deus nos acuda.
Uma coisa é certa, e esta meta já existe: depois de Março de 2019 só entra no Reino Unido quem já tiver contrato de trabalho e um ordenado base de 30 mil libras por ano. Ir à aventura, à procura de emprego como nós viemos, acabou. Sair de Portugal para o Reino Unido porque se domina a língua acabou (e se talvez me desenrasque com um comme si comme ça, o alemão nem se fala).
Ao todo, três milhões de europeus vivem e trabalham no Reino Unido. Na eventualidade de um não acordo, os britânicos estarão sempre em primeiro. Tudo o resto, incluindo três milhões de europeus, passará a ser supérfluo. Vão-se os anéis e ficam os dedos, e como bons anéis que somos, quando esse dia chegar, não precisaremos que a polícia nos bata à porta. De cabeça erguida, caminharemos pela rua fora, com as malas e a vida nas mãos, para nunca mais regressar ao Reino Unido.
Ouvi agora notícias sobre a possibilidade de eleições antecipadas em Novembro. Serão bem-vindas, mas num cenário onde a maioria absoluta trabalhista é pouco provável, não se enganem, o Brexit vai mesmo para a frente, com ou sem acordo, e pelos vistos sem.