Imigrantes ficam menos tempo sem trabalho porque "aceitam os piores empregos"
O desemprego de "muito longa duração" é para os portugueses o dobro do que é para os cidadãos estrangeiros. Ao fim de um tempo, estes saem de Portugal ou ficam, mas com empregos menos qualificados.
Em Portugal, os cidadãos estrangeiros são mais atingidos do que os portugueses pelo desemprego de curta duração, têm empregos menos qualificados e mais precários, com mais contratos não permanentes; por outro lado, são menos atingidos pelo desemprego de "longa duração", que corresponde a mais de um ano. A diferença entre portugueses e estrangeiros acentua-se quando em análise está o desemprego de “muito longa duração”, relativo a quem procura emprego há mais de dois anos (25 meses ou mais).
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Em Portugal, os cidadãos estrangeiros são mais atingidos do que os portugueses pelo desemprego de curta duração, têm empregos menos qualificados e mais precários, com mais contratos não permanentes; por outro lado, são menos atingidos pelo desemprego de "longa duração", que corresponde a mais de um ano. A diferença entre portugueses e estrangeiros acentua-se quando em análise está o desemprego de “muito longa duração”, relativo a quem procura emprego há mais de dois anos (25 meses ou mais).
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) de 2017, recolhidos e agrupados recentemente pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS), mostram que, no universo total de desempregados no ano passado, o desemprego de muito longa duração era praticamente o dobro para os portugueses (40,7%) do que para os estrangeiros (21,2%).
Ou seja, proporcionalmente, o desemprego de curta duração atinge mais os estrangeiros; o de longa duração ou muito longa duração penaliza mais os portugueses. Catarina Reis Oliveira, coordenadora do Observatório das Migrações, responsável dos relatórios anuais de Indicadores de Integração de Imigrantes, avança duas razões, já que, como realça, o que explica a imigração é o trabalho.
“O desemprego de imigrantes nunca é alto, porque o imigrante não aceita estar desempregado. Quando fica desempregado, sai do país ou aceita outro trabalho. Os imigrantes têm tendência para aceitar os piores empregos. Desaparecem das estatísticas”, diz Catarina Reis Oliveira. “Podem estar em situação de sobrequalificação", acrescenta, antes de concluir que, relativamente aos portugueses, os estrangeiros atingem maiores percentagens de situações em que o seu trabalho não corresponde à sua qualificação.
Qualificados e não qualificados
Ainda de acordo com os dados de 2017 recolhidos pelo Ministério do Trabalho, observou-se – em relação a 2016 – um “forte acréscimo dos trabalhadores estrangeiros classificados como 'especialistas das actividades intelectuais e científicas' – como por exemplo arquitectos, médicos, engenheiros, professores – e 'técnicos e profissionais de nível intermédio' – como técnicos de fábrica, programadores e operadores informáticos, educadores de infância, entre outros. O número de trabalhadores não qualificados também aumentou entre os estrangeiros em 9%.
Relativamente às profissões, os trabalhadores “não qualificados” são os mais representados (28,4% da população estrangeira com um emprego). Os especialistas das actividades intelectuais e científicas e os técnicos e profissionais de nível intermédio representam juntos 16,3% dos estrangeiros a trabalhar em Portugal.
São também os estrangeiros aqueles que mais dependem de contratos precários, de acordo com as estatísticas recolhidas pelo Governo. Para os portugueses que trabalham por conta de outrem, prevalecem os contratos permanentes, em 78,5% dos casos; para os estrangeiros, os que têm contratos permanentes são 57,7%; os restantes 42,3% dos estrangeiros que trabalhavam, em 2017, faziam-no com um contrato não permanente.
A diferença entre as contribuições dos trabalhadores estrangeiros para a Segurança Social e as prestações sociais de que beneficiam continua a ser positiva. O Observatório das Migrações assinala no seu relatório Indicadores de Integração dos Imigrantes de 2017 que a relação entre o que os estrangeiros pagam (em descontos) e o que utilizam (em benefícios) continua a resultar num “saldo financeiro bastante positivo”, mantendo-se “a tendência da última década”.
Em 2016, as contribuições dos imigrantes para a Segurança Social ultrapassaram os 509 milhões de euros e os gastos da Segurança Social com esta população em benefícios sociais foi de 91 milhões, saldando-se numa diferença positiva de 418 milhões de euros.