A aparência humana pode ser afectada pelas alterações climáticas

Uma das consequências das migrações em grande escala é o que os biólogos chamam fluxo genético, um tipo de evolução causada pela mistura de genes entre as populações que tem como efeito a semelhança na cor da pele.

Foto
rawpixel/Unsplash

As alterações climáticas podem, muito provavelmente, vir a alterar a nossa aparência física. A mistura de genes entre populações provocada pelas actuais e futuras migrações pode levar a alterações da cor da pele. Ter tez castanha ou morena e olhos claros poderá tornar-se mais comum. É uma conclusão de Scott Solomon, professor de ecologia, evolução e comunicação científica na Universidade Rice nos Estados Unidos e autor do livro Futuros Humanos: Dentro da ciência da nossa evolução contínua.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

As alterações climáticas podem, muito provavelmente, vir a alterar a nossa aparência física. A mistura de genes entre populações provocada pelas actuais e futuras migrações pode levar a alterações da cor da pele. Ter tez castanha ou morena e olhos claros poderá tornar-se mais comum. É uma conclusão de Scott Solomon, professor de ecologia, evolução e comunicação científica na Universidade Rice nos Estados Unidos e autor do livro Futuros Humanos: Dentro da ciência da nossa evolução contínua.

O aumento da temperatura do planeta, as secas, as chuvas fortes e o alargamento das estações do ano resultantes das alterações climáticas estão a modificar animais e plantas. O esquilo e o salmão estão a reproduzir-se em idade cada vez mais jovem, as flores brotam mais cedo no ano e os corais estão a criar novas relações com algas microscópicas. É esperado que este tipo de alterações afecte também o Homo sapiens.

Porquê? Devido à migração climática. As pessoas que vivem hoje concentradas em cidades de zonas costeiras vão ser forçadas a deixar as costas devido ao aumento do nível do mar. Com secas mais comuns e mais severas, as pessoas que vivem em áreas mais áridas terão que se deslocar para locais com fontes de água mais confiáveis. Estas migrações de refugiados climáticos — que já são uma realidade — vão diluir as barreiras geográficas que agora separam populações humanas.

Nos últimos dez anos, as alterações climáticas originaram migrações de 20 a 25 milhões de pessoas. Em Março, um relatório do Banco Mundial apontou que as alterações climáticas podem vir a fazer com que 140 milhões de pessoas tenham de migrar até 2050, especialmente 86 milhões que vivem na África subsaariana, 40 milhões no sul da Ásia e 17 milhões na América Latina. Para além destas três zonas do globo, é esperado que as migrações climáticas afectem muitas dezenas de milhões de pessoas, o que resultará em movimentos massivos dentro dos países e transfronteiriços.

Se nada for feito para travar as alterações climáticas, a aparência humana pode ser afectada. Uma das consequências das migrações em grande escala é o que os biólogos chamam fluxo genético, um tipo de evolução causada pela mistura de genes entre as populações que tem como efeito a semelhança na cor da pele.

Quando pessoas de diferentes cores de pele e populações acasalam e se reproduzem, os seus filhos apresentam tons de peles intermédias. Segundo Scott Solomon, esta evolução pode levar a combinações de novos traços até então não identificados no pai ou na mãe ou nas populações de onde são originários. Um dos exemplos que a história nos deixou são os olhos azuis combinados com pele escura dos habitantes dos ilhéus de Cabo Verde, resultado do cruzamento entre portugueses e africanos ocidentais.

As projecções avançam ainda que a população multirracial pode crescer em 174% ao longo das próximas quatro décadas. Para travar as alterações climáticas e evitar a deslocação das pessoas da África subsaariana, sul da Ásia e América Latina, o relatório do Banco Mundial assinala três acções que os governos devem implementar: acelerar a redução das emissões de gases com efeito de estufa, integrar a migração climática nos planos nacionais de desenvolvimento e investir na análise de dados para uso no planeamento do desenvolvimento. Por outras palavras: o número de migrantes climáticos pode ser reduzido se houver uma acção global para travar as alterações climáticas aliada a um plano de desenvolvimento de longo prazo, liderada pelos governos e empresas, com a colaboração das ONG e dos cidadãos.

Enquanto nós, cidadãos, não tomarmos consciência de que podemos (e devemos) pressionar governos e empresas a tomarem estas decisões, somos livres de especular sobre o facto de as pessoas ao redor do mundo se tornarem mais semelhantes. Dentro de cinco a dez gerações, ou seja, dentro de 125 a 250 anos, podem existir menos pessoas com pele escura ou clara. Se passarmos a ser todos castanhos ou morenos, é possível que o racismo tenha os dias contados. Poderão as alterações climáticas ser um travão para o racismo? Scott Solomon acredita que sim.