Tóquio abriu um museu 100% digital

São dez mil metros quadrados, divididos por cinco zonas e meia centena de trabalhos interactivos com uma missão: mudar radicalmente a nossa experiência num museu.

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Por esta rubrica têm passado exemplos de mudanças de hábitos impulsionados pela tecnologia. E agora chegou a vez de nos debruçarmo-nos sobre a nossa ideia de museu, a propósito do mais recente museu de Tóquio, o Mori Building Digital Art Museum, que abriu no primeiro dia do Verão de 2018 (a 21 de Junho).

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Por esta rubrica têm passado exemplos de mudanças de hábitos impulsionados pela tecnologia. E agora chegou a vez de nos debruçarmo-nos sobre a nossa ideia de museu, a propósito do mais recente museu de Tóquio, o Mori Building Digital Art Museum, que abriu no primeiro dia do Verão de 2018 (a 21 de Junho).

Deixamos, portanto, as novas apps e os novos negócios, por um momento, mas no essencial mantemo-nos focados no mesmo mecanismo: alguém repensou uma actividade enraizada nas nossas vidas e com isso está a mudar radicalmente a nossa experiência de vida.

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Em poucas palavras: a principal característica deste novo museu de Tóquio é ser 100% digital; e por isso mesmo está para o circuito dos museus como as plataformas online de alojamentos estão para a indústria hoteleira tradicional. O museu não representa nenhum grau de ameaça, mas vira do avesso a experiência que temos num museu.

Pensem num Louvre e têm aqui precisamente o contrário. No Mori Building Digital Art Museum não há quadros separados dos visitantes por uma corda nem artefactos guardados numa vitrina. Toda a arte exposta é digital e não só convida os visitantes a envolverem-se com as obras como exige mesmo essa interactividade. E nesse sentido, como explica a partir de Tóquio um dos responsáveis do museu, é a antítese do que estamos habituados.

“O paradigma na arte tradicional tem sido o de transformar para cada um de nós a existência de outros visitantes num problema, num incómodo”, argumenta Akane Okada.

Quem tentou apreciar em paz a Gioconda de Leonardo da Vinci no Louvre (Paris) ou analisar em sossego o Las Meninas de Velazquez no Prado (Madrid) percebe facilmente este argumento porque sabe que é praticamente impossível espreitar estas obras sem ser por cima de um batalhão de cabeças, câmaras e smartphones presos em selfie sticks.

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“Quando estamos numa exposição desse género sem mais ninguém por perto, é provável que pensemos que somos uns sortudos”, prossegue Akane Okada, mas num museu como o de Tóquio, onde toda a arte foi “libertada da materialidade física”, o que se pretende é que os visitantes “compreendam como a arte digital pode alargar o conceito de arte até ao ponto em que repensem a relação entre humanos e natureza bem como a relação com o resto das pessoas e do mundo”.

Fruto da colaboração entre uma imobiliária (Mori Building) e de um colectivo de artistas (teamLab), o museu nasceu na baía de Tóquio, a 15 minutos de carro da principal porta de entrada para estrangeiros, o aeroporto internacional de Haneda.

São 10 mil metros quadrados (um pouco mais de metade da área expositiva do Museu d’Orsay ou dois terços do Museu do Prado), divididos em cinco áreas com 50 obras digitais e, portanto, “libertas dos constrangimentos da materialidade”. “Os sentimentos e pensamentos incorporados na arte que se expressa num suporte físico são directamente transferidos para os visitantes”, salienta Akane Okada, membro do colectivo teamLab.

Ou seja, ali, no interior daquele espaço nascido em cima de uma ilha artificial que foi criada séculos antes para defender Tóquio de ataques marítimos, é obrigatório mexer na arte, é permitido fotografar ou filmar e “a experiência de cada visitante depende do que fez o visitante que esteve ali um minuto antes de nós, ou do que faz a pessoa que está na outra ponta da sala.

Desta forma, estabelece-se um mundo sem fronteiras, onde a arte passa das salas para os corredores e não há separação entre obra e espectador - este torna-se parte da obra, influencia-a. Uma ideia que é central neste projecto que assenta numa exposição permanente apropriadamente baptizada Borderless (Sem Fronteiras). “Com esta alteração, a arte ganha também a capacidade de influenciar a relação entre os espectadores que se cruzam em frente a uma obra”, sintetiza o mesmo responsável.

No fim de contas, diz este colectivo de “ultra-tecnologistas” (segundo a definição dos próprios), “a importância desta mudança no nosso cérebro vai muito além do mundo da arte”. Como? “Nas cidades modernas, a presença de pessoas à nossa volta, bem como o comportamento delas, sempre imprevisível e fora do nosso controlo, é muitas vezes encarado como algo perturbador que temos de suportar. Isso é assim porque a presença de cada indivíduo não tem, só por si, qualquer efeito na cidade. Porém, acreditamos que se uma cidade inteira fosse ‘embrulhada’ na arte digital concebida pelo teamLab, as pessoas passariam a encarar a presença dos outros residentes numa perspectiva mais positiva”.