Presidente da Fundação Mapplethorpe critica demissão de João Ribas: "Foi pouco profissional"
O presidente do Conselho de Administração da Fundação Mapplethorpe, Michael Ward Stout, afirmou neste sábado que a demissão de João Ribas, director artístico do Museu de Serralves, foi "completamente inapropriada e pouco profissional", revelando ter ficado "chocado com a atitude".
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O presidente do Conselho de Administração da Fundação Mapplethorpe, Michael Ward Stout, afirmou neste sábado que a demissão de João Ribas, director artístico do Museu de Serralves, foi "completamente inapropriada e pouco profissional", revelando ter ficado "chocado com a atitude".
Em declarações aos jornalistas, à margem da visita guiada à exposição de Robert Mapplethorpe que decorreu no Museu de Serralves, no Porto, o presidente da fundação revelou ter ficado "completamente chocado" quando soube da demissão de João Ribas.
"O João ligou-me e avisou que se ia demitir, mas provavelmente apenas quando acabasse a exposição, ou seja, daqui a alguns meses. Conversei hoje [sábado] e ontem [sexta-feira] com a direcção [administração], que realmente tentou resolver com ele o problema. Mas tudo isto aconteceu tão rápido, de forma tão dramática, que devo confessar que o facto de ter anunciado a sua demissão aos meios de comunicação antes de anunciar à direcção, representa uma atitude muito egoísta da parte dele", sublinhou Michael Ward Stout.
Questionado sobre o acesso restrito a menores de 18 anos a duas salas da exposição, o director da Fundação frisou que a administração "apenas não queria que as fotografias mais desafiantes e 'chocantes' estivessem na galeria principal".
"Muitos museus por onde a exposição já passou pegaram nestas desafiantes fotografias e puseram-nas em diferentes espaços, colocando avisos semelhantes a estes. Nós [fundação] nunca impusemos a visão que temos sobre esta exposição a nenhuma entidade", salientou.
Quanto à retirada de cerca de 20 fotografias que pertenciam à exposição, Michael Ward Stout desmentiu o número, admitindo que as fotografias "mais desafiantes estão presentes" no museu e que João Ribas "apenas removeu duas". "Não sei porque é que o João retirou as fotografias, não faz sentido nenhum. Não sei por que o fez, e por que o fez desta forma", acrescentou.
O director artístico do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, João Ribas, apresentou na sexta-feira a demissão porque "já não tinha condições para continuar à frente da instituição", afirmou o próprio ao PÚBLICO.
A demissão surge depois de a administração ter limitado a maiores de 18 anos uma parte da exposição dedicada ao fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe, comissariada por Ribas, e de alegadamente ter imposto a retirada de algumas obras com conteúdo sexualmente explícito.
Num comunicado enviado às redacções este sábado pelas 13h, o Conselho de Administração da Fundação de Serralves garante que "não retirou nenhuma obra da exposição", composta por 159 fotografias, "todas elas escolhidas pelo curador", João Ribas.
A administração acrescenta ainda que "desde o início a proposta da exposição foi apresentar as obras de cariz sexual explicito numa zona com acesso restrito", afirmando que considerou "que o público visitante deveria ser alertado para esse efeito, de acordo com a legislação em vigor". Tal posição contradiz a posição explicitada anteriormente ao PÚBLICO pelo director do museu e curador da exposição, segundo o qual não haveria nesta retrospectiva de Robert Mapplethorpe “censura, obras tapadas, salas especiais ou qualquer tipo de restrição a visitantes de acordo com a faixa etária”, apenas um aviso sensato e informativo, colocado à entrada da primeira sala, para a existência de certos conteúdos. “É um procedimento museológico recorrente e tradicional neste museu. Já tinha sido assim noutras exposições, como a de Nan Goldin em 2002. Mas, como nessa ocasião, não será reservada uma sala à parte para as fotografias de teor mais sexual (...). Trata-se de conceber o museu como instituição livre de possibilitar um encontro com a obra que Robert Mapplethorpe desenvolveu durante 20 anos. Defende-se o direito de as pessoas poderem ter essa experiência. Um museu não pode condicionar, separar ou delimitar o acesso às obras. Dizer o que as pessoas podem ver ou não”, declarara então.