Contestação não evita recondução da administração da Ryanair
David Bonderman foi reeleito com 70,5% dos votos, mas perdeu apoios. O’Leary mantém-se na liderança com 98,5%, mas afirmou que não quer chefiar a Ryanair “para sempre”.
Uma parte dos accionistas retirou apoio ao presidente do conselho de administração, David Bonderman, que ainda assim foi reeleito com 70,5% dos votos. O’Leary mantém-se na liderança da comissão executiva com 98,5%, mas afirmou que não quer chefiar a Ryanair “para sempre”.
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Uma parte dos accionistas retirou apoio ao presidente do conselho de administração, David Bonderman, que ainda assim foi reeleito com 70,5% dos votos. O’Leary mantém-se na liderança da comissão executiva com 98,5%, mas afirmou que não quer chefiar a Ryanair “para sempre”.
Os accionistas da Ryanair reconduziram esta quinta-feira a administração da empresa, mas ficou evidente um ambiente de maior contestação na reeleição do presidente do conselho de administração, David Bonderman. Se agora teve o apoio de accionistas equivalente a 70,5% dos votos, há um ano tinha sido reeleito com 89%.
Entre todos os administradores, foi o segundo com menor apoio, embora ainda com uma esmagadora maioria (o administrador independente Kyran McLaughlin foi reconduzido com 66,8% dos votos). Bonderman, um milionário norte-americano de 75 anos (fundador da TPG Capital, esteve ligado à Uber até há pouco tempo), é considerado demasiado próximo do presidente executivo, Michael O’Leary, e ocupa o cargo há 22 anos, o que tira eficácia à função de supervisão inerente ao seu papel.
“Esperamos que o senhor Bonderman e a administração tenham recebido a mensagem que os investidores enviaram hoje, e que sejam anunciados planos para a sua saída”, afirmou Ian Grrenwood, presidente da Local Authority Pension Fund Forum (LAPFF, um dos accionistas), após a assembleia-geral que se realizou esta manhã. A Ryanair, disse, citado pela Reuters, “tem de recrutar um presidente do conselho de administração que fortaleça a estrutura de gestão ao trazer maior vigilância e ao desafiar o senhor O'Leary ”.
No caso de Michael O'Leary, de 57 anos e que lidera a transportadora aérea low cost irlandesa desde 1994, este manteve o apoio dos accionistas, ao ser reeleito com 98,5% dos votos, uma diferença marginal de 0,5 pontos percentuais face ao resultado do ano passado.
O’Leary tem sido bastante contestado no último ano, período que ficou marcado por problemas na companhia área como a falha que levou a vários cancelamentos em Setembro e Outubro de 2017 e problemas com trabalhadores. Sindicatos de pilotos e de pessoal de cabine a nível europeu têm contestado as práticas laborais da empresa e a gestão de O’Leary, com a realização de várias greves.
Gestão contestada por trabalhadores
Esta quarta-feira, na véspera da assembleia-geral, 13 estruturas de pilotos a nível europeu, onde se inclui o Sindicato dos Pilotos da Aviação da Aviação Civil (SPAC), pediram o afastamento de O'Leary.
Para estes pilotos, “independentemente das reivindicações de reconhecimento sindical e de melhorias do relacionamento com os funcionários, a abordagem feita sob a liderança de Michael O’Leary ao longo de mais de 20 anos permanece inalterada”. Sustentando que “a relação entre a gestão da Ryanair e os seus funcionários tornou-se totalmente disfuncional”, disseram que se está a “colocar em risco o sucesso contínuo da empresa”.
Além de afirmarem que perderam “toda a confiança” na actual liderança, os pilotos defenderam que as falhas são agravadas “por uma aparente falta de supervisão da administração, do presidente e de administradores não executivos”. A Ryanair, vincaram, “precisa de líderes competentes que estejam focados num futuro claro e diferente”.
No passado mês de Agosto também sete sindicatos europeus ligado ao pessoal de cabine, incluindo o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), se dirigiram aos accionistas através de uma carta aberta na qual acusaram os gestores da empresa de usar “o bullying como ferramenta de gestão”.
“Não acreditamos”, disseram então estes sindicatos, “que os actuais gestores da empresa reúnam a confiança dos seus trabalhadores ou as competências necessárias para realizar as alterações que se impõe” à companhia aérea.
Para o próximo dia 28 de Setembro está marcada uma nova greve dos tripulantes de cabine ligados à Ryanair, juntando trabalhadores da Bélgica, Holanda, Itália, Espanha e Portugal.
Esta quinta-feira, de acordo com a Bloomberg, O’Leary disse que ainda não sabia se queria assinar um novo contrato de cinco anos (o actual termina em 2019), conforme lhe foi solicitado pela empresa, ou se optava por um de 12 meses, renováveis. “Não desejo liderar a Ryanair para sempre”, afirmou o gestor, dono de 3,8% do capital da empresa. “Mas não pretendo sair nos próximos 12 meses. Atravessamos tempos interessantes e desafiantes, com os quais que quero lidar”, sublinhou.