Cafôfo em campanha irrita a oposição e os parceiros na câmara

Entrada de autarca na corrida às regionais madeirenses do próximo ano motiva queixas à direita e incomoda parceiro da coligação de esquerda que governa o Funchal.

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Cafôfo em Maio, no congresso do PS-Madeira Rui Gaudencio

Autarca ou candidato a presidente do governo regional? Paulo Cafôfo, o independente que lidera a Câmara do Funchal, à frente de uma coligação onde entram PS, BE e JPP, garante que pode ser as duas coisas.

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Autarca ou candidato a presidente do governo regional? Paulo Cafôfo, o independente que lidera a Câmara do Funchal, à frente de uma coligação onde entram PS, BE e JPP, garante que pode ser as duas coisas.

Mas, mesmo dentro da coligação que roubou a autarquia ao PSD em 2013 e repetiu em Outubro a vitória, agora com maioria absoluta, há quem não concorde. “O Bloco sempre esteve contra utilização dos cargos públicos para fins políticos, e não será agora que vai alterar a sua posição”, diz ao PÚBLICO o coordenador regional do BE, Paulino Ascenção.

Os bloquistas não têm gostado de ver Paulo Cafôfo, que será o candidato do PS-Madeira à presidência do governo madeirense nas eleições regionais do próximo ano, a participar activamente em acções partidárias socialistas. Algumas em concelhos vizinhos do Funchal. “Já dissemos pessoalmente ao presidente que esta actuação extravasa os princípios que orientam a coligação”, acrescenta Ascenção, deixando críticas tanto ao PS como ao PSD. “O Partido Socialista sempre criticou estas acções, e agora faz o mesmo”, aponta o dirigente do BE, Ascenção, acrescentando que “o PSD não tem moral nenhuma para falar, porque usa e abusa deste expediente”.

Já o JPP, que acompanha PS e BE na coligação que sustenta Paulo Cafôfo, é cauteloso. Filipe Sousa, presidente do partido, não deixa de criticar o aproveitamento de meios públicos para fins partidários, mas não aponta directamente o dedo ao autarca. "Se ficar provado que isto está a acontecer, sim; mas para já não temos conhecimento dessa situação", diz.

Paulino Ascenção não deixa de “reconhecer” alguma “justiça” nas críticas que tem ouvido sobre esta matéria. Os sociais-democratas foram os primeiros a falar do assunto, logo que, no arranque de Setembro, o PS começou a promover uma série de visitas partidárias a instituições sociais, culturais e a empresas, levando Cafôfo atrás. O projecto "A Madeira que nós queremos" começou centrado no autarca do Funchal, com a iniciativa "Diálogos com Paulo Cafôfo", e marcou a rentrée socialista.

O PSD não gostou e o desconforto subiu de tom nos dias seguintes. Rui Abreu, secretário-geral do partido, defende mesmo que Cafôfo devia apresentar a demissão, já que está sempre em campanha longe da cidade. Todos os dias, acusou, o candidato do PS abandona o Funchal para vestir a pele de candidato. Sempre, em “horário de expediente” e usando meios humanos e financeiros da autarquia.

Cafôfo devolve as críticas. “Julgamos pertinente que se questione o PSD, para que explique como diferencia expediente governativo de expediente partidário”, responde ao PÚBLICO o gabinete do autarca, dizendo que são os próprios sociais-democratas que têm “vindo a tratar o aparelho regional” como um instrumento partidário.

O PS vai mais longe. “O presidente do governo regional [Miguel Albuquerque] andou desaparecido, em viagens durante três anos, e só depois das autárquicas, quando viu as coisas mal paradas, é que decidiu voltar”, diz Victor Freitas, líder parlamentar do partido, enquanto o CDS junta-se às críticas ao autarca-candidato.

Rui Barreto, vereador no Funchal e líder regional dos centristas, diz que Cafôfo já tem a cabeça na Quinta Vigia (sede da Presidência do Governo Regional), e isso é “visível” na forma como a cidade está “abandonada”.

Mas Cafôfo insiste. A gestão municipal, diz, passa por uma equipa empenhada, não por uma só pessoa. E quanto à agenda diária do presidente da câmara, é feita com “total compromisso em trabalhar pelo desenvolvimento do Funchal e da Madeira”.