Sondagem mostra Haddad isolado no segundo lugar nas presidenciais brasileiras
A transferência de votos entre Lula e Haddad está a acelerar, mas Bolsonaro mantém-se firme na liderança. As duas candidaturas continuam a ser, porém, também as mais rejeitadas.
Uma semana depois de ter sido apresentado oficialmente como candidato presidencial pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad está a subir de forma acelerada nas intenções de voto, de acordo com a mais recente sondagem sobre a primeira volta das presidenciais no Brasil, a 7 de Outubro. A aparente definição com maior clareza dos candidatos mais bem posicionados para disputar a segunda volta deverá ter influência sobre o desenrolar da campanha.
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Uma semana depois de ter sido apresentado oficialmente como candidato presidencial pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad está a subir de forma acelerada nas intenções de voto, de acordo com a mais recente sondagem sobre a primeira volta das presidenciais no Brasil, a 7 de Outubro. A aparente definição com maior clareza dos candidatos mais bem posicionados para disputar a segunda volta deverá ter influência sobre o desenrolar da campanha.
De acordo com a sondagem do instituto Ibope, publicada na noite de terça-feira, o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro mantém-se na liderança, com 28%, uma ligeira subida face a estudos anteriores. Mas o grande destaque é o crescimento das intenções de voto em Haddad, que está agora nos 19%. Há uma semana, o ex-presidente da câmara de São Paulo tinha 8%, e engrossava um pelotão de candidatos que luta pelo segundo lugar.
Esta é a primeira sondagem que mostra o efeito da transferência do apoio ao ex-Presidente Lula da Silva em votos no candidato “petista”. Lula – que durante meses liderou os estudos de opinião – era o nome escolhido pelo PT para as eleições, mas viu a justiça eleitoral barrar-lhe a candidatura, em virtude da condenação em segunda instância pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Apesar de ter mantido o apoio em Lula até ter esgotado as vias legais para fazer a campanha seguir em frente, o PT vinha há meses preparando o caminho para que Haddad – até então candidato a vice-presidente de Lula – assumisse de imediato a liderança da candidatura. A estratégia do partido de esquerda para combater o desconhecimento do eleitorado face ao antigo autarca tem sido a de colar a sua imagem o mais possível à do ex-Presidente, contando com o benefício da sua popularidade.
A sondagem do Ibope mostra que, à medida que esse desconhecimento vai sendo desfeito, Haddad começa a perfilar-se como o candidato com mais possibilidade de chegar à segunda volta, marcada para 28 de Outubro.
Na perseguição ao “petista” estão os outros candidatos que até agora estavam em situação de empate técnico com Haddad. O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, de centro-esquerda, mantém-se no patamar dos 11 pontos, enquanto Geraldo Alckmin, que representa o chamado “centrão”, caiu dos 9% para os 7%. A ecologista Marina Silva continua em queda livre e está nos 6%, metade do valor que registava no início da campanha.
Novas estratégias
Os novos números – que podem vir a ser reforçados na quinta-feira quando for revelada a sondagem do Datafolha, o outro grande instituto de estudos eleitorais brasileiro – podem obrigar várias campanhas a ajustar as suas estratégias. Para os candidatos que alimentam esperanças de se intrometer na disputa pelo acesso à segunda volta, o grande desafio é abalar a consistência do apoio que os dois líderes parecem ter.
“Bolsonaro e Haddad são hoje os que apresentam a maior firmeza de votos”, explicou a directora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, em entrevista à rádio Eldorado, do Estadão, a edição online do jornal Estado de São Paulo. “Os seus eleitores afirmam em maior proporção, comparado com os restantes, que se trata de uma decisão definitiva”, acrescenta.
A generalidade das análises prevê que a promoção do voto útil, normalmente reservada para as fases finais das campanhas ou até mesmo apenas na segunda volta, seja visível de imediato. Para Bolsonaro, por exemplo, o reforço da sua votação pode passar pela apresentação da sua candidatura como a que melhor representa o sentimento “anti-PT”. O seu objectivo seria captar o voto de pequenas candidaturas à direita, como as de João Amoedo, Álvaro Dias ou Henrique Meirelles, que andam em torno de um ou dois pontos.
“Bolsonaro pode estar a um Amoedo ou a um Álvaro Dias de vencer no primeiro turno”, escreveu recentemente o filho do candidato, Flávio Bolsonaro, no Twitter.
O PT deverá manter a sua linha de reforçar a imagem de Haddad junto do seu eleitorado base, sobretudo no Nordeste, onde compete com Ciro Gomes. A campanha “petista” tem concentrado esforços nesta região, apesar de evitar críticas directas aos seus rivais na esquerda.
Gomes deverá reforçar a campanha contra o PT, aproveitando sobretudo para beneficiar da elevada taxa de rejeição do candidato “petista”, também herdada de Lula – apenas Bolsonaro é mais rejeitado pelo eleitorado. A resposta do candidato do Partido Democrático Trabalhista quando foi questionado nesta quarta-feira sobre se apoiaria Haddad na segunda volta é um bom exemplo do endurecimento da campanha: “Nem a pau, Juvenal.”
A mesma lógica deverá seguir a campanha de Alckmin, que deverá apostar na sua imagem de “anti-PT” e “anti-Bolsonaro” em simultâneo para beneficiar das respectivas rejeições. “Se a candidatura de Fernando Haddad crescer e se consolidar, com hipótese de chegar ao segundo turno, e a rejeição de Jair Bolsonaro continuar elevada, é possível que os ‘anti-petistas’, temendo pelo pior, optem por retornar ao ninho tucano [alcunha do PSDB, partido de Alckmin]”, escreve no El País Brasil o analista Oswaldo do Amaral.