Salvini processa por difamação ex-ministra negra que acusou a Liga de racismo

Kyenge foi comparada a um orangotango por dirigentes políticos do partido de extrema-direita e atacada com bananas. Denúncias de racismo valeram-lhe processo judicial do líder da Liga.

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Cécile Kyenge, eurodeputada e ex-ministra da Integração Reuters/ TONY GENTILE

Cécile Kyenge anunciou recentemente nas redes sociais ter sido notificada por um tribunal de Piacenza, no Norte de Itália, para responder a uma acusação de difamação interposta por Matteo Salvini. A antiga ministra da Integração e actual eurodeputada, do Partido Democrático, acusou a Liga de racismo, depois de ter sido comparada a um orangotango por um senador e por um deputado do partido de extrema-direita. 

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Cécile Kyenge anunciou recentemente nas redes sociais ter sido notificada por um tribunal de Piacenza, no Norte de Itália, para responder a uma acusação de difamação interposta por Matteo Salvini. A antiga ministra da Integração e actual eurodeputada, do Partido Democrático, acusou a Liga de racismo, depois de ter sido comparada a um orangotango por um senador e por um deputado do partido de extrema-direita. 

Depois de duas tentativas fracassadas por parte do ministro do Interior, a Justiça italiana decidiu aceitar uma terceira queixa por difamação, por entender que as declarações de Kyenge, proferidas numa entrevista em 2014, podem ser entendidas como um insulto a todos os membros da Liga.

“Agora que [Salvini] é ministro tem mais poder”, disse ao Guardian a eurodeputada natural da República Democrática do Congo que, em 2013, se tornou na primeira ministra negra de Itália, ao integrar o Governo de Enrico Letta.

Nessa entrevista de 2014, Kyenge lamentava uma publicação no Facebook do então deputado e dirigente regional da Liga, Fabio Rainieri, que incluía uma fotografia sua, adulterada para se parecer com um macaco. 

“Já defendi publicamente e em várias ocasiões que a Liga deve distanciar-se do racismo, condená-lo e penalizá-lo. Eles não só não o fizeram como têm pessoas condenadas por actos racistas em posições de autoridade. Isto significa que o partido partilha de visões racistas”, defendeu Kyenge.

Meses antes, numa reunião partidária, o senador e vice-Presidente do Senado Roberto Calderoli já tinha dito que “quando vê imagens de Kyenge” não conseguia “pensar noutra coisa senão nas semelhanças com um orangotango”. “E gosto de animais, como todos sabem”, zombara na altura o senador.

A própria Kyenge – que em 2013 chegou a ser recebida num comício em Roma com bananas, atiradas por pessoas ligadas a movimentos da extrema-direita – processou Carderoli e outros dez políticos da oposição por racismo e calúnias.

Caso seja declarada culpada no acaso que agora entrou em tribunal, a eurodeputada pode ser obrigada a pagar 150 mil euros à Liga.