May avisa: "A alternativa ao meu acordo é não haver acordo"
A primeira-ministra britânica continua a defender o seu plano e mantém-se irredutível apesar da divisão dentro do próprio partido.
A primeira-ministra britânica Theresa May deixou um aviso ao Parlamento do Reino Unido: ou aceita o seu acordo de “Brexit” ou não haverá acordo algum. As declarações de May foram feitas no domingo, em entrevista à BBC e são também um recado à facção mais rebelde do próprio partido. A entrevista completa será exibida na noite desta segunda-feira.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A primeira-ministra britânica Theresa May deixou um aviso ao Parlamento do Reino Unido: ou aceita o seu acordo de “Brexit” ou não haverá acordo algum. As declarações de May foram feitas no domingo, em entrevista à BBC e são também um recado à facção mais rebelde do próprio partido. A entrevista completa será exibida na noite desta segunda-feira.
O Partido Conservador está profundamente dividido em relação à proposta apresentada a Bruxelas pela primeira-ministra e estarão a preparar-se para votar contra o acordo final do “Brexit”.
“Acredito que o Parlamento irá votar a favor de um acordo, porque as pessoas irão perceber a importância de manter uma boa relação comercial com a União Europeia, e que nos dá a liberdade de aproveitar os benefícios do ‘Brexit’”, argumentou May.
A primeira-ministra vincou que dificilmente o Reino Unido conseguirá um acordo melhor do que o que propôs. “Achamos mesmo que, depois de toda a negociação nos últimos meses, o Parlamento [britânico], ao dizer que não, conseguirá um acordo melhor? Acham mesmo que a União Europeia nos irá apresentar um acordo melhor do que este nesta fase?”
May está consciente da divisão entre os deputados conservadores, que discutem formas de afastar a líder do poder, mas mantém-se determinada em aprovar o chamado “plano Chequers”, sem qualquer alteração por parte dos deputados britânicos. “A alternativa é não haver acordo”, disse.
Um dos críticos é o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Boris Johnson. Eurocéptico e defensor do “hard ‘Brexit’ (sem acodo), Johnson demitiu-se em Julho, devido a divergências com a orientação política do acordo de May .
Num texto no Telegraph, assinada este domingo, Johnson voltou a reprovar o acordo de saída proposto pelo Reino Unido e escreveu: “Será a primeira vez desde 1066 [invasão do Reino Unido pela Normandia] que os nossos líderes vão deliberadamente ratificar uma imposição estrangeira”.
Boris Johnson reprova também a estratégia em relação à Irlanda e acredita que Bruxelas está interessada em anexar a Irlanda do Norte, através da criação de uma fronteira física. A primeira-ministra defende que, para evitar a construção de uma fronteira e de pontos de controlo entre os dois países, deverá ser garantida a livre circulação de bens entre a União Europeia e a ilha da Irlanda.
Na última semana, a Reuters tinha avançado que Bruxelas está a trabalhar num protocolo com a Irlanda como parte de uma estratégia conduzida pelo negociador da Comissão Europeia para o “Brexit”, Michel Barnier, de forma a facilitar a assinatura do acordo. A proposta deverá passar pelo compromisso de que os controlos de circulação de bens não aconteçam entre as duas partes da Irlanda, cujo Norte faz parte do Reino Unido.
A saída do Reino Unido da União Europeia está agendada para 29 de Março de 2019, dois anos depois do arranque oficial do processo e quase três anos depois do referendo em que 52% aprovaram a saída do Reino Unido.
Um cenário sem acordo acarreta dificuldades para os britânicos, especialmente no que diz respeito à circulação de bens, aumento da burocracia, atrasos nas alfândegas, custos associados a pagamentos por cartões de crédito e quebras consideráveis no fluxo de tesouraria das empresas.
Uma sondagem da BBC revela que a maioria dos britânicos considera que o impacto do “Brexit” vai ser negativo.
FMI: com ou sem acordo, economia vai ressentir-se
A economia do Reino Unido vai enfraquecer se o país abandonar a União Europeia (UE) sem um acordo com Bruxelas, e mesmo um entendimento deixará o país financeiramente pior, avisou o Fundo Monetário Internacional (FMI), nesta segunda-feira.
O FMI estima que a quinta maior economia do mundo cresça 1,5% do PIB este ano e em 2019 – menos do que a Alemanha e a França. Isto se for alcançado um acordo vasto para o "Brexit" – um valor menor do que o crescimento de 1,75% previsto caso o país não saísse da UE.
Se não houver um acordo, a economia britânica entrará em contracção, disse a directora do FMI, Christine Lagarde. “Uma saída mais disruptiva terá um resultado muito pior”, sustentou Lagarde, durante a apresentação anual do relatório sobre a economia britânica.
"Deixem-me ser clara: comparado com o mercado único fluído de hoje, todos os cenários prováveis para o "Brexit" terão custos para a economia e, numa menor extensão, também para a UE", sublinhou. “Quanto mais impedimentos ao comércio houver na nova relação, mais custos terá. Isto deveria ser muito óbvio, mas parece que, por vezes, não é.”
Segundo o FMI, há um “desanimador” conjunto de assuntos que ainda precisam de ser negociados antes do "Brexit". Mas Lagarde é “uma optimista desesperada”: “Espero e rezo que haja um acordo entre a União Europeia e o Reino Unido.”