Portugal e Angola condenados a entender-se
Esta é uma boa oportunidade para que os dois países enterrem o passado recente, aprofundem as suas relações e olhem para o futuro com entusiasmo.
A tensão diplomática que enregelou as relações entre Portugal e Angola acabou como só podia acabar: num acordo de paz que promete uma nova e promissora fase no diálogo entre os dois países. Sabia-se que, mal fosse enterrado o “irritante” caso Fizz que levou o Ministério Público a insistir numa ambição irrealizável (o julgamento do ex-primeiro ministro Manuel Vicente nos tribunais portugueses), os dois países estariam condenados a um abraço porque ambos precisam um do outro. Portugal precisa do investimento angolano e ainda mais do seu mercado para alimentar as exportações e Angola precisa dos bens e equipamentos que Portugal lhe fornece e, ainda mais, da tecnologia e de quadros nacionais para desenvolver a sua débil infra-estrutura.
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A tensão diplomática que enregelou as relações entre Portugal e Angola acabou como só podia acabar: num acordo de paz que promete uma nova e promissora fase no diálogo entre os dois países. Sabia-se que, mal fosse enterrado o “irritante” caso Fizz que levou o Ministério Público a insistir numa ambição irrealizável (o julgamento do ex-primeiro ministro Manuel Vicente nos tribunais portugueses), os dois países estariam condenados a um abraço porque ambos precisam um do outro. Portugal precisa do investimento angolano e ainda mais do seu mercado para alimentar as exportações e Angola precisa dos bens e equipamentos que Portugal lhe fornece e, ainda mais, da tecnologia e de quadros nacionais para desenvolver a sua débil infra-estrutura.
Insistir no balanço de quem ganhou ou perdeu no braço-de-ferro que durou anos é por isso um exercício irrelevante: perdeu Angola e perdeu Portugal. Desenhar um novo quadro de cooperação estratégica, abolir a dupla tributação, facilitar a livre circulação de pessoas ou colocar o saber da agronomia portuguesa à disposição de Angola é pelo contrário a garantia de que os dois países podem ganhar. Num momento de debilidade que contraria o cenário de 2012 ou 2013, quando Angola se tornou no nosso quarto mercado externo, acolheu milhares de portugueses e injectou milhares de milhões de euros em participações qualificadas na banca ou na engenharia, Portugal tem um papel particularmente importante a desempenhar na procura de soluções para a actual crise angolana.
Angola parece querer deixar de ser um Estado cleptocrata (ainda que a corrupção ou a sua prática democrática exijam mais esforços a João Lourenço e ao MPLA) e perspectiva um novo modelo de desenvolvimento sustentado na diversificação da sua economia. Produzir mais para depender menos do exterior exige novos investimentos, saber-fazer e um modelo de Estado mais aberto, transparente e amigo do capital estrangeiro. Nesse desafio, os angolanos sabem que Portugal dispõe de condições únicas para se tornar num parceiro fundamental. A ida de António Costa a Luanda e a vinda a Lisboa de João Lourenço, em Novembro, são por isso uma boa oportunidade para que os dois países enterrem o passado recente, aprofundem as suas relações e olhem para o futuro com entusiasmo.