Angola: economia ainda está frágil, mas muitas empresas vêem um mar de oportunidades
Exportações de Portugal para Angola levam queda de 15% até meio do ano. Para as empresas, a aposta de Angola na produção local pode abrir caminho a novos negócios
Das máquinas aos químicos, dos alimentos aos bens agrícolas, poucos são os produtos portugueses que não estão em queda nas vendas para Angola. O ambiente económico em Luanda é ainda o de uma economia débil, pressionada pela escassez de divisas. E apesar de se esperar que o país chegue ao fim do ano a crescer já mais de 2%, o andamento da actividade económica na primeira metade de 2018 ainda dá sinais dessa fragilidade. E esta está ainda bem presente nos números do comércio com Portugal: as exportações portuguesas para o mercado angolano levam uma queda de 15,5% até Junho.
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Das máquinas aos químicos, dos alimentos aos bens agrícolas, poucos são os produtos portugueses que não estão em queda nas vendas para Angola. O ambiente económico em Luanda é ainda o de uma economia débil, pressionada pela escassez de divisas. E apesar de se esperar que o país chegue ao fim do ano a crescer já mais de 2%, o andamento da actividade económica na primeira metade de 2018 ainda dá sinais dessa fragilidade. E esta está ainda bem presente nos números do comércio com Portugal: as exportações portuguesas para o mercado angolano levam uma queda de 15,5% até Junho.
Máquinas e aparelhos são os produtos que Portugal mais vende (181 milhões em seis meses) mas este é um segmento que apresenta uma queda significativa nas exportações (12,8%) em relação ao que acontecia em 2017. Rafael Campos Pereira, da Associação dos Industriais Metalúrgicos e Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP) diz que o pico das exportações aconteceu em 2013 e que nos anos seguintes o volume das exportações ficou reduzido a um quarto disso.
“No ano de 2017 ficámos muito satisfeitos com o crescimento alcançado, de cerca de 25%, mas este ano em 2018 já invertemos essa tendência e já estamos a cair, de novo”, contabilizou. A tendência é de queda generalizada: as vendas de produtos agrícolas e químicos caem mais de 20%, os bens alimentares descem 16%, as pastas de papel recuam 13%. Nos grandes grupos de produtos exportados, só há subidas nas vendas de veículos e material de transporte (13%), combustíveis minerais (25%) e na madeira e cortiça (14%).
Mas apesar de as relações económicas se ressentirem da crise no país africano, em particular com a desvalorização do kuanza e com a escassez de divisa, e também com a instabilidade que se instalou nas relações políticas entre os dois países, o que levou ao afastamento de alguns investidores, a verdade é que Angola continua a ser um mercado de oportunidades para as empresas portuguesas.
Pedro Queiroz, da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares diz que Angola continua a ser um mercado estratégico para as empresas portuguesas, que em 2017 exportaram cerca de 461 milhões de euros para aquele país africano (sendo o óleo de soja e os enchidos as duas categorias de produtos mais exportados). "Entendemos que se o Governo angolano facilitasse a colocação de alguma divisa em sectores com potencial de crescimento, como é o alimentar, estaria certamente a dar nova confiança aos investimentos nacionais em Angola e a contribuir para o crescimento da economia angolana”, refere Pedro Queiroz.
O que parece já certa é a intenção de acabar com a dupla tributação nos dois países, bem como arrancar com a regularização das dívidas de Angola a empresas nacionais (cujo valor não está ainda integralmente apurado, mas estima-se que ronde os 500 milhões de euros). Estes são dois dos documentos mais importantes da lista de acordos a fechar no âmbito da visita oficial do líder do executivo português a Angola.
A expectativa de que a economia recupere nos próximos anos. Mesmo que o Governo de João Lourenço preveja que só em 2022 chegue ao ritmo anterior à crise, dá optimismo às empresas que não deixam de elencar outros aspectos que poderiam acelerar esse crescimento e minimizar as muitas ineficiências que ainda existem no relacionamento entre os dois países.
Pedro Galvão, presidente do Conselho Português de Carregadores (CPC), dispensou referir-se aos problemas de transferência de capital ou de disponibilidade de divisas – “são problemas sentidos por todos” – para se referir antes à necessidade de serem eliminados custos de contexto.
“Entendemos que seria benéfico eliminar taxas que são cobradas pelos carregadores angolanos e que não servem para melhorar o circuito logístico. E era importante melhorar todas as infra-estruturas. O negócio da importação em Angola não tem grandes riscos, porque reflecte os custos no consumidor final. Mas nós não nos preocupamos apenas com exportar. Procuramos criar condições para que o produto possa ser produzido no mercado interno”, afirma Pedro Galvão, que preside o CPC em representação da Secil.
Paulo Nunes de Almeida, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), reforça a ideia de que “a aposta dos angolanos na produção local, não só para o seu mercado, mas também para países vizinhos, pode gerar grandes oportunidades para os empresários e empresas portuguesas”.
Para Portugal, a importância de Angola é significativa: durante a crise da troika, chegou a ser quarto cliente de Portugal nas exportações de bens (em 2013 e 2014) mas daí em diante foi perdendo importância; logo em 2015 caiu para sexto lugar do top dos principais clientes e passou entretanto a oitavo em 2016 e 2017. E é nesse lugar que se mantém nos primeiros seis meses deste ano.
A Galp é uma das empresas portuguesas com forte ligação a Angola. A petrolífera – que tem entre os seus accionistas de referência a sociedade Esperaza, detida pela petrolífera angolana Sonangol e por Isabel dos Santos, filha do antigo presidente José Eduardo dos Santos – está presente naquele mercado através da distribuição de combustíveis e lubrificantes (através da Petrogal Angola), mas também da exploração e produção petrolífera.
No final de Julho, a empresa liderada por Carlos Gomes da Silva anunciou o arranque de uma nova unidade de produção em águas ultra-profundas, num projecto em consórcio com a Sonangol e a Total. A Galp tem 5% deste consórcio, que prevê um investimento total de 11.500 milhões de euros no offshore angolano. com Ana Brito